Programa de Reconstrução Mamária realizou 13 cirurgias em dois meses

Nos anos anteriores apenas quatro cirurgias eram realizadas em Alagoas; iniciativa devolve autoestima de mulheres mastectomizadas

Por Ascom Sesau 20/09/2021 20h08
Por Ascom Sesau 20/09/2021 20h08
Programa de Reconstrução Mamária realizou 13 cirurgias em dois meses
Clemilda Macedo realizou a cirurgia de reconstrução mamária nesta segunda, após esperar por 10 anos - Foto: Carla Cleto/Ascom Sesau

Da angústia ao descobrir um câncer à espera da reconstrução mamária. Mulheres alagoanas passaram a contar, desde outubro do ano passado, com o Programa Ame-se, que visa zerar a fila de espera para cirurgias de reconstrução da mama. Lançado há menos de um ano, o Programa passou por uma pausa, em razão da pandemia da Covid-19 e, desde a sua retomada, em 19 de julho deste ano, acelerou a reconstrução mamária em mais de 100%, quando comparado com os anos anteriores. Isso porque, em dois meses, foram realizadas 13 cirurgias, enquanto que, nos anos anteriores, Alagoas realizava apenas quatro procedimentos, de acordo com dados da Secretaria do Estado de Saúde (Sesau).

“Me olhar no espelho, me reconhecer de novo e voltar a usar um sutiã normal” é o que deseja Clemilda Macedo, de 49 anos, que realizou o procedimento cirúrgico de reconstrução mamária nesta segunda-feira (20), após esperar por 10 anos, depois de descobrir e se curar de um câncer de mama. O procedimento cirúrgico foi realizado no Hospital Metropolitano de Alagoas (HMA), em Maceió, que passou a ser a unidade referência para o Programa Ame-se, uma vez que, anteriormente, os procedimentos eram realizados no Hospital Regional da Mata (HRM), em União dos Palmares.

“Eu me sentia muito estranha ao me olhar no espelho, quando me olhava ficava triste. Agora é um momento de alegria, e gratidão, vou ser outra mulher. Quando falta algum pedaço do corpo da gente, não nos sentimos 100%, mas, agora, vai ser 100%. É um presente, estou muito feliz!”, comemorou Clemilda Macedo.

Moradora do bairro Santa Lúcia, em Maceió, Clemilda Macedo começou a achar que havia algo errado no seio esquerdo quando realizava o autoexame. “Tinha realizado alguns exames, estava tudo normal, mas, sete meses depois, enquanto tomava banho, apalpei um caroço no meu seio esquerdo. Conversei com o médico e ele avaliou, refiz exames e ele disse que era maligno. E nesse mês de setembro faz 10 anos da cirurgia”, relembrou.

Para a mastologista e coordenadora do Programa Ame-se, Francisca Beltrão, a reconstrução da mama, após a retirada de um câncer, é um procedimento que tinha um atendimento limitado em Alagoas. “Fizemos um levantamento do número de reconstruções anuais realizadas no Estado pelo SUS, quando fomos elaborar a construção do programa. Em 2020 nem contamos, devido à pandemia, mas, quando olhamos para 2019, 18 e 17, os números que temos são três, quatro, cinco, no máximo cinco. Então, quando a gente vê que, por meio do Programa Ame-se, em menos de um ano, tivemos 13 cirurgias, mesmo com os meses em que o programa ficou sem operar, devido à pandemia, comprovamos a sua importância para a população”, ressaltou.

Direito - Há duas leis que garantem o direito à reconstrução mamária pelo Sistema Único de Saúde (SUS) a todas as mulheres que sofrem mastectomia total ou parcial, em decorrência do câncer de mama. A primeira, de 1999, previa apenas que a cirurgia reparadora acontecesse, mas não determinava quando. Somente em 2013, uma nova lei mais específica, garantiu que a operação pudesse ser feita imediatamente, na mesma intervenção de retirada do tumor.

O Programa Ame-se, atende mulheres que estão na fila de espera para terem o seio reconstruído e já tenham concluído o tratamento do câncer. “É a chamada reconstrução tardia, que não foi feita logo após a retirada da mama. Um dos critérios do programa é a paciente já ter terminado o tratamento há pelo menos seis meses. E por isso é fundamental esse acompanhamento médico desde as primeiras consultas”, explicou a coordenadora do Programa Ame-se, Francisca Beltrão.

