Único sobrevivente de van com equipe de remo conta o que lembra da tragédia

Por g1 22/10/2024 15h03 - Atualizado em 22/10/2024 15h03
Por g1 22/10/2024 15h03 Atualizado em 22/10/2024 15h03
Único sobrevivente de van com equipe de remo conta o que lembra da tragédia
Amigos colocaram cartazes no portão da casa onde mora sobrevivente de acidente no PR - Foto: Júlia Barros/RBS TV

O único integrante da equipe de remo de Pelotas a sobreviver ao acidente ocorrido na BR-376, em Guaratuba (PR), falou com exclusividade à RBS TV nesta terça-feira (22). João Pedro Milgarejo, de 17 anos, contou que, no momento da colisão, estava dormindo no fundo da van, que foi atingida por uma carreta. Nove pessoas morreram.

"Quando eu acordei, nem sabia o que tava acontecendo. Depois que eu fui ver que tava tudo desmoronado. [...] Quando eu saí daquela van, eu já sabia que ia ser só eu, não tinha como mais ninguém sobreviver", relembra.

Após o resgate, o atleta recorda que "apagou" na ambulância. Quando ele lembra de ter retomado a consciência, já estava no hospital de Joinville (SC), para onde foi encaminhado com ferimentos leves.

O jovem recebeu alta na segunda-feira (21) e retornou ao RS com a família a bordo de um avião do governo gaúcho. Ele teve apenas machucados no rosto e torção em um dos pés, que ficou preso ao banco quando a van tombou.

"Meus pêsames por todo mundo que não sobreviveu. Meus amigos, meu treinador e pela família deles, sinto muito", solidariza-se.
Milgarejo disse que pretende comparecer ao velório coletivo. A cerimônia deve ter início na tarde desta terça na sede campestre do clube Centro Português 1º Dezembro, onde os atletas treinavam.

"Eles sempre estavam comigo em qualquer momento, não vai ser agora que eu vou deixar eles", pontua.

O atleta afirma que seguirá remando assim que se recuperar. Pelos colegas e pelo sonho de disputar as Olimpíadas.

"Pretendo continuar remando por eles e pela família deles. Pretendo muito ir pras Olimpíadas ainda, eu não vou desistir tão fácil", projeta.
Os mortos são sete atletas, com idades entre 15 e 20 anos; o coordenador do time; e o motorista da van que transportava a delegação para um torneio realizado em São Paulo.

Oguener Tissot (coordenador), 43 anos, natural de Pelotas;
Samuel Benites Lopes, 15 anos, natural de São José do Norte;
Henry Fontoura Guimarães, 17 anos, natural de Pelotas;
João Pedro Kerchiner, 17 anos, natural de Pelotas;
Helen Belony, 20 anos, natural de Pelotas;
Nicole da Cruz, 15 anos, natural de Pelotas;
Angel Souto Vidal, 16 anos, natural de Pelotas;
Vitor Fernandes Camargo, 17 anos, natural de Pelotas;
Ricardo Leal da Cunha (motorista), 52 anos.


As vítimas eram vinculadas à iniciativa "Remar para o Futuro", realizada em parceria com o clube Centro Português e a Academia de Remo Tissot, e que contava com o apoio da Prefeitura de Pelotas e da Universidade Federal de Pelotas (UFPel). Milgarejo fazia parte do projeto desde os 14 anos.

'Um milagre'

Ainda em choque e com sentimentos conflitantes, a mãe de João Pedro Milgarejo, Graciele Timm Nolasco, diz sentir gratidão pela vida do filho, mas o pesar pela perda dos outros jovens.

João Pedro teve poucas escoriações e nenhuma lesão grave, o que a mãe atribui a "um milagre". "Graças a Deus ele tá bem. Ele é um milagre. Minha definição hoje é gratidão, porque meu filho nasceu de novo. Só o psicológico dele que a gente vai ter que tratar. Vai ser muito difícil", desabafou Graciele.

No dia anterior ao acidente, o remador conquistou medalha de ouro no Campeonato Brasileiro e dedicou ao pai falecido à mãe. O registro com a declaração, ao lado de três companheiros, foi compartilhado no perfil oficial da Confederação Brasileira de Remo na segunda-feira (21).

O acidente

O acidente ocorreu após uma carreta contêiner tombar sobre a van que transportava a equipe de remo na BR-376, por volta das 21h40 de domingo, em Guaratuba, no litoral do Paraná.

De acordo com a Polícia Rodoviária Federal (PRF), o acidente aconteceu no km 665, sentido Santa Catarina. A van saiu de São Paulo e tinha como destino o município de Pelotas. Por conta do acidente, a rodovia ficou interditada por 15 horas e chegou a registrar 22 quilômetros de congestionamento. A pista no sentido Santa Catarina foi liberada às 11h57 de segunda, de acordo com a concessionária Arteris Litoral Sul.

A PRF informou que a suspeita é que a carreta perdeu os freios e colidiu na traseira da van. Com o impacto, a van bateu em outro carro, rodou na rodovia e, em seguida, foi arrastada para fora da pista pelo caminhão, que tombou sobre ela.