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Como vivem os venezuelanos em Arapiraca
Etnocentrismo. O termo estranho refere-se a algo bem simples e bastante comum: considerar que costumes e hábitos de um povo são superiores e, portanto, melhores do que os de outros. Em Arapiraca, nos deparamos com uma situação que remete à aplicação prática do conceito com a chegada dos venezuelanos. Da etnia Warao, os indígenas refugiados possuem uma forma de vida diferente em diversos aspectos da nossa. O que pode chocar aos desavisados. A maioria sequer fala espanhol, mas um dialeto próprio. Eles não se alimentam de carne vermelha, nem de enlatados, sempre que saem levam as crianças, inclusive para acompanhar nos sinais de trânsito, algo proibido pela lei brasileira.
O grupo instalado no bairro Brasília, em um abrigo provisório, possui 39 pessoas, dentre estes, três idosos e 13 crianças. O local, um grande salão, possui apenas um banheiro compartilhado por todos. Mesmo havendo vários núcleos familiares, pai, mãe e filhos, eles fazem tudo coletivamente e não querem viver separados. Por isso, para eles, o mais importante é conseguir um terreno onde possam se instalar e trabalhar na terra.
A Secretaria Municipal de Assistência Social acompanha diariamente os imigrantes e têm seguido o que dispõe a legislação nacional e internacional para circunstâncias excepcionais como esta. São também as assistentes que fazem a articulação com os demais órgãos para garantir o acesso a serviços essenciais, como saúde, educação para as crianças e moradia - o imóvel onde estão instalados é pago por meio de aluguel social.
A sociedade civil colabora com doações de alimentos que os próprios venezuelanos cozinham para não haver desperdício - como já ocorreu com quentinhas; fraldas; roupas; medicamentos; itens de higiene, entre outros. Para não haver excedentes, a assistente social Nadja Maria da Silva recomenda que doadores procurem com antecedência a equipe de abordagem social do Centro de Referência Especializado de Assistência Social- CREAS, localizado à Rua Minervina Francisca da Conceição, 01, no bairro Santa Esmeralda, para saber que itens são mais necessários no momento.
É importante lembrar que, embora alimentos sejam fundamentais, todo ser humano, independente de sua origem, precisa de acesso a muito mais para viver com dignidade. De escova de dentes a sabonete, de toalha de banho a roupa de cama. Produtos e serviços tantos que muitos de nós temos acesso diariamente e que podem estar inacessíveis a grupos que vivem em vulnerabilidade social. Por isso, a importância de refletir antes de julgar ou negar-se a ajudar aqueles que estão em um cenário social-cultural-econômico diferente do nosso.
Clau Soares
Arapiraquense; jornalista, graduada pela Universidade Federal de Alagoas. Pós-graduada em Comunicação Empresarial (Cesmac).É bacharel em Direito pela Uneal. Servidora efetiva da Universidade Estadual de Alagoas (UNEAL), no cargo de jornalista, desde 2010. Hoje, mantém um instablog diário, o @clausoares.s, no qual destaca cenas, iniciativas e personalidades de Arapiraca.
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