Homem que drogava esposa para que outros a estuprassem começa a ser julgado na França

Por Redação com G1 31/08/2024 17h05
Por Redação com G1 31/08/2024 17h05
Homem que drogava esposa para que outros a estuprassem começa a ser julgado na França
Cidade de Mazan, na França, onde ocorre julgamento de homem acusado de drogar e prostituir sua esposa por dez anos, em agosto de 2024 - Foto: Divulgação/ prefeitura de Mazan

Um aposentado acusado de ter drogado sua esposa durante quase dez anos para que outros homens pudessem estuprá-la em Mazan, no sul de França, será julgado a partir de segunda-feira (2).

Além dele, 50 outros homens também respondem como réus no julgamento por participação no caso.

O julgamento do caso, que chocou a França, deve ser usado como parâmetro para crimes de submissão química e vai durar quatro meses.

O acusado, um aposentado de uma companhia elétrica francesa, admitiu ter administrado tranquilizantes potentes à sua esposa algumas noites sem avisá-la. Ele afirmou ainda que começou a drogar a esposa e chamar outros homens para estuprar sua mulher, com quem era casado desde 1971.

Os homens que participaram do crime, que também responderão como réus, foram recrutados em um site de encontros da França, que foi tirado do ar. O marido, diz a acusação, participava nos estupros e os filmava, encorajando seus cúmplices durante o crime. Mas ele não pedia nenhuma compensação financeira.

No total, foram registrados 92 estupros, cometidos por 72 homens. No entanto, 22 não foram formalmente identificados e, por isso, a acusação formal indica 50 réus, além do marido da vítima, o réu principal.
Desses, 18 já estão em prisão preventiva, inclusive o marido da vítima, e vão comparecer diante dos juízes durante o período de julgamento, um tribunal penal de Avignon, também no sul da França. Todos são homens, têm profissões como bombeiro, artesão, enfermeiro, ex-policial, eletricista, empresário e jornalista e idades entre 21 e 68 anos.

A maioria dos acusados foi pelo menos uma vez à casa da família onde, segundo a acusação, um homem drogava sua esposa para que ela fosse estuprada. Alguns deles alegaram em depoimentos iniciais que pensavam estar apenas participando das fantasias sexuais de um "casal liberal".
Já o marido da vítima, principal réu e hoje com 71 anos, alegou que “todos sabiam” que sua mulher não tinha consciência que vinha sendo drogada. De acordo com a investigação, “cada indivíduo tinha livre arbítrio” e podia ter “saído do local”.

Estado próximo do coma
A ex-mulher, em estado “mais próximo do coma do que do sono”, segundo um especialista, não percebeu nada.

Ela descobriu tudo aos 68 anos, depois de quase cinquenta anos de convivência, quando a investigação começou por acaso. Em 2020, o marido foi flagrado em um shopping center tentando colocar um celular sob as saias de três mulheres para filmar.

Ao revistar o computador do suspeito, os investigadores descobriram milhares de fotos e vídeos da esposa, visivelmente inconsciente, muitas vezes em posição fetal, estuprada por dezenas de estranhos, na casa da família.
A polícia também encontrou conversas em que ele convidava os homens para terem relações com sua esposa inconsciente.

Vítima e filhos afetados
Para a vítima, o julgamento será “uma experiência absolutamente terrível”, avalia Antoine Camus, um dos advogados da mulher, que também defende os três filhos do casal e cinco netos.

Ela “vai viver, pela primeira vez os estupros que sofreu durante dez anos”, porque “não lembra de nada”, explicou o advogado.
Em princípio, ela queria que o julgamento não fosse público, mas mudou de ideia.

"Hoje ela percebe que da sua própria história há muitas lições a serem aprendidas, e o seu primeiro desejo é obviamente que isso seja conhecido. O silêncio é, em última análise, o que os agressores querem, os acusados, mas também quem ainda está do lado de fora e continua com esse tipo de comportamento", diz Antoine Camus.

O caso também afetou os filhos da vítima, principalmente a filha, Caroline, agora envolvida numa luta contra a submissão química, através de uma associação chamada “Não me adormeça” (Ne m’endors pas).

Assim como as esposas de seus dois irmãos, Caroline Darian (pseudônimo com o qual publicou um livro sobre o caso em 2022, "Et j'ai cessé de t'appeler papa") também foi fotografada nua pelo pai, sem seu conhecimento.

Ela também se pergunta se ele não a teria drogado, acusação que ele nega e que a investigação não comprovou.

O réu, Dominique P., que afirma ter sido estuprado por um enfermeiro aos 9 anos, diz que está pronto para “confrontar sua esposa e sua família”, segundo sua advogada, Béatrice Zavarro.
Após a descoberta do drama, outros casos envolvendo o acusado foram encontrados em arquivos, um homicídio com estupro, em 1991, em Paris, que ele nega, e uma tentativa de estupro na região parisiense, que ele reconhece.