Herança de 32 milhões de Cruzados 'esquecida' em mala valeria R$ 23,6 milhões se fosse corrigida pela inflação, diz economista
Os 32 milhões de Cruzados encontrados pelo técnico de manutenção Waloar Pereira Magalhães e os irmãos, após o falecimento do pai, valeriam em torno de R$ 23,6 milhões se fossem atualizados pela inflação acumulada entre 1990 e 2024. A conta é apenas para fins de comparação, pois atualmente a "fortuna" não possui valor financeiro oficial. (Entenda mais abaixo)
O cálculo foi feito a partir do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), pelo conselheiro do Conselho Federal de Economia (Cofecon) e mestre pela Universidade de Oxford, no Reino Unido, Eduardo Araújo.
"Esta atualização foi feita usando o IPCA, que representa o índice oficial de inflação no Brasil e reflete o aumento médio dos preços no período. O cálculo foi feito sem incluir qualquer rendimento adicional, como taxas de juros (por exemplo, que se tem ao deixar dinheiro investido), o que torna o valor conservador e fiel ao impacto da inflação", disse.
A 'herança' de 32 milhões de Cruzados foi encontrada pelos filhos do Paulo Abreu, após o falecimento dele aos 77 anos, em 2012. Além de uma garrafa cheia de moedas, o idoso também deixou uma mala repleta de maços de cédulas.
O Cruzado circulou no Brasil entre 1986 e 1989. Depois do Cruzado, vieram o Cruzado Novo (1989-1990), o Cruzeiro (1990-1993), o Cruzeiro Real (1993-1994) e, finalmente, o Real.
"Considerando que o Brasil passou por diversos planos econômicos, o valor atualizado representa uma estimativa do que seria necessário hoje para preservar o poder de compra original daquele montante, corrigido apenas pela variação de preços ao longo dos anos", diz o conselheiro.
Waloar Pereira conta que o pai, Paulo Abreu, foi garimpeiro, trabalhou como dentista e com a compra e venda de imóveis. O dinheiro foi guardado em uma 'poupança física', por mais de 30 anos, porque o idoso não confiava em bancos.
Os filhos de Paulo Abreu sabiam da garrafa com moedas que ficava à vista, mas desconheciam a existência da mala até a morte do pai. Após a descoberta, o Waloar guardou o dinheiro até 2024, quando viu uma reportagem falando sobre moedas antigas e decidiu tentar vendê-las.
Segundo o Banco Central, o prazo de recolhimento dos Cruzados se encerrou em 31/07/1989 para as cédulas de Cz$ 1 e Cz$ 5 e em 30/09/1989 para as cédulas de Cz$ 10, Cz$ 50 e Cz$ 100. Ou seja, não é mais possível converter em real a moeda antiga.
O conselheiro Eduardo Araújo explica que se o dinheiro tivesse sido trocado quando novas moedas surgiram e investido em uma instituição financeira, o valor da fortuna seria bem maior.
"Aplicados em um investimento conservador com rendimentos básicos, como a taxa Selic, o valor hoje seria significativamente maior que R$ 23,6 milhões."
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Quanto valia a fortuna na década de 1980
O colecionador Rafael Augusto, membro da Sociedade Numismática Brasileira (SNB) e proprietário de um site de leilões, avaliou o tamanho da fortuna na época. Segundo ele, o dinheiro daria para comprar pelo menos oito casas em 1988.
“Vamos assumir como base o final do plano Cruzado (dezembro de 1988), de acordo com um anúncio no Jornal do Brasil de 28 de dezembro de 1988 era possível comprar uma casa de madeira com 2 quartos, sala, cozinha e banheiro, feita sob encomenda, pelo equivalente a 3.890.000 de Cruzados. Portanto os 32 milhões de cruzados, em tese, comprariam oito casas dessas e ainda sobraria troco”, explicou.
Outro caminho para avaliar o valor da fortuna seria com base no salário mínimo oficial da época.
“Com base no salário mínimo da época (40.425 Cruzados), ele tinha aproximadamente pouco mais de 791 salários mínimos.”
O cálculo feito pelo especialista utiliza o salário mínimo que vigorava no início de dezembro 1988, no último ano de circulação dos Cruzados. Durante este mesmo ano a moeda e o salário variaram bastante.
Fortuna esquecida em mala perdeu o valor financeiro
Segundo especialistas, as notas e moedas encontradas pelos irmãos não têm valor financeiro, mas poderiam interessar a colecionadores. "Infelizmente, hoje, todo esse montante praticamente não tem mais valor financeiro, apenas valor histórico, pois são cédulas e moedas muito comuns entre os colecionadores por terem sido feitas em enorme quantidade devido ao período de grande inflação”, disse o especialista.
O valor de cada nota, segundo o especialista, está em centavos de real. "Para colecionadores, que revenderiam a grande maioria das peças ou para artesãos ou para desmanche do metal, o valor aproximado de todo esse achado seria na faixa de 10 a 20 centavos por cada nota, e 10 a 20 reais o quilo das moedas."