ONGs/aids lamentam tom de medo utilizado nas cenas de “Malhação”

Por Agência Aids 30/12/2015 11h11
Por Agência Aids 30/12/2015 11h11
ONGs/aids lamentam tom de medo utilizado nas cenas de “Malhação”
Foto: Reprodução
Antes de iniciar a nova temporada de “Malhação”, novela da TV Globo, a mídia já havia anunciado que a narrativa contaria com o tema HIV. No capítulo de sexta-feira (25), após os personagens Henrique (Thales Cavalcanti) e Luciana (Marina Moschen) se machucarem durante um jogo de basquete no colégio, o rapaz, preocupado em ter infectado a jovem, revela ser soropositivo.

Na segunda-feira (28), a história continuou, o personagem conta que sua infecção foi via transmissão vertical (de mãe para filho) e leva Marina para uma enfermaria especializada em pacientes com HIV. “Eu sou soropositivo. Eu não desenvolvi a doença, mas eu nasci assim. Eu sempre tomo todos os cuidados necessários, mas dessa vez foi um acidente. Eu sinto muito”, diz Henrique.

Assustada com a notícia, ela vai ao serviço acompanhada dos pais. A profissional presente no local receita a PEP (profilaxia pós-exposição), nova tecnologia de prevenção ao HIV e a jovem inicia o tratamento.

Além do publico da novela, o episódio foi comentado por muitos ativistas e profissionais da área nas redes sociais. Muitos deles manifestaram insatisfação diante da abordagem do tema, falta de informação a respeito da situação e o tom de medo utilizado nas cenas.


Henrique revela à Luciana que é soropositivo em "Malhação" (Foto: Reprodução)

Nesta terça-feira (29), a Agência de Notícias da Aids recebeu uma nota do Foaesp (Forúm de ONG/Aids do Estado de São Paulo) lamentado os recentes episódios da novela. Leia abaixo na integra:

Nota Foaesp sobre episódios do seriado Malhação

O Fórum de ONG/Aids do Estado de São Paulo, colegiado que reúne mais de cem organizações que trabalham com ações voltadas para a prevenção da aids e promoção dos Direitos Humanos, vem por meio desta nota lamentar recentes episódios do seriado " Malhação", da TV Globo, onde um personagem que vive com HIV tem sua situação sorológica revelada e comentada entre seus colegas.

A situação sorológica das pessoas é questão do âmbito privado de cada um, não podendo ser revelada sem sua concordância, nem sob o pretexto vago de se "tomar as medidas necessárias". A prevenção, principalmente a via sexual, é responsabilidade das pessoas envolvidas e deve ser incentivada como medida de promoção da saúde e não como propulsora do medo e do isolamento. Vale ressaltar que o risco de uma transmissão através de um choque acidental de cabeças ("testada") é quase nulo.

Em relação a terapia pós exposição (PEP), tema fundamental principalmente quando se fala em novas tecnologias de prevenção, é abordado em um dos episódios sem o conjunto amplo de informações que a situação exige, e ainda recheado de frases discriminatórias que em nada contribuem para o avanço da discussão do tema.
Perdeu-se ai uma grande oportunidade de promoção de ações contra a discriminação e o preconceito, e de semear solidariedade e apoio mútuo. O tom de medo e catástrofe utilizado na promoção da cena (rostos espantados, música grave, suspense e gravidade) leva muito mais a ideias de exclusão do que de inserção e apoio, principalmente quando o ator que faz o papel de soropositivo se exclui socialmente quando comenta que evita praticar esportes e outras atividades pela sua condição sorológica.

Atualmente, quando a epidemia da aids atinge principalmente jovens e populações excluídas, o combate ao estigma é uma das principais preocupações da saúde pública e a participação da sociedade, e dos meios de comunicação social, nesta luta é fundamental. Somente através de informações corretas que poderemos avançar no controle da aids no Brasil e no combate a segregação que tem se revelado perversa e que precisa de medidas fortes de combate.

São Paulo, 29 de dezembro de 2015.

Rodrigo Pinheiro
Presidente