Hoje é o dia do quadrinho brasileiro. As hq's, infelizmente, são uma mídia muito subvalorizadas entre nós. Não que outras mídias de leitura vendam tanto, mas sinto que as hq's, em especial, encontram um terreno muito mais árido no mercado consumidor brasileiro. 

Em contrapartida, o país está lotado de artistas incríveis. Um dos meus preferidos é o Vitor Cafaggi, que ficou famoso entre os leitores de gibi após fazer a brilhante releitura da Turma da Mônica ao lado de sua irmã, Lu. As graphic novels "Laços", "Lições" e "Lembranças" foram uma coisa linda e aclamadíssima, mas só existiram graças ao trabalho desses dois irmãos, que já falavam por si só. 

O Vitor, que é o artista foco desse texto, já havia se consolidado com sua tirinha "Valente", história sobre um cachorrinho em busca do amor verdadeiro e enfrentando problemas normais de jovens normais, como faculdade, términos de relacionamento, paixões frustradas e etc.

Entretanto, meu trabalho preferido do autor é o que eu mais indico: As Incríveis Aventuras do Pequeno Parker.

Se você é fã do Homem-Aranha, vai amar essa hq. Se não é, é provável que ame também. Uma referência ou outra você não vai pegar, mas isso é um extra para a experiência da leitura. A tirinha se basta.
Pra ser sincero faz tempo que eu não releio, mas devo ter lido do início ao fim umas 4 vezes.

É uma tirinha linda, leve, delicada e engraçada, sobre a infância que Vitor imagina que Peter Parker teve. O Homem-Aranha nós já conhecemos, e o Peter, quando adulto, também, mas a visão que Vitor tem do pequeno Parker (daí o nome da tira) é cativante demais. 

Peter é um menino introvertido, tímido, mas muito corajoso, e da sua forma e com ajuda de seus tios, tenta desvendar o mundo à sua volta. Temos por exemplo, tiras sobre ele descendo a rua de trenó, temos uma tira sobre ele observando uma aranha fazer sua teia e ficando encantado com a beleza natural disso, temos tira sobre ele descobrindo a fotografia, temos tira sobre ele tentando conquistar a "menininha ruiva".

Muitas vezes temos situações engraçadíssimas e super fofas sobre coisas que também passamos quando crianças, como ganhar uma roupa que nos agrada e não querer tirar ela do corpo nunca mais, ou tentar mudar um ou outro aspecto da personalidade pra ser aceito ou respeitado na escola.

Já ouvi gente dizer que essa hq é uma mistura de Espetacular Homem-Aranha (desenho animado de 2008), Calvin e Haroldo e o Charlie Brown do Schulz. Eu diria que isso está certo e errado ao mesmo tempo. Todas essas referências compõem a obra, mas ela vai além disso, e explora nuances das emoções de uma infância que não nos é estranha, mesmo que não seja familiar. 

Às vezes, lendo, temos a sensação de saudade, mesmo que não tenhamos vivido nada daquilo. Talvez isso se deva ao que parece ser um reencontro. Achamos na tira detalhes novos e facetas mais do que carismáticas de um personagem que, pra maioria de nós, é um velho amigo.

Lendo hoje e sabendo que aquele foi o primeiro quadrinho do Cafaggi, parece até óbvio que seus trabalhos posteriores seriam o que foram.

A obra está completa no Blog do autor (punyparker.blogspot.com.br), e se encerra em 140 tiras. Você pode ler de graça quando quiser. Dá um pulinho lá agora, se for o caso.