Arapiraca tem 21 mortes no trânsito nos últimos dois anos

Por Equipe Já é Notícia 06/02/2014 15h03
Por Equipe Já é Notícia 06/02/2014 15h03
Arapiraca tem 21 mortes no trânsito nos últimos dois anos
Dados do 3º BPM apontam 21 mortes no trânsito de Arapiraca nos últimos dois anos - Foto: Arquivo/Já é Notícia
Dados do 3º Batalhão de Polícia Militar (3º BPM), responsável pela abrangência de Arapiraca e mais 15 municípios da Região do Agreste de Alagoas, informam que nos últimos dois anos (2012 e 2013), 21 pessoas morreram vítimas de trânsito nas vias urbanas da cidade de Arapiraca. As informações foram apuradas pela equipe do Portal Já é Notícia, nesta quinta-feira (5), baseadas no que constam nos relatórios da corporação.

A situação dos sistemas de trânsito e transportes é preocupante na maior cidade do Agreste Alagoano. Uma análise leiga pode apontar para uma causa ou outra isoladamente, que não poderá ser apontada como exclusiva para os níveis de acidentes de trânsito observados. Neste artigo iremos dissecar a problemática versando sobre seus pontos críticos, causas e diagnóstico.

Frota

Arapiraca tem uma frota de veículos superior a 76 mil, dados do Departamento Nacional de Trânsito de 2013 (Denatran), dos quais cerca de 24 mil são automóveis. O número de motocicletas e motonetas já supera a casa dos 40 mil. Cabe destacar que nessa contagem não foram incluídos os ciclomotores, as famosas cinquentinhas, que segundo a Polícia Militar (PM) já superam 6 mil transportes de 50 cilindradas (50cc) na capital do Agreste.

O complexo mundo do trânsito e dos transportes depende de uma visão mais profunda, se por ventura o desejo é apontar culpados. Pois vejam, Arapiraca é um município cuja frota cresceu significativamente. Em 2003 tínhamos aproximadamente 27 mil veículos. Em dez anos 49 mil novos veículos passaram a circular cotidianamente na cidade.

Em 2003, circulavam pelas ruas de Arapiraca 12.165 motocicletas e motonetas. Dez anos depois, em 2013, a frota quase quadruplicou.

Motivos não faltam para justificar esse salto gigantesco no número oficial de veículos registrados no município (IPI reduzido, financiamentos facilitados, etc.). Cabe destacar que não estão sendo levados em consideração os veículos registrados em outros municípios que transitam em Arapiraca. Acrescente-se aí, ainda, o fato de a cidade ser atualmente a sede comercial da proeminente região metropolitana que se alicerça no Agreste de Alagoas, atraindo diversos consumidores, principlamente para sua área central.

Malha viária

Arapiraca tem um centro comercial de aproximadamente 1,68 quilômetros quadrados, com uma malha viária saturada por usos múltiplos: veículos automotores, pedestres, comércio ambulante, estacionamentos regular e irregular, operações de carga e descarga (que até hoje não foi disciplinada), entre outras atividades.

Vejam que diversos fatores concorrem para uma análise circunstanciada e detalhada. A gestão de trânsito e transportes no município tem se desdobrado de tudo que é forma para gerenciar esse conflito.

Ações

Observem em 2013, por exemplo, quantos instrumentos de gerenciamento viário foram alocados: instalações de planos semafóricos em pontos críticos da cidade, esboço de um plano de circulação com binários definidos (corredores de sentidos opostos que se conectam).

Além disso, revisão de parte da sinalização vertical e horizontal da cidade, projeções de implantação da Escola Pública de Trânsito (EPT) conjuntamente com a nova sede da SMTT, projeto Anel Viário (que visa reordenar os transportes intra e intermunicipal), política de análise dos impactos causados por polos geradores de viagens (como o Arapiraca Garden Shopping e o Supermercado G Barbosa), entre outros.

De acordo com informações repassadas pela Assessoria de Comunicação da SMTT, ficou claro também que o órgão passa por diversas mudanças de caráter organizacional.

Uma nova política foi implantada para o gerenciamento do sistema de transportes e trânsito na cidade. O superintendente do órgão, Ricardo Auto Teófilo, garantiu que diversos projetos estão pautados nessa nova administração, entre eles, elaboração de um plano de transportes para o município.

Como também, plano de circulação no centro da cidade, aquisição de softwares de modelagem de trânsito, realização de congressos técnicos e audiências públicas para discussão dos temas mais abrangentes ligados ao assunto, modernização da estrutura da SMTT, entre outros aspectos.

Sobre as projeções para o futuro, a atual administração pública garantiu que um mega planejamento está em fase de depuração. A prefeitura de Arapiraca criou recentemente um comitê para gerenciamento do Plano Diretor de Transportes e da Mobilidade Urbana, que garantirá ao município a partir de 2015 recursos para diversos projetos de infraestrutura de trânsito e transportes.

O Plano segundo representantes do comitê ofertará, por exemplo, corredores exclusivos para transportes coletivos, com base em estudos de engenharia de tráfego, planejamento da malha viária da cidade, estudos de controle tarifário e integração dos diversos tipos de transportes (ônibus, micro-ônibus, táxis, mototáxis, vans, etc.), definição de uma política de cargas urbanas para o município.

