Escravizadas no OnlyFans: mulheres relatam ser forçadas a gravar vídeos de sexo para a internet

Por G1 23/11/2024 12h12
Por G1 23/11/2024 12h12
Escravizadas no OnlyFans: mulheres relatam ser forçadas a gravar vídeos de sexo para a internet
Onlyfans - Foto: Reprodução

Em uma manhã de agosto de 2022, uma jovem saiu sorrateiramente de uma casa no subúrbio de Wisconsin e correu para um carro de polícia que a aguardava.



Com as mãos trêmulas, ela disse aos policiais que foi a coisa mais corajosa que já fez na vida. Por quase dois anos, seu namorado a manteve em cativeiro, segundo os promotores. Ela temia que ele a matasse se tentasse ir embora.



Mas apenas alguns dias antes, depois de ele derramar graxa quente em suas costas, ela começou a planejar sua fuga, enviando mensagens secretas a familiares e amigos para alertar a polícia.



Mais tarde, a jovem explicou seu desespero aos detetives: quase todas as noites, seu namorado a forçava a gravar atos sexuais em câmeras para vender online. Entre os canais escolhidos por ele estava o OnlyFans, site de enorme sucesso famoso pela pornografia.



O OnlyFans diz que empodera criadores de conteúdo, especialmente mulheres, ao monetizar imagens e vídeos sexualmente explícitos em um ambiente online seguro.





Mas uma investigação da Reuters encontrou mulheres que disseram ter sido enganadas, drogadas, aterrorizadas e escravizadas sexualmente para que seus algozes ganhassem dinheiro com o site.



As descobertas se baseiam em queixas policiais realizadas nos Estados Unidos, além de arquivos de tribunais internacionais, processos judiciais e entrevistas com promotores, investigadores de tráfico sexual e mulheres que dizem ter sido traficadas.

Em um outro caso similar, o influenciador Andrew Tate, com milhões de seguidores em todo o mundo nas redes sociais, foi acusado de forçar mulheres na Romênia a produzir pornografia para o OnlyFans e embolsar os lucros. Ele negou as acusações.

Os casos que a Reuters identificou nos Estados Unidos chamaram menos atenção, pois algumas mulheres passaram semanas ou meses de suposta escravidão sexual em casas de aparência comum em comunidades tranquilas.





A vítima, às vezes, era uma noiva ou uma namorada, abusada para aumentar o orçamento doméstico, financiar a aposentadoria do casal ou cobrir as despesas dos filhos, de acordo com relatos em arquivos policiais ou judiciais.

A Reuters não divulga os nomes das mulheres que dizem ter sido vítimas de tráfico sexual.



A mulher de Wisconsin, hoje com 23 anos, foi abusada por Austin Koeckeritz, que se descreveu em um blog como "empresário, artista e estudante de psicologia". Ele está cumprindo uma sentença de 20 anos de prisão depois de se declarar culpado de tráfico sexual.

"Os dois anos lá pareceram décadas, e eu estava sofrendo sozinha e pronta para morrer", disse a mulher em seus primeiros comentários públicos sobre o caso. "Acho que nunca estarei totalmente curada."

A casa alugada em River Falls, Wisconsin, onde os promotores dizem que Austin Koeckeritz manteve uma mulher em cativeiro e a forçou a aparecer no OnlyFans — Foto: Reuters/Tim Gruber

Prostituição forçada


Pelo menos dois casos detalhados nos arquivos da polícia envolvem alegações de prostituição forçada.

Um marido e uma mulher comandavam uma operação de tráfico e prostituição em seis estados americanos antes de serem presos em um bairro organizado de Ohio, onde criavam dois filhos, segundo os promotores.



O marido supostamente usava o OnlyFans para organizar encontros sexuais com várias mulheres e vender pornografia que ele ordenava que elas fizessem. Ele aguarda julgamento; sua esposa recentemente se declarou culpada de acusações relacionadas.



Esses esquemas de tráfico sexual se baseiam em intimidação, violência ou falsas garantias de amor para pressionar as mulheres a fazer pornografia e mantê-las produzindo, segundo as vítimas e os promotores.



Os supostos criminosos eram, em sua maioria, homens – alguns acusados de espancar e estuprar mulheres, outros de tatuar seus nomes e rostos nas vítimas. Eles filmavam em locais privados, às vezes mantendo as vítimas em cativeiro por um ano ou mais, segundo os registros e entrevistas.



Um dia antes de ser resgatada, a mulher de Wisconsin escondeu um bilhete para a polícia no jardim da frente da casa em que dizia que "estava basicamente presa neste quarto para continuar ganhando dinheiro" para seu agressor.