Cacá Diegues produziu clássicos brasileiros e deixa filme inédito; relembre trajetória do cineasta

Por Redação, com g1 14/02/2025 09h09
Por Redação, com g1 14/02/2025 09h09
Cacá Diegues produziu clássicos brasileiros e deixa filme inédito; relembre trajetória do cineasta
Cacá Diegues - Foto: Alberto Pizzoli/AFP

Morreu nesta sexta-feira (14) o cineasta, produtor e escritor Carlos José Fontes Diegues, conhecido como Cacá Diegues, aos 84 anos. Ele faleceu depois de complicações em uma cirurgia.

Natural de Maceió, no Alagoas, Diegues foi um dos fundadores do Cinema Novo e um dos cineastas mais respeitados do cinema brasileiro. Ao produzir filmes como "Orfeu", "Tieta do Agreste", "Bye Bye Brasil" e "Xica da Silva", se debruçou sobre a identidade social e cultural do povo brasileiro.

Cacá e o Cinema Novo

Filho de um antropólogo e uma fazendeira, Cacá cresceu no Rio de Janeiro. Cursou Direito na PUC-Rio e, já na faculdade, fundou um cineclube ao lado de nomes como David Neves e Arnaldo Jabor. Também foi diretor de "O Metropolitano", jornal da União Metropolitana dos Estudantes. O cineclube e o jornal se tornaram núcleos de fundação do Cinema Novo.

Com o lema "uma câmera na mão e uma ideia na cabeça”, Diegues fez parte do célebre grupo de Glauber Rocha, Nelson Pereira dos Santos, Leon Hirszman e mais. O movimento foi vital para o cinema nacional nos anos 60 e 70, inspirado no neorrealismo italiano e a Nouvelle Vague francesa - mas acima de tudo, enraizado na cultura brasileira.

"Só com a febril atividade cineclubista, no finalzinho dos anos 1950, encontrei gente da minha idade que tinha, a propósito de cinema, o mesmo sonho que eu. E o encontro com gente que sonha com o que sonhamos, sempre nos fortalece. Essa foi, para nós todos, a lenha que alimentou o fogo do surgimento do Cinema Novo", disse em seu discurso de posse da ABL em 2019.

Diegues dirigiu "Escola de Samba Alegria de Viver", seu primeiro filme profissional, em 1962. Também passou a trabalhar como jornalista, fazia ensaios cinematográficos e refletia sobre uma utopia brasileira. Opôs-se também à Ditadura Militar, debatendo sobre política e cultura em suas obras.

Cacá produziu obras que são consideradas parte essencial do cinema brasileiro. Trabalhou em filmes, comerciais e videoclipes. Em suas produções, falava sobre a história política, social e cultural do país.

Sete de suas obras já disputaram uma indicação ao Oscar: "Xica da Silva" (1977), "Bye bye, Brasil" (1980), "Um trem para as estrelas" (1987), "Dias melhores virão" (1989), "Tieta do Agreste" (1997), "Orfeu" (2000) e "O Grande Circo Místico" (2018).

Também são filmes dele: “Ganga Zumba” (1964), “Os herdeiros” (1969), “Joanna Francesa” (1973), “Chuvas de verão” (1978), “Quilombo” (1984), “O maior amor do mundo” (2005) e mais.

Cacá produziu filmes até o fim de sua vida, sendo um dos poucos cineastas veteranos que ainda estava em atividade após a promulgação da Lei do Audiovisual em 1993.

O cineasta deixa "Deus Ainda É Brasileiro", "continuação" ainda não lançada de "Deus é Brasileiro" (2003), que era produzida desde 2022. Ele se inspirou pelos anos da pandemia e os acontecimentos políticos para refletir sobre o "caráter brasileiro", contou ao g1.

“Esse filme aborda um outro momento da nossa história, em que Deus retorna ao Brasil para tentar recuperar a esperança na humanidade. Eu costumo dizer que esse filme é uma comédia cívica, por causa do seu tom patriótico".

Vida e família

Cacá era oficial da Ordem das Artes e das Letras (l'Ordre des Arts et des Lettres) da República Francesa, membro da Cinemateca Francesa. Também tinha o título de Comendador da Ordem de Mérito Cultural e a Medalha da Ordem de Rio Branco, a mais alta do país.

O cineasta foi eleito parte da Academia Brasileira de Letras (ABL) em 2018, e tomou posse em 2019. Ele herdou o lugar deixado pelo também cineasta Nelson Pereira dos Santos. Os dois eram amigos.

Antes deles, a Cadeira 7 já pertenceu a nomes como o do escritor Euclides da Cunha e do fundador da ABL Valentim Magalhães – que escolheu como patrono Castro Alves. Outros ocupantes: Afrânio Peixoto, Afonso Pena Júnior, Hermes Lima, Pontes de Miranda, Dinah Silveira de Queiroz e Sergio Corrêa da Costa.

Cacá foi casado com a cantora Nara Leão, entre 1967 e 1977. Juntos, viveram na Itália e na França, após a promulgação do AI-5. Tiveram dois filhos: Isabel e Francisco.

Ele era casado, desde 1981, com a produtora de cinema Renata Almeida Magalhães.

Em 2019, perdeu a filha Flora, vítima de um câncer no cérebro aos 34 anos. O cineasta deixa três netos.