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As chuvas e a tragédia anunciada todos os anos

27/05/2022 10h10
27/05/2022 10h10
As chuvas e a tragédia anunciada todos os anos
Alagamento no Cazuzinhas - Foto: Elifran Gomes

Diante das cenas que assistimos nos últimos dias das fortes chuvas que se precipitaram sobre Alagoas, o questionamento que surge é o mesmo de todos os anos: onde está o poder público antes de a tragédia nos atingir? É fato que a natureza e sua força são em absoluto incontroláveis. No entanto, os ciclos naturais são conhecidos por qualquer indivíduo que tenha frequentado a sala de aula aos dez anos de idade.

Pensar sobre mudanças estruturais para evitar tragédias na época de chuvas é básico. O problema é que isso pode não gerar imagens instagramáveis felizes, uma vez que se criou uma crença infundada de que redes sociais devem ser constantemente alegres e saltitantes.

Infelizmente, esta semana, as imagens do transbordamento das águas, deslizamentos, desaparecimento de seres humanos, mortes, perdas materiais, invadiram as redes sociais e provaram o contrário. E o tal do engajamento, traduzido em compartilhamentos, comentários e likes, chegou a números absurdos. Há audiência para a dor. E, graças à própria natureza humana, a indignação e a solidariedade também vieram.

Ao poder público, seja nacional, estadual ou local, cabe a tomada imediata de ação contra qualquer circunstância que ameace a vida e o bem-estar social. Se todos os anos isso acontece, em menor ou maior grau, por que não organizar uma força-tarefa para planejar e executar, antes das chuvas, planos que evitem tantos danos?

O que temos visto, entretanto, é que a ação só ocorre quando o que poderia ser evitado se torna tragédia, e repito esta palavra, por ser a única que traduz o que muito de nós estamos vendo do conforto dos nossos lares (mesmo que haja aqui ou ali pingueiras incômodas).

Nenhum desconforto se compara à dor de ver o lar invadido pelas águas, destruído por barreiras que deslizam e saem levando tudo que vem pela frente, sejam os bens domésticos, animais ou as plantações que sustentam a família. Este é o cenário das famílias mais pobres, seja na zona urbana ou rural.

Fui a Maceió na quarta-feira (24) e a imagem da elevação do rio que corta São Miguel dos Campos é assustadora. Não precisamos morar ali para sabermos o desespero dos moradores com tantas casas submersas. No retorno, na quinta-feira (25), por Satuba, as áreas inundadas no entorno da pista são um indicativo de prejuízo para criadores de gado, dos pequenos aos maiores.

Em Arapiraca, mais uma vez, os moradores do bairro Brasiliana (quem não lembra das mesmas cenas ano passado?), além de família do Olho D’Água dos Cazuzinhas e da Canafístula estão desabrigados e sofrendo grandes prejuízos. Aqui, faço uma menção ao belo trabalho do grupo Espalhe Amor que, de imediato, se mobilizou para dar assistências às vítimas que ficaram abrigadas em prédios escolares.

Realmente, não há nada que possa ser feito antes da chegada das chuvas?

Clau Soares

Arapiraquense; jornalista, graduada pela Universidade Federal de Alagoas. Pós-graduada em Comunicação Empresarial (Cesmac).É bacharel em Direito pela Uneal. Servidora efetiva da Universidade Estadual de Alagoas (UNEAL), no cargo de jornalista, desde 2010. Hoje, mantém um instablog diário, o @clausoares.s, no qual destaca cenas, iniciativas e personalidades de Arapiraca.

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