Esquema chefiado por pastores prometia um 'octilhão' de reais para fiéis de igrejas; operação cumpriu 15 mandados

Por Redação, com g1 31/01/2025 09h09
Por Redação, com g1 31/01/2025 09h09
Esquema chefiado por pastores prometia um 'octilhão' de reais para fiéis de igrejas; operação cumpriu 15 mandados
Operação da Polícia Civil do DF contra grupo suspeito de golpe que prometia um 'octilhão' a fiéis - Foto: Reprodução

Na quinta-feira (30), a Polícia Civil do Distrito Federal deflagrou uma nova fase da operação que investiga um grupo suspeito de praticar golpes financeiros contra mais de 50 mil vítimas do Brasil e do no exterior. Foram cumpridos 15 mandados de busca e apreensão contra os principais membros da organização — cinco deles se apresentavam como líderes religiosos.

A primeira fase da operação ocorreu em 2023. Desta vez, os mandados ocorreram no Distrito Federal, Goiás, Minas Gerais, Pará, Paraná, Santa Catarina e São Paulo.

De acordo com a Polícia Civil, o grupo agia nas igrejas, durante os cultos, e também nas redes sociais. Os suspeitos usavam uma teoria conspiratória conhecida como "Nesara Gesara" e prometiam lucro de até um "octilhão" de reais aos fiéis (saiba mais abaixo).

🔎"Nesara Gesarasa": teoria conspiratória que começou com uma tese de doutorado no início dos anos 1990, nos Estados Unidos.

Veja o que se sabe sobre o esquema

Segundo a Polícia Civil do Distrito Federal, o grupo criminoso é composto por 200 integrantes, incluindo dezenas de pastores. Dentro das igrejas, os fiéis eram incentivados a investir as economias em falsas operações financeiras ou projetos de ações humanitárias que não existiam.

Os criminosos prometiam "retorno imediato e rentabilidade estratosférica". Conforme a investigação, os fiéis eram induzidos a pensar que eram "abençoados por Deus para receber grandes quantias".

As redes sociais também eram usadas para cometer os golpes. O grupo anunciava ganhos de até um "octilhão" de reais e 350 "bilhões de centilhões" de euros.

A Polícia Civil do DF diz que o grupo movimentou R$ 156 milhões em 5 anos, além de criar 40 empresas fantasmas e movimentar mais de 800 contas bancárias suspeitas.

O que é Nesara Gesara?

Para convencer os fiéis a investir, o grupo usava uma teoria da conspiração chamada "Nesara Gesara". A ideia, no entanto, começou com uma tese de doutorado no início dos anos 1990, nos Estados Unidos.

Conforme um podcast da BBC, que foi ao ar em agosto de 2021, em um dos seus estudos, Harvey Francis Barnard propôs um pacote de reformas econômicas que previam abolição de impostos, perdão de dívidas de consumidores e mudança radical no sistema monetário.

A ideia foi batizada de National Economic Security and Recovering Act (Nesara) — inglês para Ato para Recuperação e Segurança da Economia Nacional. Nos anos 2000, a teoria ganhou força com ares de teoria da conspiração, a partir da blogueira estadunidense Shaini Goodwin.

Segundo ela, o Nesara já havia sido aprovado pelo ex-presidente dos EUA Bill Clinton — que governou o país entre 1993 e 2001 —, o que não é verdade. Goodwin defendia ainda que os ataques do dia 11 de setembro haviam sido armados pelo também ex-presidente George W. Bush, com o objetivo de barrar a implementação do Nesara.

Um octilhão existe?

Sim, ele existe na escala numérica! Afinal, os números são infinitos, explica Ricardo Balistiero, que é doutor e professor de economia no curso de Administração do Instituto Mauá de Tecnologia (IMT).

Entretanto, é impossível aplicá-lo em uma escala financeira realista – o octilhão tem três vezes mais zeros do que o bilhão.
O economista e professor Cesar Bergo, da Universidade de Brasília (UnB), explica que, ainda que fossem reunidas as riquezas de todos os países do mundo, não chegaria nem perto dos valores prometidos pelos golpistas.

Quantas pessoas foram vítimas do esquema?

Segundo a Polícia Civil do DF, foram feitas mais de 50 mil vítimas em todo o Brasil e no exterior.

De quanto foi o prejuízo das vítimas?

Algumas vítimas tiveram perdas milionárias, mas, segundo a polícia, em muitos casos os estelionatários se valiam de um grande volume de pequenos investimentos.

Por quais crimes os investigados vão responder?

Eles devem responder por estelionato, falsificação de documentos, falsidade ideológica, organização criminosa e lavagem de dinheiro.