O trabalho remoto se popularizou quando as pessoas tiveram que ficar em casa para refrear a pandemia de Covid-19. Depois, o mundo aceitou bem o modelo híbrido como parte de um “novo normal” com trabalho em home-office durante uma parte da semana. Mas, em pleno 2025, vimos um retorno ao modelo presencial ganhar força no mercado de trabalho. A exemplo do decreto anunciado pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, esse foi o posicionamento de várias empresas nos últimos meses.

Trabalho remoto em desaceleração

O modelo de trabalho remoto revolucionou o mercado com as possibilidades abertas na era digital. Desde o momento de fazer currículo online grátis (PDF) e enviar para empresas ao redor do mundo até a rotina de trabalho com interações 100% virtuais, tudo passou a depender da internet. Mas o clima de novidade e aspiração ao estilo de vida nômade digital foi ficando para trás.

De acordo com um levantamento publicado pela Consultoria Lema e a startup francesa Swile, só 13,3% das organizações mantinham o modelo totalmente remoto em 2024. O mesmo estudo apontou uma ascensão dos modelos de trabalho presencial no Brasil — ou um modelo híbrido com menos dias fora da empresa. Além disso, cerca de 16% dos colaboradores indicaram a preferência pelo trabalho presencial em uma pesquisa da agência Ernst & Young sobre o contexto brasileiro

Por outro lado, isso não significa que faltarão oportunidades de emprego em home-office, principalmente quando há demanda por profissionais com qualificações ou habilidades específicas Nesses casos, é comum as empresas abrirem espaço para candidatos que moram em outros locais. Além disso, é possível encontrar trabalho 100% remoto em startups e empresas que já se lançaram em um ambiente totalmente online.

Trabalho remoto vs. presencial ou híbrido

O modelo de trabalho é cada vez mais decisivo nas negociações dos contratos de emprego. Afinal, a flexibilidade pode ser tão valiosa quanto o salário e benefícios como plano de saúde para alguns profissionais. Confira algumas das perspectivas atuais sobre o trabalho remoto, presencial ou híbrido.

Para as empresas

O bilionário Elon Musk, que agora faz parte do governo Trump, é um dos empresários a favor do completo retorno às atividades presenciais. Musk argumenta que trabalhar em home-office simboliza uma divisão de classes, pois profissionais que trabalham remotamente tendem a ter formação universitária e uma melhor condição social.

Também há quem defenda que esse modelo estimula a troca de experiências, a correta orientação da força de trabalho e o desenvolvimento de uma cultura da empresa. Mas a verdade é que muitos CEOs temem uma perda de controle e afirmam que o trabalho em casa é improdutivo ou ineficaz para a conquista dos objetivos organizacionais.

Nesse cenário, a tendência é de reduzir as contratações para trabalho remoto. Até empresas inovadoras como a Amazon têm planos com vantagens para colaboradores que voltarem ao trabalho totalmente presencial. Ainda assim, o modelo de trabalho híbrido pode ser uma solução conciliadora para atender às expectativas de flexibilização no dia a dia, reduzindo os impactos negativos da alta rotatividade de pessoal e os gastos com recrutamento e seleção profissional.

Para as pessoas

Os ambientes corporativos parecem ter “voltado à moda” nos filmes e séries em alta nos últimos meses, retomando um espaço que vinha sendo tomado pelo nomadismo digital. Isso pode fazer mais sentido para quem sente falta do cotidiano no escritório ou prefere fincar os pés naquele chão para se proteger das incertezas do cenário econômico.

Mas é importante reconhecer que a popularização do teletrabalho acelerou o acesso a tecnologias que muitas pessoas nunca tinham usado antes. Isso gerou mudanças de hábitos e fez diferença para a saúde mental — reduzindo a poluição e os gastos pessoais com transporte, alimentação fora de casa, medicamentos etc.

E o trabalho remoto também alavancou oportunidades de emprego para pessoas com deficiência, profissionais que precisam cuidar dos filhos ou parentes idosos e até para ganhar uma renda extra. Quem prefere a flexibilidade desse modelo tende a sentir mais satisfação no trabalho sem comparecer à empresa diariamente.

Seja em casa ou em qualquer parte do mundo, é possível trabalhar, pagar impostos e movimentar a economia. É por isso que a opção de trabalho remoto segue como preferência de grande parte dos assalariados no Brasil, mesmo que seja no modelo híbrido com um ou dois dias de home-office.

Referências

RICHARDSON, Julia. Trump deu um basta no trabalho remoto. Você S/A, 2025. Disponível em: https://vocesa.abril.com.br/sociedade/trump-deu-um-basta-no-trabalho-remoto-veja-por-que-o-mundo-nao-deveria-seguir-descuidadamente. Acesso em 23 de fevereiro de 2025.

YAMAKAMI, Letícia. Home office de 2 dias semanais é o favorito de 61% das empresas brasileiras. Veja, 2025. Disponível em: https://veja.abril.com.br/economia/home-office-de-2-dias-semanais-e-o-favorito-de-61-das-empresas-brasileiras. Acesso em 23 de fevereiro de 2025.

KAMAKURA, Oliver. Trabalho híbrido vs. remoto: desafios no contexto brasileiro. Ernst & Young Brasil (EY), 2024. Disponível em: https://www.ey.com/pt_br/insights/workforce/trabalho-hibrido-vs-remoto. Acesso em: 23 de fevereiro de 20205.

LUQUE, Hugo. Praticidade e flexibilidade motivam crescimento do nomadismo digital no mundo. Jornal da USP, 2021. Disponível em: https://jornal.usp.br/radio-usp/jornal-da-usp-no-ar-2/praticidade-e-flexibilidade-motivam-crescimento-do-nomadismo-digital-no-mundo/. Acesso em: 23 de fevereiro de 20205.

RIBAS, Roberto. O ‘fim’ do home office: Equilíbrio ou retrocesso das empresas? Money Times, 2025. Disponível em: https://www.moneytimes.com.br/o-fim-do-home-office-equilibrio-ou-retrocesso-nas-empresas-jals/. Acesso em: 23 de fevereiro de 20205.