Mães arapiraquenses buscam parto humanizado para evitar traumas e proteger bebês

Por Lohuama Alves 14/05/2017 17h05 - Atualizado em 14/05/2017 23h11
Por Lohuama Alves 14/05/2017 17h05 Atualizado em 14/05/2017 23h11
Mães arapiraquenses buscam parto humanizado para evitar traumas e proteger bebês
Momento do parto de Patrícia Saldeado, mãe de Flora, nascida há 15 dias (Foto: Arquivo pessoal) - Foto: Arquivo Pessoal
Toda grávida sonha com o maravilhoso momento do parto, quando ela e o bebê finalmente terão o primeiro contato, pois o momento do nascimento de um filho é um dos mais importantes para a vida de uma mãe.

Diante de tanta violência obstétrica relatada por pacientes, surgiu a filosofia do parto humanizado, que pretende diminuir as sequelas físicas e psicológicas deixadas por profissionais que não respeitam o momento do nascimento. Em um parto humanizado, são realizadas poucas ou nenhuma intervenção médica, e estas só acontecem com a permissão da mãe.

Durante o procedimento, o bem-estar da mãe e do filho é colocado em primeiro lugar. A mulher tem autonomia para decidir como quer parir. Ela escolhe a melhor posição e tem apoio da equipe médica para se movimentar, comer, beber, tomar banho. O trabalho dos envolvidos é no sentido de garantir que ela esteja em um ambiente seguro, acolhedor e tranquilo. 

Para a enfermeira obstetra Kyvia Lúcio, o atendimento domiciliar é único, a mulher é protagonista e ativa durante todo o processo. “O parto traz um renascimento de toda a família, tudo é tão intenso, que, em poucas horas/dias nos envolvemos como se fôssemos um ente da família. O bebê é recepcionado de forma respeitosa, sem exames invasivos, não é afastado da mãe nem um minuto, é estimulado o contato pele a pele, a amamentação precoce. O trabalho de parto é o mais natural possível, com métodos não farmacológicos para alívio da dor, como deambulação, massagem, compressas mornas, imersão em água, uso da bola suíça. Os partos no domicílio são bem planejados, oferecemos uma estrutura correta, desde luvas, sonnar até materiais para reanimação, porque assim como no hospital, se alguma intercorrência acontecer, temos em mãos todo o aparato necessário”, relatou.

Para Patrícia Saldeado, mãe de Flora, nascida há 15 dias, a principal importância do parto humanizado está em resgatar o poder ancestral das mulheres em parir. “Tenho convicções que o parto humanizado é a melhor forma de nascer para o bebê e é a melhor opção para a mãe. Existem vários estudos que mostram a importância do momento do parto e do trabalho de parto para o bebê, e como isso pode repercutir na sua vida inteira. No caso da mãe, não existe nada melhor que ter seu corpo respeitado, seus medos, seus desejos e anseios acolhidos. O parto é o momento de renascimento de uma nova mulher e ele é precioso. Tratá-lo com respeito é essencial”, declarou.

“A experiência do parto domiciliar planejado foi a concretização de um sonho. Hoje me sinto mais capaz, mais corajosa, mais mulher, porque pude entrar em contato com algo de muito sagrado que só as mulheres possuem: o poder de gerar uma nova vida. A natureza é perfeita, é só deixá-la atuar. O parto aconteceu à luz de velas, no meu quarto. A equipe da Maternurar foi fantástica, e trataram tudo com muita naturalidade. Não houve pânico, pressa, intervenção e todos os meus desejos foram respeitados. Todo o trabalho de parto evoluiu ligeiramente rápido; cada dor, cada gemido ou grito foi encarado de forma natural, e incentivado pelas parteiras e pelo meu marido. Minha filha veio ao mundo da melhor forma possível, no meio da madrugada, de forma tranquila; seus batimentos cardíacos permaneceram constantes mesmo com as contrações. Contei com o apoio fundamental do meu marido, da equipe e de minha mãe que, mesmo aflita, se manteve em casa, rezando, orando e emanando boas energias. Já estive duas vezes na maternidade após o parto e não me arrependo nem um pouco da minha decisão, ao contrário, só reforça a minha convicção que nascer em casa é a melhor forma de trazer um ser humano ao mundo, desde que seja com uma equipe preparada e que a gravidez não seja de risco”, acrescentou Patrícia.

O esposo de Patrícia e pai da pequena Flora, Leonardo Leal, relatou ao Portal Já é Notícia sua experiência ao presenciar o momento emocionante do parto. “Participar da experiência do parto de minha filha Flora, realizado em nossa casa, foi uma experiência muito nova, mas sendo nova é possível, um outro modo de ser e de fazer que nos deu muita satisfação e confiança, nos ajudou a se libertar do medo que ronda as famílias na hora de decidir sobre a melhor forma de fazer o parto. Hoje tenho certeza que a melhor forma é o parto natural e em casa, com toda assistência que temos direito. Foi uma vivência que nos deu dignidade, tempo para sentir as dores e os prazeres, falar dos sentimentos, criatividade para passar por cada momento, penso que nos permite uma compreensão ativa do nosso lugar na construção do parto de nossa filha”, disse Leonardo.

A equipe do Portal Já é Notícia teve a oportunidade de conversar e conhecer histórias de outras mães e de parteiras experientes do parto humanizado. Assim como o lindo relato de Lauracy Liberato. “A importância de o parto ser humanizado ou adequado é porque a mulher é vista em sua totalidade, corpo, mente e coração, sendo respeitada em suas decisões, podendo protagonizar/viver seu parto de forma ativa. Uma mulher que se prepara para esse momento é porque o deseja viver plenamente e está empoderada do que é capaz de realizar, ou seja, parir! Tanto no âmbito fisiológico como no emocional”, declarou.

Lauracy é mãe de seis filhos e, segundo ela, seus quatro primeiros filhos nasceram em hospital. Ela relatou que sofreu muito nesses partos, de forma física e emocional. Por isso, optou que os partos das suas últimas duas filhas seriam humanizados. A sua primeira filha, nascida em parto humanizado, foi a primeira experiência em Arapiraca. “Renasci como mulher/mãe e me libertei de muito traumas trazidos das vivencias dos partos violentos e traumáticos que tive”.
 

Lauracy, mãe de seis filhos, dos quais dois nasceram em partos humanizados. (Foto: Arquivo pessoal)

Outra enfermeira obstetra e parteira urbana da equipe, Claudjane Cavalante, também acredita que o parto humanizado resgata a autonomia da mulher, fazendo com que ela seja protagonista de sua história. “Sou mãe de dois. Infelizmente, não conhecia o parto humanizado, mas optei por parto normal que evoluiu para uma cesariana. Todos os atendimentos de parto são uma experiência incrível. O parto humanizado envolve a relação de bem-estar materno e neonatal, onde ambos são acolhidos de forma natural, onde mãe escolhe a melhor posição para parir, a liberdade de ambulação, respeitando sua autonomia”, declarou.

O Brasil é o país campeão de cirurgias cesarianas no mundo. Na rede particular de saúde, 82% dos bebês nascem assim. Na pública, 37%. Mais que o dobro da estimativa aceita pela Organização Mundial de Saúde, que é de 15%.

Não há dúvidas de que o parto humanizado é mais saudável para a mulher, uma vez que, sem a utilização de procedimentos cirúrgicos, medicamentos e anestesias, a recuperação ocorre de maneira mais rápida. Além disso, a participação da mãe nas decisões faz com que a experiência do parto não seja vista como uma violação de seu corpo.