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E essa história de que o "comunismo voltou", hein? Kkkkkk Deixa eu te indicar um filme
Já assistiu "Adeus, Lenin"? Porque vai ser minha indicação de hoje.
A gente tá vindo de 4 anos de um governo federal bem complicado. Se você estudou sobre as características de governos autoritários, sabe do que eu estou falando.
Um dos elementos que constituem o perigo de governos assim, é a metodologia de seita. Entende? Isolar o seguidor do resto do mundo. Lançar a ideia de "nós contra eles".
O ex-presidente, em toda sua trajetória federal, tentou deslegitimar o trabalho da imprensa, se pôs num suposto papel de vítima e convenceu seus seguidores a não consumir informação de nenhum outro veículo que não fosse ele próprio.
Você viu no que isso deu. Tudo o que chegava no grupão do zap era recebido como verdade. Acha que eu tô exagerando? Procure o vídeo dos manifestantes golpistas comemorando a prisão do então ministro Alexandre de Moraes - spoiler: ele nunca foi preso.
Uma das falsas informações que foram aceitas integralmente pelos seguidores foi a de que atual governo eleito iria instituir um regime comunista no Brasil kkkkkkk
Então esse texto aqui é pra você, que pode ter acreditado nessa lorota, ou para aquele seu tio que foi alimentado diariamente por fake news.
Primeiro eu recomendo que você leia a literatura referente ao comunismo. Não pra que você faça parte de um movimento nem nada do tipo. Eu, inclusive, não faço nem o quero. Mas é necessário que, antes de falar sobre algo, saibamos do que estamos falando. O "manifesto do partido comunista" é curtinho e fácil de ler. "O Capital" já não é. Comece pelo manifesto.
E caso você não queira ou não tenha disponibilidade de ler, vou te explicar rapidinho o que é comunismo, pode ser?
No capitalismo, classicamente, existem a burguesia e o proletariado. O dono dos meios de produção - usineiros ou latifundiários - e os donos da força de trabalho - seus empregados. Os empregados são os reais produtores, mas não ganham mais do que o suficiente pra sobreviver. Os patrões, por sua vez, recebem o lucro quase que integralmente. A revolução socialista seria a tomada dos meios de produção, e o comunismo pleno, seria o governo do povo pelo povo e para o povo. O proletário, agora em conjunto, seria o dono da indústria e do campo, e em conjunto, dividiram tudo o que fosse produzido. Nesse contexto não existe propriedade privada nem o estado como conhecemos hoje.
Percebe como você foi enganado? Nenhum político pretende extinguir a propriedade privada, da qual ele se utiliza, nem o estado, do qual ele faz parte. [Muito menos o Lula, que é o famoso "político Ronaldinho" (olha pra esquerda e toca pra direita). Veja, por exemplo, o quanto os bancos lucraram nos governos dele].
Quando lhe dizem que o "comunismo voltou", existem dois erros aí. Um é que ele NUNCA existiu no Brasil {e diria até que nunca existiu no mundo, já que nunca houve de fato a ruptura com a lógica da propriedade nem do estado como o entendemos}. O governo do PT sempre foi de centro-esquerda, o que chamamos de social democracia {e deixo aqui a recomendação de "Teses sobre o conceito de história", do Walter Benjamim}. Sabendo disso, o segundo erro é simples de perceber: se algo nunca existiu, não tem como "voltar", não é?
[Eu imagino que você esteja achando que sou fã do presidente. Se enganou nisso também.]
Mas vamos ao filme.
Tendo em vista que "comunismo" é uma palavra que gera tantas emoções em quem escuta - seja de amor ou de ódio - "Adeus, Lenin" caminha numa direção bem diferente à desse - raso - debate.
O filme de 2003, dirigido por Wolfgang Becker, narra para nós a história da relação entre Alexander Kerner (interpretado por Daniel Brühl), sua mãe, Christiane Kerner (interpretada por Katrin Sass) e deles com seu país, a Alemanha Oriental.
Em decorrência de certos problemas, a mãe acaba sendo internada e passa meses em coma. Acontece que é durante esse tempo que ocorre a queda do Muro de Berlim. A mãe era alguém profundamente apegada ao estado socialista, trabalhando com afinco para o seu bom funcionamento, tendo um envolvimento emocional genuíno, e como, por razões médicas, ela não podia mais passar por fortes emoções, seu filho tenta mantê-la no quarto, em repouso, fingindo para ela que a transição para o capitalismo não está acontecendo em seu entorno.
Eu o indico porque não é uma visão odiosa nem amorosa do que foi a experiência socialista ali, e o fim dela e o processo de transição nos são apresentados por vários pontos de vista, por personagens que têm as mais diversas opiniões a respeito, e tudo isso é contado através de detalhes cotidianos daquele tempo.
Dito isso, eu espero que você se divirta vendo o filme. É uma obra engraçada, delicada e muito bonita. Espero também que você, caso ainda não soubesse, tenha entendido de fato o que é [e principalmente o que não é] comunismo. Espero que o filme lhe ajude nessa compreensão. Espero profundamente que o fantasma do comunismo pare de rondar nosso imaginário. E mais do que tudo isso, espero que os próximos quatro anos sejam melhores que os quatro anteriores {algo facilmente alcançável - difícil mesmo é serem piores}.
Luciano Felizardo
Luciano é escritor e sua cabeça gira em torno disso. Nesse espaço, vai falar sobre obras de arte (filmes, livros, músicas, etc) e as reflexões que teve a partir delas. Além de, vez e outra, tentar simplificar e trazer para o nosso cotidiano alguns conceitos de filosofia, política e psicologia - área na qual vem se graduando pela Ufal.
Suas obras podem ser adquiridas no site da Editora Ipê Amarelo ou entrando em contato com ele através do Instagram (@vezeoutrapoesia).