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Blockbuster e a Lei Cortez

Por Luciano Felizardo 21/11/2022 19h07
Por Luciano Felizardo 21/11/2022 19h07
Blockbuster e a Lei Cortez
Imagem de Blockbuster, série da Netflix - Foto: Imagem do Pinterest

Eu estava esperando ansiosamente por essa série. De verdade.

Evitei ver trailer, porque venho evitando no geral, e agora penso que, talvez, se tivesse visto, teria tido um gostinho do que a obra seria e aí não teria me decepcionado assim.

Sim, aculpa é toda minha. Eu criei expectativas e tudo mais, mas quem pode me culpar? Sitcoms têm grandes chances de serem agradáveis.

Por um lado porque não prometem tanto, então é fácil entregar algo na média ou acima dela, e por outro, porque se você cativa o público com a temática ou com os personagens, já tem boa parte da coisa resolvida.

Nem precisa ser os dois.

Tome Brooklyn 99 como exemplo. Eu não sou nem um pouco afeito à temática de policiais [atenção, não é o gênero 'policial', é o tema 'policiais'], mas os personagens me fizeram querer ver.

Por outro lado, você pode encontrar obras que os personagens não são os mais cativantes, mas o tema lhe instiga.
Aqui não. Nem os personagens são interessantes ou fáceis de criar vínculo [pelo menos pra mim não foi], nem a temática por trás é explorada bem o suficiente.

A série tem como pano de fundo e eixo narrativo uma locadora, a Blockbuster - rede de locadoras grandiosa e famosíssima nos anos 90 e 00 -, que é a última da franquia no mundo inteiro. 

E olha que além de amar sitcoms, eu sou completamente apaixonado por cinema, e cresci tendo no meu cronograma semanal "pegar filmes na sexta" e "devolver na segunda".

Tá certo. Já deu pra entender que eu achei a série desinteressante, os personagens chatos e a trama secundária sub-aproveitada. Nem cheguei a passar no quarto episódio.

"Mas e aí, Luciano?"

E aí que as locadoras de fato acabaram, né?
Com a série, fiquei lembrando que até 2014 eu ainda frequentava uma, mas não conhecia mais ninguém que fizesse isso, e lembrar dessa questão me fez pensar em algumas coisas.

A principal é o medo de que aconteça o mesmo com as livrarias. Pelo menos as de pequeno e médio porte.

É verdade que há aí uma diferença fundamental que é a mídia da qual estamos falando. O cinema ainda é uma arte recente, e diferente da dança, que você pode presenciar, ou da arquitetura, que se faz ocupante de um espaço físico, o cinema precisa de uma mídia para chegar ao espectador, e isso por si só é um motivo para ter acontecido o que aconteceu.

Por ser algo recente, o cinema vem sendo acompanhado por uma evolução sem igual das tecnologias, e entre elas, das que portam obras audiovisuais.

Quando eu nasci, quase ninguém mais usava fita. Quando eu era criança, as câmeras de filme caíram em desuso e as pessoas tiravam foto com pequenas câmeras digitais.

Quanto a essas mudanças eu nem preciso falar muito. Você acompanhou todas elas e sabe que isso tudo foi um dos maiores motivos. A mídia que as locadoras ofereciam caiu na osbolecência.

Os livros também já podem ser consumidos virtualmente, eu sei, mas acontece que há um caráter de fetichização da mercadoria com os livros físicos que não havia com os CDs - pelo menos não pra todo consumidor. Talvez pelo tempo que já faz que leitores costumam ter o livro em mãos.

Faz centenas de anos que o livro circula entre nós, e esse ar de "clássico" pode ser um dos fatores pra que ele tenha vencido a obsolescência programada que atingiu as tecnologias.

Mas e então, o que é que ameaça as livrarias?

Na minha humilde opinião, o monopólio.
E acho até que isso extrapola opiniões. Como uma empresa pequena compete, por exemplo, com a Amazon?

Esse questionamento não vem de agora. Não é também uma coisa só minha. Acho que é válido usar esse espaço, que é informativo, para falar da PL 49/2015, que propõe o seguinte: nos primeiros 12 meses após a data de lançamento de um livro com editoração brasileira, o desconto na comercialização tem que ser de no máximo 10% sobre o preço de capa.

O projeto de lei, a Lei Cortez, é inspirada em medidas já vigentes em outros países, como é o caso da França - onde o nome é Lei Lang.
A PL ainda está em debate e tem um longo caminho a percorrer antes que entre em vigor, mas me parece uma discussão importante a ser sucitada entre nós.

Em qualquer espectro político, pelo que eu entendo, o monopólio soa como algo prejudicial. A PL visa a bibliodiversidade, e mesmo que pouca, já seria uma ajuda para os comerciantes menores do mercado do livro.

Mas esse espaço aqui é para lançar mais perguntas que respostas. Deixo a indicação da matéria da Talita Facchini pela Publishnews sobre a Lei Cortez, e pergunto a você: qual sua opinião?

Luciano Felizardo

Luciano é escritor e sua cabeça gira em torno disso. Nesse espaço, vai falar sobre obras de arte (filmes, livros, músicas, etc) e as reflexões que teve a partir delas. Além de, vez e outra, tentar simplificar e trazer para o nosso cotidiano alguns conceitos de filosofia, política e psicologia - área na qual vem se graduando pela Ufal.
Suas obras podem ser adquiridas no site da Editora Ipê Amarelo ou entrando em contato com ele através do Instagram (@vezeoutrapoesia).

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