Telexfree, bloqueada, ainda permite registros a partir do Brasil

Por IG 22/12/2013 12h12
Por IG 22/12/2013 12h12
Telexfree, bloqueada, ainda permite registros a partir do Brasil
Foto: Divulgação
 A Telexfree ainda permite cadastros de moradores do Brasil – apesar de uma decisão judicial ter impedido o negócio no País há seis meses, por suspeita de ser uma pirâmide financeira. Nesta semana, o iG conseguiu se inscrever e indicar um endereço brasileiro no sistema de pagamentos contratado pela empresa, o E-Wallet.

Apresentada como um modelo de ganhar dinheiro com venda de serviço de telefonia VoIP e colocação de anúncios na na internet, a Telexfree conquistou 1 milhão de pessoas no País, chamados de divulgadores. Para se ter uma ideia do sucesso, o termo "Telexfreee" foi o segundo mais buscado no Google em 2013. Bateu, inclusive, a novela "Salve Jorge" e o reality show "A Fazenda".

Desde junho, quem acessa o site em português da Telexfree encontra um aviso de que a “estão proibidas novas adesões à rede Telexfree”. A determinação foi imposta pela 2ª Vara Cível de Rio Branco, a pedido do Ministério Público do Acre (MP-AC), que investiga a empresa.

Para driblar o bloqueio, basta um clique, conforme explica um divulgador que conversou com a reportagem do iG por meio do Skype – em tese, um concorrente do Voip da Telexfree – sem se identificar.


“Acessa o site normal [da Telexfree] e clika [sic] na bandeira americana”, orienta o divulgador João*, que indicou a reportagem para que fizesse parte do grupo de divulgadores. “Vamos acessar o site americano.”

Orientação semelhante foi recebida do divulgador Sílvio*, ao qual a reportagem chegou por indicação de Fanny*, apontada como uma da “top 10” integrantes da Telexfree nos Estados Unidos.

Para o MP-AC, o serviço de Voip, apontado como uma das principais fontes de faturamento da empresa, é apenas uma fachada. Os recursos obtidos pela empresa viriam das taxas de adesão pagas pelos divulgadores, que vão de US$ 289 a a US$ 1.375.

"Quando entrei, eu pretendi apenas fazer as postagens [de anúncios], mas a Fanny começou a enviar pessoas. Aí eu fui cadastrando e fazendo binário e trinário e residual [termos usados para identificar os bônus pagos pela Telexfree]. Agora minha renda ao todo é R$ 5.200", conta Sílvio, que afirma estar há cinco meses "na rede dos EUA".

São Paulo, Massachusetts

Na página de cadastro, o Brasil está ausente da lista de países de residência, mesmo no site em inglês. Mas o interessado em fazer parte do grupo pode, mesmo depois de informar que mora na cidade de São Paulo, escolher o estado americano de Massachusetts, por exemplo, conforme indicado pelo site, e completar o cadastro, como fez o iG.

Concluído o cadastramento, é preciso registrar-se no E-Wallet, um sistema americano de transação de dinheiro pela internet. Nele, é possível escolher Brasil como o país de residência.



Colocar o endereço correto é necessário, uma vez que, de acordo com os divulgadores consultados, é para onde será enviado o cartão da E-Wallet que permite sacar, no Brasil, os rendimentos obtidos com a Telexfree. O sistema, entretanto, permite transferências para cartões de crédito ou débito. Os saques podem ser feitos no Brasil em caixas eletrônicos de cinco bancos, segundo informa o vídeo da Telexfree.

"Vc pode sacar com o cartão de debito que eles lhe envia [sic] no endereço do Brasil", diz Sílvio.

A reportagem não chegou a fazer transações de dinheiro pelo sistema, e a Telexfree não comentou as informações. Em e-mail, a equipe do sistema E-Wallet informou haver "restrição" ao acesso a partir do Brasil, e orientou a reportagem a procurar a Telexfree.

Empresas nos EUA

A decisão que bloqueou as atividades da Telexfree no Brasil foi emitida contra a Ympactus Comercial LTDA., empresa fundada em 2010 no Espírito Santo, e contra os seus sócios Carlos Costa, Carlos Wanzeler e James Matthew Merrill.

O grupo detém outras duas empresas nos Estados Unidos: a Telexfree Inc, fundada em 2002 em Massachusetts e que tem Merril e Wanzeler como diretores; e a Telexfree LLC, de Nevada, administrada por Costa, Merril e Wanzeler.

Em novembro, Costa afirmou ter proposto ao MP-AC a possibilidade de os divulgadores do Brasil participarem da "Telexfree americana". A proposta não foi aceita.

Para a promotora Alessandra Marques, uma das responsáveis pela apuração, o MP-AC poderá acusar os sócios de estarem descumprindo a decisão judicial se ficar provado que estão por trás da continuidade dos cadastros de brasileiros na rede Telexfree.

“Se ficar provado o descumprimento da decisão da juiza, nós pediremos a multa. Se ficar comprovado, nós vamos pegar o dinheiro bloqueado e executar a multa”, afirmou Alessandra à reportagem.

A reportagem procurou dois advogados da Telexfree e a IPayout System. Ambas não quiseram comentar as informações para a reportagem.

* Os nomes dos entrevistados foram modificados para preservar sua identidade.