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Vereadores relatam dificuldades em conquistar votos em Alagoas

Por Márcio Pedro 05/10/2020 07h07 - Atualizado em 05/10/2020 07h07
Por Márcio Pedro 05/10/2020 07h07 Atualizado em 05/10/2020 07h07
Vereadores relatam dificuldades em conquistar votos em Alagoas
hora do dinheiro - Foto: Google

Há décadas, políticos inescrupulosos, mudaram a forma de fazer política nas pequenas cidades do estado, criando um sistema de compra de votos por dinheiro ou serviço e, sem saber, criaram um monstro (eleitor comercial) insaciável que um dia os engolirá. A maioria da população de cidades onde não há fiscalização alguma de compra e vendas de votos, já aceitam esse negócio com naturalidade e brandura quando recebem políticos em suas residências. Vencer um pleito para o legislativo em lugares como esse é tão difícil como convencer a população a não vender o seu voto.

Este blog conversou com 4 candidatos a vereadores de três cidades do agreste alagoano sobre como estão suas campanhas nas suas cidades, e cada um, relatou que a política de ideias, de bem estar social, de coletividade acabou há alguns anos, e que hoje essa política se tornou um negócio financeiro, como uma feira livre, onde que tem mais posses leva a melhor, mesmo que seja analfabeto, mesmo que nunca tenham contribuído de forma permanente e presente para o crescimento social daquela localidade. O dinheiro é quem define o voto, conta um vereador de Feira Grande que preferiu não se identificar para não perder os votos que já tinha.

Nesta conversa eles pediram anonimatos, mas relataram casos curiosos e hilários de como é visitar a população para pedir um voto de confiança.

Semana passada planejei e cumpri visitas em dois povoados de minha cidade, não almocei, um calor infernal. O povo até que são atenciosos, mas pedem até as nossas roupas. Entrei numa casa, e enquanto conversava com o anfitrião, sua filha de 12 anos sugeriu que eu pagasse pela cirurgia do cachorro da residência que estava doente, mas notei que aos olhos do dono da casa isso ainda era insuficiente.

Dia 2 de outubro visitei uns povoados em meu município, e uma mulher aos prantos me pediu oitocentos reais para pagar uma multa que tinha recebido da concessionária de energia elétrica, as lágrimas corriam, e ela falava que cortariam a energia dela, se não regularizasse isso. Naquela situação deprimente, desembolsei a metade do dinheiro, que ela prontamente aceitou e saiu gritando meu nome para vereador, esse é que é o bom, gritava ela. Dois dias depois meu telefone tocou, e a mesma mulher do “gato” de energia me solicitou uma ressonância magnética para seu marido que estava doente, na minha negativa, percebi que aquela alegria em gritar meu nome já não era mais a mesma.

A campanha foi liberada dia 27 de setembro, e fui atrás de votos, andei o dia e a noite toda. Cheguei em casa as duas da madrugada com um saldo de 15 contas de energia elétrica, 12 contas de água e um boleto de cartão de crédito para eu pagar dos eleitores que visitei. Não tenho condições de pagar isso. Vou mandar devolver, antes que cortem a energia e água das casas deles por falta de pagamento, e eles me culpem.

No início da campanha fui convidado por telefone por um líder comunitário a almoçar na casa dele, com o compromisso de ele trabalhar em busca de votos para minha candidatura junto com seus parentes e amigos. Próximo do dia do evento recebi outra ligação do mesmo cidadão dizendo que estava tudo certo, mas que necessitava de três mil reais emprestado, e que esse dinheiro não tinha nada a ver com política, seria um empréstimo com pagamento para 15 dias. Diante da solicitação, falei que infelizmente não tinha esse dinheiro para emprestar a ele devido a dívidas de campanha. Em resposta, o cidadão cancelou o almoço alegando incompatibilidade solidária.


Histórias como essas acontecerão aos sussurros todos os dias, até o final das campanhas políticas, nos quartos da casa, no quintal, na cozinha e até nos banheiros são negociados a mercadoria voto.

Segundo os quatros vereadores, que forneceram essas histórias, os mesmos dizem uníssonos, que ainda tem que passar na casa do seu eleitor umas quatro vezes para sentir segurança do voto, pois a disputa é acirrada. Cada real conta.