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Representatividade no Oscar: A influência do audiovisual nas periferias
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O cinema continua sendo uma das linguagens artísticas que mais influenciam a sociedade, pois, além de romper barreiras culturais, ele conecta pessoas e estimula reflexões. Por isso, a inclusão do audiovisual em territórios periféricos tem um impacto significativo, não apenas no cenário cultural local, mas também em sua influência no circuito global, incluindo premiações como o Oscar e outros festivais renomados.
O fortalecimento do cinema nas periferias e em áreas marginalizadas oferece uma nova perspectiva de representatividade, podendo, ao longo dos anos, transformar a maneira como as produções são avaliadas pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas.
Historicamente, o Oscar foi criticado por sua falta de representatividade e diversidade em suas indicações — tanto em termos de gênero quanto de raça, cultura e origem geográfica. No entanto, nas últimas edições, essa realidade tem mudado. Um exemplo disso são os novos critérios de elegibilidade para a categoria de Melhor Filme, que exigem o cumprimento de pelo menos dois dos quatro padrões ligados à diversidade.
O maior acesso ao audiovisual nas comunidades carentes, por meio de cursos e oficinas, tem sido fundamental para revelar novos talentos, histórias e realidades que antes não encontravam espaço nas grandes produções hollywoodianas.
No Brasil, alguns exemplos mostram esse avanço. O filme “Marmita”, produzido na periferia de Assis, foi premiado na Mostra de Cinema de Tiradentes. “Kasa Branca”, dirigido por Luciano Vidigal, teve destaque em festivais nacionais e internacionais em 2024 e vem conquistando espaço no circuito comercial. Já “Mato Seco em Chamas” obteve reconhecimento em festivais europeus, reforçando a potência do cinema periférico brasileiro.
No cenário internacional, filmes como “Parasita”(2019), vencedor do Oscar de Melhor Filme e Melhor Diretor, e “Roma” (2018), amplamente indicado e premiado, demonstram que o cinema produzido fora dos grandes estúdios de Hollywood pode ter qualidade, relevância e impacto global. O sucesso dessas produções evidencia que narrativas periféricas e independentes podem influenciar diretamente as tendências da premiação mais prestigiada do audiovisual.
O Papel da Inclusão e os Novos Caminhos
A inserção de jovens de comunidades carentes no mundo audiovisual tem levado à criação de novas narrativas, abordando questões sociais, culturais e econômicas que refletem suas realidades. Esses filmes, frequentemente marcados por uma estética mais crua e histórias mais próximas da vivência periférica, começam a alcançar um público mais amplo, incluindo os membros da Academia.
Os Desafios
Apesar dos avanços, o caminho para que essas produções cheguem ao Oscar ainda é longo e repleto de desafios. A falta de infraestrutura, o acesso limitado a recursos de produção e as barreiras geográficas continuam sendo obstáculos para que filmes periféricos consigam reconhecimento nas grandes premiações internacionais.
No entanto, com o surgimento de mais cineastas oriundos dessas comunidades e a produção de filmes inovadores e potentes, esses desafios começam a ser superados, abrindo novas oportunidades para maior visibilidade e reconhecimento.
Nos últimos anos, no Brasil, iniciativas governamentais têm incentivado a cultura periférica e o cinema independente, especialmente no Nordeste. O investimento em coletivos e núcleos de produção audiovisual espalhados pelo país tem sido um passo importante para que essas produções ganhem espaço nos festivais e, futuramente, possam disputar premiações de prestígio.
Esse movimento também reflete uma transformação na forma como o cinema é consumido e apreciado. Se antes o Oscar era dominado por filmes feitos por e para uma elite cultural, agora a premiação começa a se tornar mais plural, representando diferentes classes sociais, culturas, etnias e visões de mundo.
O Oscar de 2025 já demonstra uma maior diversidade, e, se o movimento de inclusão audiovisual continuar crescendo, as edições futuras poderão se tornar ainda mais representativas. A popularização do cinema nas comunidades carentes e a valorização de novas vozes na produção cinematográfica têm o poder de transformar o Oscar, tornando-o mais fiel à diversidade do mundo atual.
O cinema não é apenas uma ferramenta de entretenimento, mas uma força social capaz de mudar realidades. Quando ele se torna acessível para todos e todas, independentemente de sua origem, abre espaço para narrativas mais plurais e autênticas, enriquecendo a experiência cinematográfica global.
Confira abaixo as matérias publicadas em colaboração com o Mídia Ninja/ Cine Ninja:
Produções populares e de prestígio que ficaram fora das principais categorias do Oscar 2025
O papel da trilha sonora como personagem do filme ‘Ainda Estou Aqui’
Gêneros dominantes no Oscar: tendências e transformações nas indicações de 2025
O silêncio que ecoa: a influência de ‘Ainda Estou Aqui’ no debate sobre saúde mental no cinema
A solidão na era digital: Como ‘Ainda Estou Aqui’ aborda a desconexão na sociedade moderna
A escassez de filmes latino-americanos recebendo premiações no Oscar
‘Conclave’: filme vai além de questões religiosas e aborda diversidade social
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Lôh Alves
Uma alagoana cheia de virtudes e vicissitudes; comunicadora e amante das letras. Acredita que jornalismo é mais que vocação, é paixão. Desde 2014 desempenha várias funções no ambiente do ciberespaço para se consolidar e assumir novas tarefas na comunicação.
É contando e ouvindo histórias que as memórias culturais e afetivas são resgatadas, fundamentais para descobrir quem somos e como lidamos com os outros. Neste blog, vocês poderão ter essa experiência.
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