A criação da federação entre o Progressistas (PP) e o União Brasil, batizada de União Progressista Brasileira (UPB), foi oficializada, mas seus bastidores revelam uma intricada rede de articulações que envolveu jantares luxuosos, negócios pecuaristas milionários e acordos de poder nos estados.

O protagonista dessa trama é o deputado federal Arthur Lira (PP-AL), que, mesmo fora da liderança nacional da federação, foi peça-chave para concretizar o acordo político.

Em dezembro de 2022, em plena presidência da Câmara dos Deputados, Arthur Lira transferiu 120 bezerros da raça Nelore ao então vice-presidente do União Brasil, Antônio Rueda, atual presidente da sigla. A transação, que pode ter ultrapassado R$ 320 mil, foi realizada poucos meses após um jantar exclusivo entre os dois líderes, em Barra de São Miguel, litoral alagoano.

Conforme documentos da Agência de Defesa e Fiscalização Agropecuária de Pernambuco (Adagro), as 120 cabeças de gado partiram de três propriedades de Lira, incluindo a Fazenda Santa Maria, em São Sebastião, no Agreste alagoano, e foram entregues na Engenho Tambor, em Timbaúba (PE), pertencente a Rueda, nos dias 21 e 26 de dezembro.

A movimentação ocorreu em meio às negociações que pavimentaram o caminho para a formação da União Progressista, hoje com 109 deputados federais e 14 senadores, tornando-se a maior força partidária do país.

Em Alagoas, a federação já nasce como segunda maior força, com 27 Prefeituras, atrás apenas do MDB, que lidera com 70 administrações municipais. Maceió continua nas mãos do PL, com o prefeito JHC, enquanto Republicanos e PSDB completam o mapa político no comando das Prefeituras do Estado.

Apesar da transação de dezembro de 2022, as tratativas já haviam iniciadas em setembro de 2022, em um badalado restaurante à beira-mar em Barra de São Miguel, tradicional reduto político de Arthur Lira. Foi nesse encontro que os líderes selaram a aproximação entre PP e União Brasil, que viria a ser consolidada oficialmente mais de dois anos depois.

Embora o União Brasil e o PP aleguem que a negociação da federação seguiu critérios políticos e eleitorais, a transferência de gado gerou suspeitas nos bastidores de Brasília. Segundo Rueda, a operação foi "uma transação comercial legítima entre produtores rurais". Arthur Lira, por outro lado, preferiu o silêncio sobre o episódio.

Mesmo tendo sido o arquiteto silencioso da federação, Arthur Lira ficou de fora da liderança nacional da UPB. Após disputas internas, ficou acordado que a presidência da federação seria exercida em rodízio entre Antônio Rueda e Ciro Nogueira (PP), com alternância a partir de 2026.