E, ainda, implementação de técnicas modernas de gerenciamento de trânsito (semáforos inteligentes e sincronizados, bancos estatísticos consistentes acerca de infrações e acidentes de trânsito, entre outros), política de substituição de lombadas físicas por controladores eletrônicos de velocidade, análise da oferta/demanda de áreas de estacionamento na área central da cidade.

E, ainda, estudos relativos à circulação de veículos de médio e grande porte na malha comercial da cidade, classificação e hierarquização do sistema viário, criação de sistema adequado de circulação de bicicletas, implantação de mecanismos coerentes com as pessoas com mobilidade reduzida (acessibilidade), entre diversos outros protótipos.

A elaboração do Plano de Mobilidade é esperada pelos técnicos da prefeitura de Arapiraca como um divisor de águas no processo de metropolização tão almejado pela prefeita Célia Rocha.

Espera-se que o modelo traga à baila um modelo de cidade com inclusão social, democratização dos espaços públicos, enfim, uma cidade que atenda a configuração alicerçada no modelo de sustentabilidade.

Acidentes de trânsito

A atual configuração do munícipio de Arapiraca no que toca aos níveis de acidentologia estrutura-se basicamente em três pilares: educação/conscientização; modelagem da cidade com conceitos de engenharia de tráfego e infraestrutura; e fiscalização/repressão.

Diversos órgãos participam desse processo de gerência: SMTT, Polícia Militar, Delegacia de Acidentes, Detran, Cetran, entre outros. Cada um tem segundo a legislação vigente competências e atribuições definidas.

A equipe do Já é Notícia analisou, por exemplo, o importante papel que tem a Delegacia de Acidentes neste contexto. Os diversos crimes de trânsito que ocorrem na cidade (embriaguez ao volante, direção perigosa, homicídio na direção de veículos automotores) passam pela apreciação dos titulares daquele órgão. Cabe-lhes, assim, contribuir de maneira efetiva na repressão aos referidos delitos. A SMTT e a Polícia Militar, por sua vez, tem papel relacionado a fiscalização de determinadas condutas que coloquem em xeque a segurança no trânsito.

Enviar relatórios para os órgãos e entidades que fiscalizam o trânsito na cidade. Emitir pareceres acerca das principais causas de acidentes de trânsito, enfim, interagir com os demais com o objetivo de reduzir o alarmante quadro dos acidentes. Esse é o papel mais abrangente da Delegacia de Acidentes numa região. O objetivo dessa observação é fundamentar a importância da gestão integrada na processualística deste tão grave problema.

Não adianta, na nossa visão, ficar enveredando causas e acusações sem fazer uma apreciação minuciosa da problemática. Isso só gera desgaste entre a população e quem gerencia o sistema.

A equipe do Já é Notícia realizou uma relevante pesquisa junto à central de dados de acidentes de trânsito do 3º BPM. Cabe destacar que a unidade tem um completo banco com dados de sinistros de trânsito em toda área de atuação, que engloba os perímetros urbanos e rurais de Arapiraca e mais 15 municípios.

Os números apontaram que em 2012 ocorreram 535 acidentes nas vias urbanas de Arapiraca e mais 260 nas rodovias estaduais (AL-110, 220 e 115, principalmente) e outros municípios da área de atuação do 3º BPM.

Nesses 535 acidentes, 9 pessoas vieram a óbito. Nas rodovias e demais municípios atendidos pelo batalhão foram 79 mortes – um número bastante significativo. Ou seja, morreram 88 pessoas na área do Guardião do Agreste em 2012. Levantou-se também que em 2012, 607 motos se envolveram em acidentes. Observem, ainda, sobre o poder de lesão dos acidentes que ocorrem nas rodovias.

Em 2013, 584 acidentes ocorreram na malha viária urbana de Arapiraca e 333 na outra parte da área de atuação do 3º BPM (nas rodovias e demais cidades). O número de mortes também foi de 88 em toda área de atuação do batalhão. Nas vias urbanas arapiraquenses foram 12 vítimas fatais ao passo que morreram 76 pessoas nas rodovias e outros municipios pertencentes a unidade, ou seja, 88 vítimas fatais. Em 2013 contabilizou-se o número de 659 motocicletas envolvidas em sinistros de trânsito.

Nos últimos dois anos, isto é, em 2012 e 2013, 176 pessoas morreram em toda a região que abrange a área do 3º BPM. Dentro da malha viária urbana da cidade de Arapiraca foram 21 mortes neste mesmo período e 153 mortes nas rodovias e demais municípios atendidos pelo batalhão.

Cabe frisar que o 3º Batalhão de Polícia Militar fornece Boletins de Acidentes de Trânsito (BOAT), contabilizando dados que vão além da análise no local. Por exemplo, num determinado acidente a vítima pode não ter falecido no lugar do sinistro, mas posteriormente quando os familiares chegam à unidade para solicitar o boletim os dados são repassados (fase de depuração).