FPI do Rio São Francisco visita Casa de Culto n’zo Maza Kokueto, em São Sebastião

Casa de Axé promove ações culturais e socioambientais voltadas para as crianças e adolescentes

Por Ascom FPI 28/11/2024 14h02 - Atualizado em 28/11/2024 14h02
Por Ascom FPI 28/11/2024 14h02 Atualizado em 28/11/2024 14h02
FPI do Rio São Francisco visita Casa de Culto n’zo Maza Kokueto, em São Sebastião
FPI do Rio São Francisco visita Casa de Culto n’zo Maza Kokueto, em São Sebastião - Foto: Ascom FPI

No âmbito da Fiscalização Preventiva Integrada (FPI) do Rio São Francisco, a equipe de Comunidades Tradicionais e Patrimônio Cultural esteve pela primeira vez na Casa de Culto à Ancestralidade Afro-brasileira e Indígena “n’zo Maza Kokueto”, conhecida como ONG Ciranda da Vida. Localizada no povoado Canabrava, em São Sebastião (AL), a Casa representa um espaço de resistência, fé e transformação social.

O grupo foi recebido por Fernando Luiz, o Pai Kayá, babalorixá e líder espiritual da Encantaria e da Jurema Sagrada. Com uma presença inspiradora, Pai Kayá não apenas preserva as tradições de matriz africana e indígena, mas também lidera projetos comunitários e socioeducativos voltados à inclusão social, ao combate à violência e ao respeito ao meio ambiente.

Acompanhando a visita, os procuradores da República Érico Gomes e Lucas Horta, membros do Núcleo de Meio Ambiente do MPF em Alagoas, reforçaram o valor das ações integradas para fortalecer comunidades tradicionais e disponibilizaram os canais de comunicação com a instituição. “A valorização do patrimônio cultural e das práticas religiosas é essencial para assegurar o respeito à diversidade e a proteção dos direitos fundamentais dessas comunidades”, afirmou Érico Gomes.

Pai Kayá compartilhou os desafios que enfrenta desde que chegou em São Sebastião, há 5 anos. Além de suas funções como babalorixá, ele se dedica à enfermagem e estuda psicologia, buscando ampliar o alcance de sua atuação. “Aqui enfrentamos muitos desafios, especialmente o preconceito religioso. Não espero ser aceito, quero apenas poder desenvolver meu trabalho com crianças e adolescentes. Precisamos dialogar sobre violência, racismo estrutural e dar apoio às vítimas, especialmente mulheres e crianças. Mas, muitas vezes, não encontramos respostas do poder público”, desabafou.

A ONG Ciranda da Vida acolhe cerca de 50 frequentadores regulares, vindos de municípios vizinhos e até de Sergipe. Além das atividades espirituais, promove ações como hortas comunitárias, oficinas de música e reforço escolar, sempre com o propósito de cultivar o respeito à ancestralidade, à solidariedade e à sustentabilidade.

Desafios

A comunidade enfrenta dificuldades estruturais que refletem as desigualdades históricas da região, como a ausência de água encanada e de saneamento básico. “Ainda há muito por fazer, mas seguimos mobilizados em busca de soluções, seja por meio de convênios ou parcerias independentes”, afirmou Pai Kayá.

A ONG também luta para enfrentar questões sociais delicadas, promovendo rodas de conversa, palestras e eventos culturais voltados ao combate à violência de gênero e ao racismo estrutural. Apesar do esforço, muitas vezes esbarra na falta de apoio institucional e na ineficiência das respostas às demandas policiais.

Ivan Farias, coordenador da equipe de Comunidades Tradicionais e Patrimônio Cultural da FPI e antropólogo do MPF, destacou a força do trabalho realizado: “Essa Casa é um espaço de resistência e transformação. É essencial que possamos apoiar a luta dessas comunidades, que promovem a preservação da natureza, o fortalecimento comunitário e o respeito à diversidade religiosa.”

No futuro

Com um compromisso contínuo com a preservação cultural e ambiental, a ONG Ciranda da Vida busca apoio para realizar a ampliação do espaço de atendimentos no Candomblé, além de sonhar com a produção de um curta-metragem que registre e valorize as histórias e tradições da comunidade. Para Pai Kayá, o projeto é uma oportunidade de dar voz às narrativas locais e fortalecer os vínculos das novas gerações com suas raízes culturais.

Em um gesto de apoio, os procuradores Érico Gomes e Lucas Horta anunciaram em primeira mão que o MPF realizará, em breve, um chamamento público para que entidades públicas ou privadas sem fins lucrativos cadastrem-se para receber valores pecuniários ou bens materiais provenientes de acordos extrajudiciais, como Termos de Ajustamento de Conduta ou Acordos de Não Persecução Penal, ampliando oportunidades de financiamento e fortalecimento das comunidades locais.

Conduzida pela equipe de Comunidades Tradicionais e Patrimônio Cultural, que é formada por técnicos do Ministério Público Federal (MPF), Rede de Mulheres de Comunidades Tradicionais, Secretaria da Mulher e dos Direitos Humanos de Alagoas (Semudh), Instituto do Meio Ambiente (IMA) e Tribunal Regional Eleitoral de Alagoas (TRE/AL), a visita reafirmou a importância da união de esforços para a promoção de direitos, a preservação do patrimônio cultural e a construção de um futuro mais justo, inclusivo e sustentável.