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Pajé da etnia Xukuru- Kariri será o primeiro indígena a receber título de Doutor Honoris Causa da Ufal

Por Ascom Ufal 29/05/2025 11h11
Por Ascom Ufal 29/05/2025 11h11
Pajé da etnia Xukuru- Kariri será o primeiro indígena a receber título de Doutor Honoris Causa da Ufal
Antônio Celestino da Silva, da etnia Xukuru- Kariri - Foto: Assessoria Diocese de Palmeira dos Índios

A Universidade Federal de Alagoas (Ufal) concede, pela primeira vez, o título de Doutor Honoris Causa a um indígena: Antônio Celestino da Silva, da etnia Xukuru- Kariri, do município de Palmeira dos Índios. Ele é uma referência nas relevantes lutas travadas para movimento, organizações indígenas e indigenistas de Alagoas, do Nordeste e do Brasil. Presidida pelo reitor Josealdo Tonholo, a solenidade será neste sábado, 31, a partir das 9h30, no Auditório Graciliano Ramos, na sede do Campus do Sertão, em Delmiro Gouveia.

O nome de Antônio Celestino foi apresentado pelo Conselho do Campus do Sertão, defendido e aprovado pelo Conselho Universitário (Consuni), instância máxima da Universidade. O professor José Ivamilson Barbalho, do Campus do Sertão, foi o organizador do documento de defesa para a outorga do título ao homenageado. Na defesa de Celestino, Barbalho destacou como foco principal “Uma vida que se dedica a outras vidas”. Isso permeou a proposta com o nome do agraciado, que também já foi homenageado pelo governo estadual com o título de “Patrimônio Vivo do Estado de Alagoas”.

Na trajetória de uma vida dedicada a outras vidas, Antônio Celestino participou, por muitos anos, das assembleias das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), mantidas pela ala mais progressista da igreja católica. Em 1992 foi também condecorado pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) com medalha de honra, devido à sua coerência entre fé e política.

Antônio Celestino, um dos protagonistas do filme Anel de Tucum, vem travando várias lutas em defesa da vida de uma forma geral, por isso mêsmo é considerado um humanista. Ele foi idealizador e organizador da Articulação Indígena Leste e Nordeste (Apoime) e esteve presente em todas as assembleias internas de seu povo. Em toda sua experiência e vivência, constitui-se num ativo colaborador de atividades, a exemplo de palestres, assessoria, depoimentos.

O homenageado também exerceu forte presença nos Conselhos de Saúde e Educação Indígena no âmbito estadual e nacional, assim como, tem estado presente nos momentos de retomada de territórios de seu povo e de outras etnias.

Referência

Antônio Celestino tem 87 anos, nasceu em Palmeira dos Índios e é filho do cacique Alfredo Celestino da Silva e Antônia Raquel da Conceição. Ele tem sete filhos e, desde muito cedo, precisou trabalhar na agricultura junto com seus pais, de quem recebeu orientação e valores para trilhar na vida. Também realizou diversos trabalhos para autossustentação da família como vaqueiro, pintor e serviços gerais.

Ao longo dos anos, foi se destacando no campo da oralidade, passando a ser referência nos processos de luta do povo Xukuru-Kariri e um expoente junto aos povos indígenas, dentro e fora de Alagoas. De acordo com o documento defendido pela equipe do Campus do Sertão, durante o processo de promulgação da Constituição Federal de 1988, Antônio Celestino esteve à frente da organização de seu povo, participando, nas muitas e difíceis idas ao Distrito Federal, para conquista do Capítulo 231, sobre os Direitos Indígenas.

Celestino é um dos responsáveis pela realização das primeiras assembleias entre os povos indígenas de Alagoas, Sergipe e Pernambuco, na década de 1980, e tornou-se pajé durante o processo de retomada da terra Mata da Cafurna (1979), destacando-se como expoente de pautas em defesa da natureza, da educação comunitária, da homologação do território, de uma ação em defesa e proteção das crianças e jovens.

“Reconhecidamente, é a liderança mais expressiva atual entre as novas gerações de seu povo, devido à sua coragem em defendê-los, de dizer a verdade. Portador de uma inquebrantável coerência e inabalável convicção na luta a favor de todas as pessoas, especialmente os mais pobres. Sua inclinação política sempre foi o de colocar os interesses coletivos como pauta prioritária na luta. Tornou-se mensageiro profundo de um pensar e agir movido pela ética do bem viver”, aponta o documento apresentado pelo Campus do Sertão.

O documento destaca ainda: “Antônio Celestino virou espelho para o surgimento de outras lideranças. Hoje, com seus 87 anos e sua sabedoria ancestral, compreende que seu povo ainda é vítima de muitas injustiças, que as lutas antigas se prolongam nas atuais, que não é possível renovar a história sem formação da consciência coletiva. Trava contínuo combate contra o fazer e ser do modelo individualista de vida; coloca-se sempre ao lado dos injustiçados e contra a malvadeza dos opressores, suas violências e preconceitos”.

Sem ter frequentado escolas, Antônio Celestino se destaca como um dos últimos guardiões da memória Xukuru-Kariri, dispondo de uma visão profunda, racional, poética, mística, teológica, filosófica e de denúncia sobre os mais diferentes assuntos da atualidade. Sua visão como grande humanista é o fortalecimento interno do seu povo.

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