Pastor ameaça pessoas em situação de rua em MG: 'Dois tiros na cabeça'

Por Redação, com UOL 12/09/2025 08h08 - Atualizado em 12/09/2025 09h09
Por Redação, com UOL 12/09/2025 08h08 Atualizado em 12/09/2025 09h09
Pastor ameaça pessoas em situação de rua em MG: 'Dois tiros na cabeça'
Pastor faz ameaças - Foto: Reprodução

Um pastor que atua com dependentes químicos disse em uma reunião da Câmara de Divinópolis (MG) que expulsava pessoas em situação de rua da cidade com ameaças de morte. O vídeo repercutiu nas redes e o caso está sendo denunciado ao Ministério Público.

O que aconteceu

A fala ocorreu durante uma reunião da Comissão de Justiça, que discutia o funcionamento de comunidades terapêuticas no município. Realizado no dia 4 e transmitido ao vivo pelo Legislativo, o encontro tinha como pauta instituições consideradas clandestinas e alvo de denúncias de intolerância religiosa, endividamento forçado e exploração de trabalho.

O pastor admitiu ameaçar pessoas em situação de rua. "Você é de Campo Grande? Você vai embora agora. Se atravessar aquela ponte, amanhã às 4 horas da tarde eu vou fazer seu sepultamento. É só eu dar a ligada aqui e você vai tomar dois tiros na cabeça."

Ele afirmou que passou três anos e meio atuando na Praça Candidés, onde teria retirado mais de 300 pessoas e "limpado" o espaço. Segundo ele, a ação no local, considerado o marco zero da cidade, era apoiada por um coronel da Polícia Militar e por dez homens. O pastor disse oferecer pão e café para "atrair amizade" antes de levar moradores para cidades vizinhas.

As declarações não foram contestadas pelos vereadores presentes. Durante a reunião, eles apenas fizeram intervenção para controlar o tempo da fala, sem se posicionar contra o conteúdo.

O religioso também se referiu de forma pejorativa a pessoas em situação de rua. Ele usou termos como "vagabundos" e "pilantras" e disse que não se via obrigado a oferecer comida sem uma "solução definitiva" do poder público. "Eu vou engordar vagabundo?", questionou.

Ele afirmou que sua atuação preenchia uma lacuna deixada pela polícia. Segundo ele, a corporação não poderia agir sem risco de punição, mas como cidadão ele teria liberdade para fazê-lo.

O UOL procurou o pastor em seu perfil pessoal no Instagram e pelo WhatsApp do projeto dele. Até a publicação da reportagem, ele não havia respondido. A PM de Minas Gerais também foi acionada por e-mail. 

Contexto do debate

O religioso é líder do projeto, que se apresenta nas redes como comunidade terapêutica. A instituição afirma prestar serviços "de apoio à dependência química" e já atuou em acolhimento de pessoas em tratamento. Foi nessa condição que o pastor participou da reunião da Comissão de Justiça da Câmara.

A polêmica em torno das ações envolvendo pessoas em situação de rua inclui o prefeito da cidade. Em vídeo publicado nas redes sociais, o prefeito Gleidson Azevedo (Novo) apareceu ao lado da secretária de Desenvolvimento Social, Juliana Coelho, e dos vereadores Matheus Dias (Avante) e Wellington Well (PP). 

Na gravação, eles acusaram cidades vizinhas de enviarem pessoas em situação de rua para Divinópolis. O prefeito chegou a afirmar que não atenderia pessoas vindas de fora.

A secretária e os vereadores também participaram da reunião da Comissão de Justiça. Foi no mesmo encontro que o pastor fez as declarações que geraram repercussão.

Vereador repudia fala do pastor, mas defende gestão municipal.

Ao UOL, Wellington Well (PP) disse que interveio logo após as declarações e que o caso será encaminhado ao Ministério Público. "Repudio a fala dele, tanto que fiz uma fala na sequência justamente sobre essa situação, que não era aquilo que estávamos tratando. Tudo que a gente levantar será encaminhado ao Ministério Público", afirmou. 

Ele também elogiou a rede municipal de acolhimento, dizendo que encontrou atendimento "de qualidade" e com respeito à dignidade humana.

Vereador considera críticas como pauta ideológica. 

Em vídeo postado ontem (10) nas redes sociais, Wellington disse que pessoas em situação de rua "não podem virar pauta ideológica" e afirmou tratar o tema como uma "missão" pessoal, não uma disputa política. Ele reforçou que cada convidado responde por suas falas e defendeu a secretária Juliana Coelho, afirmando que a prefeitura mantém o trabalho de acolhimento.

O vereador Matheus Dias (Avante) foi procurado pelo UOL por meio de WhatsApp e Instagram. Até a publicação da reportagem ele não havia respondido. A secretária Juliana Coelho e a prefeitura de Divinópolis foram contatadas, por meio de WhatsApp e por e-mail, mas não responderam aos questionamentos.