Olaria corre risco de não receber "pix" da Copa do Brasil por causa de dívidas

Por Redação com GE 24/02/2025 19h07
Por Redação com GE 24/02/2025 19h07
Olaria corre risco de não receber 'pix' da Copa do Brasil por causa de dívidas
Olaria x ABC, festa, L7nnon - Foto: Hugo Almas/@hgfotos

“Tem novidade, Caluta?”, é a pergunta que os jogadores do Olaria têm feito ao gerente de futebol Wellington Caluta desde que o time venceu o ABC-RN e avançou para a segunda fase da Copa do Brasil, pela primeira vez. A “novidade” esperada é o pix; mais especificamente, a premiação dada pela CBF aos clubes que avançam na competição. “A gente também está esperando”, é a resposta de Caluta.

Na última quinta-feira, o fim da transmissão do sportv de Olaria x ABC-RN ganhou grande repercussão quando a entrevista do goleiro Victor, destaque da vitória por 1 a 0, foi interrompida por Jajá e outros jogadores que pediram, “com todo respeito”, para a CBF fazer o pix da premiação. O acumulado pelo clube da Zona Norte do Rio até o momento é de R$1.830.000, sendo 1 milhão de reais por avançar à segunda fase e R$830 mil pela conquista da vaga no torneio.

Apesar da expectativa, o Olaria corre o risco de não receber os valores da premiação. Em 2024, ano da estreia do time na Copa do Brasil, a premiação de R$750 mil reais pela classificação no torneio foi penhorada para quitar débitos com credores, que colocaram o clube na Justiça.

A situação financeira continua delicada. No site da Procuradoria Geral do Ministério da Fazenda consta que o clube tem dívida ativa de R$ 5.665.165,38. Grande parte do valor é referente a débitos com a Previdência e FGTS de funcionários, em gestões anteriores.

O clube busca formas de evitar a penhora total da premiação na Justiça, para que o valor seja utilizado para manter o planejamento da equipe e fazer melhorias em infraestrutura. Nesta temporada, o Olaria disputa, além da Copa do Brasil, o Carioca A2 e a Copa Rio - o clube não está em nenhuma divisão do Brasileiro. A folha salarial do futebol é de R$150 mil por mês, somando vencimentos de atletas e funcionários. Ou seja, o valor do prêmio poderia quitar o orçamento anual.

Atualmente, a gestão do futebol do Olaria é feita pela grupo Rics, do empresário Ricardo Gonzaga. Quando assumiu, em 2020, o clube estava na terceira divisão do Carioca, a Série B1. Desde então, subiu para a Série A2 e, por três vezes, bateu na trave para chegar à elite. Nos últimos três anos, o Azulão foi vice do estadual e não conseguiu o acesso, que é destinado apenas ao campeão.

O gerente Wellington Caluta, que chegou ao Olaria com a gestão atual, acredita que a premiação pode dar o combustível, em investimentos, que faltou ao time para avançar à Série A do Campeonato Carioca.

— O pix vai chegar e a gente vai poder cumprir tudo aquilo que foi prometido aos atletas antes da partida. A gente sabe que para fazer futebol no Rio e em qualquer parte do Brasil é muito difícil, e esse valor vai nos ajudar na gestão financeira para o ano de 2025 — projetou Caluta.

O feito

Um dos destaques da saga do Olaria é o atacante Wesley Manga. Cria da base do clube, ele fez o gol da vitória histórica sobre o ABC-RN, e ficou um pouco mais famoso, pelo menos entre a molecada de seu bairro, a Ilha do Governador, também na Zona Norte do Rio.

— As crianças não têm nem pix, mas eu pude comprar um refrigerante, fazer uma graça pra eles lá. Mas aí eles ficam falando: "cadê a CBF, já fez o pix? Já fez o pix?". E aí é essa brincadeira o tempo todo lá. Toda hora pedindo pix — brincou o atacante.

— A gente estava sonhando com esse pix aí, vai ajudar bastante não só a gente, mas o clube. Vai ajudar todo mundo. Se o pix ia ajudar até os caras dos times grandes, para a gente não vai ser diferente. Vai ajudar em questão de tudo, de estrutura, vai melhorar tudo, é só esperar a CBF fazer esse pix aí —completou.

Manga vive um dos principais momentos da carreira, com apenas uma partida no ano. O jovem, de 22 anos, começou a jogar futebol nas praias e quadras da Ilha, onde ganhou o apelido por causa do gosto pela fruta na infância. Depois chamou a atenção do Nova Iguaçu e chegou a jogar no futebol gaúcho antes de entrar na base do Azulão. Sua trajetória é um retrato do time. O atacante é um dos muitos jogadores formados pelo clube que hoje atuam no elenco que conseguiu o feito da Copa Brasil. A média salarial dos atletas é de R$ 2,5 mil.

Mesmo sem competições a nível estadual no início deste ano, o Olaria iniciou a preparação para a temporada em dezembro. Além dos treinamentos, vinha realizando amistosos para que os jogadores tivessem um bom ritmo de jogo na Copa do Brasil. Por isso, houve certo incômodo no grupo com comentários nas redes sociais que diziam que o time teria sido formado como um “catadão”.

— A gente teve uma preparação muito boa desde dezembro do ano passado. Estávamos muito confiantes com o trabalho que vinha sendo feito. Independente se a gente treinava às vezes na praia, no sintético, a gente ia sempre no nosso limite. Então, a confiança um no outro era imensa, e eu acho que isso acabou se refletindo no jogo —contou o goleiro Victor Hugo.

O arqueiro foi outro protagonista do jogo. Sob artilharia do ABC-RN, Victor Hugo fez grandes defesas, que ajudaram a garantir a vitória do Olaria. Uma das mais impressionantes ocorreu aos 47 do segundo tempo, quando Danilo Alves recebeu na área e finalizou, mas o goleiro defendeu com a coxa e a bola bateu no travessão.

Aos 27 anos, Victor Hugo é um dos mais experientes do elenco. Ele chegou ao Olaria ainda na adolescência e, em seguida, completou a formação na base do Botafogo. No Alvinegro, chegou a ser integrado aos profissionais para treinos, ao lado do ídolo Jefferson. Depois, rodou por outros estados e até por clubes europeus. O retorno ao Olaria ocorreu no ano passado.

— Por eu ser formado aqui, pra mim, vestir essa camisa e ainda fazer história pelo clube é uma sensação indescritível. E é o que eu busco, eu busco devolver pro Olaria tudo o que ele me deu. Porque eu sempre falo, pelo Botafogo e todas as experiências que eu tive até hoje foram graças ao Olaria, porque eu comecei aqui.

Nesta segunda-feira, Victor, Manga e os demais jogadores retornaram aos trabalhos com foco na segunda fase da Copa do Brasil. O adversário será o Brusque, time da terceira divisão nacional, em data que ainda será marcada. O objetivo é avançar mais uma fase e garantir mais um “pix”.