Uma das operadas após a volta do programa, Ivanilda Freitas, de 57 anos, esperava há oito anos a cirurgia de reconstrução mamária. Ela relembrou a emoção de descobrir o Ame-se, ao participar de uma audiência que tratava sobre o assunto. “Quase entro em depressão, mas, minha família e amigos não permitiram. Daí, comecei a participar de vários eventos da causa, como caminhadas e audiências. Participei no lançamento do Ame-se, e estava na audiência que possibilitou o programa, um dos dias mais felizes da minha vida, saber que daquele momento em diante teria uma lei, um projeto que realizaria a reconstrução da minha mama e de muitas amigas minhas que também estão esperando pela cirurgia”, ressaltou Ivanilda, operada no dia 27 de julho.

Seleção
– As mulheres mastectomizadas são selecionadas por meio de um fluxo elaborado pela Secretaria do Estado de Saúde (Sesau). As pacientes são encaminhadas por Organizações Não Governamentais (ONGs) que desenvolvem ações de prevenção, diagnóstico, tratamento e reabilitação de mulheres acometidas pelo câncer de mama.

Reconstrução e Humanização
– O Programa Ame-se vai além dos procedimentos cirúrgicos, uma vez que ele busca retomar a autoestima de dezenas de mulheres, com um atendimento humanizado nos hospitais, além de rastrear a doença, evitando que chegue ao estágio mais grave.

Esperando há 18 anos por uma reconstrução da mama, a moradora da cidade de Rio Largo, Nazaré Conceição, de 53 anos, relembra que descobriu o câncer ao dar à luz ao seu filho. “No dia que era pra ser o mais feliz da minha vida, com o nascimento do meu filho, descobri que tinha câncer de mama. O sentimento de impotência em ter que ficar distante dele e não saber o que ia acontecer me fez quase entrar em depressão. Fiz radioterapia, quimioterapia e, desde então, estava esperando a reconstrução. Já estava quase desistindo, mas, minhas amigas e familiares sempre me deram forças para continuar, e, quando surgiu o projeto Ame-se, foi uma das melhores notícias que recebi”, relembrou.

Por ser uma das mulheres mais antigas na lista de espera, Conceição deveria ser a primeira paciente do projeto a refazer a mama, mas, desenvolveu um quadro de ansiedade, que a impossibilitou de dar continuidade ao pré-operatório. De acordo com ela, os médicos foram fundamentais para que ela controlasse a ansiedade e, assim, continuasse com os procedimentos. “Eles me ajudaram a lidar melhor com a ansiedade que desenvolvi, desde que descobri que, enfim, iria reconstruir meu seio. Estou me recuperando muito bem e me sentindo outra mulher. Hoje me sinto muito feliz em me olhar no espelho, me sentir bonita, ver meus seios tão esperados”, agradeceu.

Já Lícia Roberta, de 42 anos, realizou uma construção mamária bi lateral, em 16 de agosto, e relembra a perda da autoestima, desde o processo da descoberta do câncer à mastectomia. “Foi um choque descobrir que tinha câncer, tinha acabado de fazer 37 anos, havia perdido minha mãe há pouco tempo e, com isso, achei que iria morrer também. Fiz todo o tratamento e acabei engordando 42 quilos, chegando a pesar 115 quilos. Minha autoestima foi embora, não conseguia mais me olhar no espelho e ficar à vontade em intimidade com meu marido”, relatou.

Do hospital, Lícia lembra com carinho de todos que a receberam e a acompanharam na reconstrução da mama. “Os médicos trabalham com muito amor e dedicação, eles não fazem de qualquer jeito, eles têm o cuidado de fazer da melhor forma, de ficar perfeito. Fizeram a diminuição, retiraram a cicatriz que eu achava horrorosa e fizeram também a simetria das duas mamas, porque era uma mais em cima e outra embaixo. Me deram seios novos, era tudo que queria. Eu só tenho a agradecer, foi muito importante na minha vida esse programa, a realização de um sonho. Eu esperava por esse milagre há cinco anos, e, graças ao Ame-se, consegui realizar”, enfatizou.

A mastologista Francisca Beltrão explica que uma cirurgia de reconstrução mamária para uma mulher que passou por mastectomia devolve a autoestima. “Estamos falando da reinserção dela na vida social, porque os pacientes que ficam sem a mama, muitas vezes, ficam com vergonha de sair, vergonha de ir à praia, vergonha de colocar uma roupa decotada, e isso afeta sua sexualidade, a imagem que ela se vê no espelho. Algumas mulheres não conseguem lidar bem com isso, com a falta, e acarreta uma série de alterações psicológicas, emocionais e sociais. Então, a reconstrução mamária tenta resgatar tudo que essa mulher perdeu ou mudou com o tratamento do câncer, com as alterações pós-tratamento do câncer”, disse.