UFMG identifica veneno de aranha com potencial para tratar disfunção erétil; entenda
Pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) identificaram um veneno de aranha com potencial para tratar a disfunção erétil. O estudo é desenvolvido há 20 anos e resultou em uma molécula que pode ser usada em gel para favorecer a ereção masculina.
Nesta reportagem você vai entender:
Que aranha é essa?
O que é disfunção erétil?
Como a pesquisa surgiu?
Quais os resultados do estudo?
Quando o produto vai estar no mercado?
Veja abaixo os principais pontos da pesquisa.
Que aranha é essa?
A Phoneutria nigriventer, nome científico da aranha-armadeira, é encontrada em países da América do Sul, incluindo o Brasil. Em Minas Gerais, está presente em áreas urbanas e rurais.
O animal recebeu esse nome por causa de sua posição de ataque, com as patas dianteiras levantadas (veja foto acima). Quando se sente ameaçada, pode saltar até 40 centímetros.
A espécie é uma das mais venenosas do mundo. A toxina é capaz de causar, especialmente em homens jovens, uma ereção involuntária e dolorosa, conhecida como priapismo, que pode levar à necrose do pênis.
Uma mordida dela pode ser fatal.
O que é disfunção erétil?
A disfunção erétil é a incapacidade persistente de produzir ou manter uma ereção suficiente para uma relação sexual satisfatória.
Segundo especialistas, é o principal problema sexual vivido pelos homens.
As causas variam e, muitas vezes, estão relacionadas com fatores psicológicos, como ansiedade e estresse.
Também pode ser consequência de problemas físicos, que afetam a vascularização ou enervação do pênis.
Como a pesquisa surgiu?
Os pesquisadores da UFMG buscaram compreender, do ponto de vista farmacológico, os mecanismos que geram o priapismo ocasionado pelo veneno da aranha-armadeira.
O estudo começou há quase 20 anos, com base em uma tese de doutorado. Ele é liderado pela professora aposentada Maria Elena de Lima, do Departamento de Bioquímica e Imunologia do Instituto de Ciências Biológicas (ICB/UFMG).
Em laboratório, a partir do veneno da aranha, os cientistas conseguiram extrair uma molécula sintética com propriedades promissoras para a criação de um gel contra a disfunção erétil.
Quais os resultados do estudo?
Até o momento, a molécula, batizada de BZ371A, já gerou 22 patentes internacionais e nove aplicadas.
De acordo com a professora Maria Elena de Lima, a pesquisa é "inspirada pela nossa biodiversidade, que começa com o estudo do veneno de uma aranha e está próxima de gerar um possível medicamento".
O candidato a fármaco para disfunção erétil foi aprovado recentemente na fase 1 de testes pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que avalia os possíveis efeitos no organismo. A primeira etapa provou que o composto não é tóxico para humanos.
Em teste-piloto, realizado em homens e mulheres, os pesquisadores observaram que a aplicação tópica (na pele) do BZ371A resulta na vasodilatação e no aumento do fluxo sanguíneo local, facilitando a ereção peniana. O mesmo ocorreu em experimentos anteriores com camundongos.
Quando o produto vai estar no mercado?
A Biozeus Biopharmaceutical, empresa que adquiriu a patente do fármaco, prepara o início dos ensaios clínicos da fase 2, quando o BZ371A será testado em homens que passaram por cirurgia de retirada da próstata (prostatectomizados). A intervenção geralmente leva à disfunção erétil.
Nesta etapa, será testado o potencial do remédio, ao comparar o efeito em indivíduos saudáveis com o gerado nas pessoas prostatectomizadas.
Se aprovado na segunda fase, os testes vão para a fase 3, quando serão ampliados e poderão ser feitos em hospitais. Apenas depois disso, o fármaco poderá ser validado como medicamento.
Apesar de não ter uma previsão para chegar ao mercado, a pesquisa indica que o possível fármaco tem potencial para ajudar homens que, por diferentes motivos, não podem fazer uso dos medicamentos disponíveis atualmente nas farmácias, como o Viagra e Cialis.
Segundo os pesquisadores, uma vantagem é que a aprovação de medicamentos tópicos, como o gel, costuma ser bem mais rápida, em razão da menor possibilidade de efeitos colaterais adversos.