O vereador Wladimir Canuto (Avante) invadiu a Sala Vermelha da Unidade Básica de Saúde (UBS) de Felício dos Santos (MG) na última segunda-feira, 3, gerando tumulto no local. Durante a confusão, um idoso de 93 anos, que passava por um procedimento cardíaco de emergência, morreu.

A prefeitura repudiou a ação do vereador, classificando sua entrada no setor como "abrupta e injustificada". Em nota, o Executivo afirmou que Canuto cometeu agressões verbais contra servidores públicos e ainda agrediu fisicamente uma funcionária. O parlamentar nega a agressão física.

A Sala Vermelha é destinada a pacientes sob risco de morte, e a invasão de Canuto teria causado grande transtorno à equipe médica. "A ação desencadeou tumultos diversos na instituição, desestabilização psicológica de toda uma equipe", disse a prefeitura. A identidade do paciente que faleceu não foi divulgada.

O que diz o vereador

O vereador gravou um vídeo justificando sua presença no local. Segundo ele, ao chegar na UBS, viu pacientes aguardando atendimento e, ao questionar uma funcionária da recepção, foi informado que duas pessoas estavam em emergência. No entanto, um acompanhante na espera afirmou que esses atendimentos já tinham sido encaminhados para outro local "há muito tempo".

Canuto continuou questionando a quantidade de médicos na unidade. "Eu sou fiscal do município. O salário que todos os funcionários da prefeitura recebem, eu fiscalizo. Eu tenho que ver se eles estão trabalhando de acordo e se são merecedores do salário que recebem", declarou em vídeo.

Ao entrar na UBS, ele afirma ter visto um médico sozinho, mexendo no celular. "Eu falei: 'Doutor, a menina falou que o senhor está atendendo uma emergência. O senhor está atendendo online? Tem uma emergência online, é isso?'", relatou.

Em seguida, ele perguntou sobre o outro médico da unidade. Uma enfermeira indicou a sala onde ele estava e alertou que não era permitida a entrada. Canuto ignorou e abriu a porta. "Eu simplesmente abri a porta, eu não entrei. Aí eu vi que tinha muita gente lá dentro. Eu só perguntei: 'Tem médico aqui nessa sala?' A médica falou: 'Eu sou a médica'. Eu falei: 'Obrigado'. Fechei a porta e saí".

Críticas de médica que atendia paciente

A médica Larissa Vieira, que atendia o paciente no momento da invasão, expressou sua revolta nas redes sociais. "Como médica que estava realizando o atendimento de alta complexidade, tendo a sala invadida em um momento de um procedimento que exigia total atenção no meu paciente, expresso aqui a minha completa indignação", escreveu na postagem do vereador sobre o caso.

Ela também criticou a atitude do vereador: "O senhor é muito bom com as palavras e realmente não temos como provar o que ocorreu perante a justiça dos homens, mas a justiça divina não falha. Fale como quiser, mas eu não dormiria com consciência tranquila depois de ter feito o que o senhor fez. Lamentável, vergonhoso e desumano".

A neta do paciente falecido também comentou na postagem. "Eu, como neta do paciente que veio a óbito, esperava no mínimo um vídeo seu pedindo desculpa. Desculpa para toda a equipe que estava em atendimento e a família. Mas não, me deparo com esse vídeo cheio de prepotência e arrogância", escreveu Kezia Costa.

Posicionamento da prefeitura

A Prefeitura de Felício dos Santos classificou o ato como "vil e ardiloso" e afirmou que a invasão "transcende o exercício da vereança". Segundo a administração municipal, além do impacto psicológico na equipe médica, a família do paciente que faleceu também se revoltou com a atitude do vereador.

O Executivo informou que tomará todas as providências cabíveis, administrativas e judiciais e cobrou da Câmara Municipal a abertura de uma comissão para apuração e penalização dos fatos. "A Administração 2025/2028 reforça seu compromisso com a verdade, com a legalidade e, acima de tudo, com respeito a todos os munícipes", diz a nota oficial.