O médico britânico David Nabarro, conhecido por liderar a resposta das Nações Unidas a algumas das maiores crises sanitárias do século, como a gripe aviária, a epidemia de Ebola e a pandemia de covid-19, morreu aos 75 anos. A informação foi confirmada no sábado (26) pelo diretor-geral da Organização Mundial de Saúde (OMS), Tedros Adhanom Ghebreyesus, nas redes sociais.

“David foi um grande defensor da saúde global e da equidade em saúde, além de um mentor generoso para incontáveis pessoas”, escreveu Tedros na plataforma X. “Seu trabalho tocou e impactou muitas vidas ao redor do mundo.”

Nabarro morreu na sexta-feira (25), de forma repentina, em sua casa em Ferney-Voltaire, na França, nos arredores de Genebra. A causa da morte não foi divulgada. A informação também foi confirmada pela fundação suíça 4SD, organização voltada para o desenvolvimento sustentável e da qual ele era diretor estratégico.

Enviado especial da OMS para a covid-19

Desde o início do surto de covid-19, em 2020, Nabarro atuava como enviado especial da OMS para a pandemia. Ele era uma das principais vozes da organização no enfrentamento da crise sanitária e defendeu, em diversas ocasiões, mais cooperação internacional e apoio aos países mais pobres.

Em 2021, no auge da pandemia, afirmou que a crise “não se parecia com nada que já tivesse visto em toda a sua carreira profissional”.

Além do cargo na OMS, Nabarro também era codiretor do Instituto de Inovação em Saúde Global do Imperial College, em Londres.

Trajetória marcada por emergências globais

Ao longo de sua carreira, Nabarro teve papel central em respostas globais a emergências sanitárias. Ele coordenou iniciativas das Nações Unidas contra a epidemia de Ebola na África Ocidental, a gripe aviária e outras ameaças à saúde pública.

Em reconhecimento à sua atuação, foi condecorado pelo rei Charles III com o título de cavaleiro em 2023 por suas contribuições à saúde global. Em 2018, recebeu o World Food Prize, considerado o "Nobel da alimentação", por seu trabalho em segurança alimentar e combate à fome.

Ataque em Bagdá

Em 2003, Nabarro sobreviveu a um atentado à sede da ONU em Bagdá, no Iraque, que matou 22 pessoas, incluindo o alto comissário da ONU para os Direitos Humanos, e feriu dezenas. Na época, ele era diretor sênior da OMS e participava de uma reunião no prédio quando ocorreu a explosão.

“De repente houve esse estrondo extraordinário”, contou ele dias depois em uma entrevista emocionada em Genebra, ainda com um caderno manchado de sangue nas mãos.

“Encontramos kits de primeiros socorros, pegamos ataduras e viramos as pessoas de lado. Estávamos trabalhando como em uma névoa, com gemidos e gritos por todos os lados.”

Tentativa de chefiar a OMS

Em 2017, Nabarro foi um dos candidatos à direção-geral da OMS, ficando em segundo lugar na votação final, atrás de Tedros Adhanom, atual chefe da organização. Pouco tempo depois, deixou as Nações Unidas.

Além da esposa, Flo, Nabarro deixa cinco filhos e sete netos. Segundo colegas da 4SD, seu legado como mentor e defensor incansável da saúde e do bem-estar global continuará a inspirar futuras gerações.