Conheça a Serra da Barriga, em União dos Palmares
Uma terra cheia de história que guarda em seu chão e entre sua belíssima paisagem, o sangue e a força dos guerreiros quilombolas
Um dos mais incríveis encantos de Alagoas se encontra em União dos Palmares. Uma terra cheia de história que guarda em seu chão e entre sua belíssima paisagem, o sangue e a força dos guerreiros quilombolas, do Quilombo dos Palmares. Assim é a Serra da Barriga, considerada o símbolo da resistência e cultura negra do Brasil. O local já chegou a ter mais de 20 mil habitantes.
A região foi tombada como patrimônio histórico em 1986, pelo Instituto do Património Histórico e Artístico Nacional (Iphan), posteriormente tombada também como Patrimônio Cultural do Mercosul, e se tornou um dos pontos mais visitados de Alagoas. É lá que fica abrigado o Parque Memorial Quilombo dos Palmares, considerado por muitos como o primeiro e único parque com foco na cultura negra no Brasil.
O Parque é fruto de uma luta de mais de 25 anos do Movimento Negro brasileiro, foi implantado em 2007 pelo Ministério da Cultura, por meio da Fundação Cultural Palmares.
O local recria o ambiente da República dos Palmares, em uma espécie de maquete viva, em tamanho natural, onde foram reconstituídas algumas das mais significativas edificações do Quilombo dos Palmares, com paredes de pau-a-pique, cobertura vegetal e inscrições em banto e yorubá, avista-se o Onjó de farinha (Casa de farinha), Onjó Cruzambê (Casa do Campo Santo), Oxilé das ervas (Terreiro das ervas), Ocas indígenas e Muxima de Palmares (Coração de Palmares).
O memorial faz referencia ao modo de vida da comunidade quilombola e possui pontos de áudio com música e textos em quatro idiomas - Português, Inglês, Espanhol e Italiano - que narram aspectos do cotidiano do Quilombo e da cultura negra.
As paisagens da Serra da Barriga são outro ponto forte do local. Entre as paradas obrigatórias dos visitantes está a Lagoa encantada. Para os amantes de trilhas naturais e montanhas, a região oferece diversas opções de caminhadas, além de guias especializados na região. Para os aventureiros, a estrada da Serra da Barriga facilita o acesso ao local e é banhada pela história do Quilombo dos Palmares, um pontos que mais atraem visitantes de todo o país.
Na aldeia de Muquém é possível conhecer a população local, que carrega os traços da sobrevivência do povo escravizado do Brasil e que guardam diversos artefatos importantes para a história negra brasileira.
As visitas ao local ocorrerem durante todo o ano, mas o mês especial de visitação é novembro, quando há uma série de atividades em comemoração ao Mês da Consciência Negra.
A Serra da Barriga não é conhecida apenas por sua história de luta, dentre seus muitos atrativos estão o rico artesanato e a gastronomia, que trazem em sua força a união da cultura alagoana com as raízes quilombolas. Entre os pratos estão acarajé, galinhada e amalá; já para beber o mais pedido é xequeté, uma bebida típica das religiões de matriz africana.
O artesanato local também possui força e muita originalidade. As artes em barro da comunidade fazem parte de uma tradição transmitida pelos descendentes dos guerreiros que ocuparam a serra sagrada.
MESTRA IRINEIA
Quando fala-se em serra da barriga, comunidade quilombola e Muquém é impossível não lembrar da Mestra Ireia Rosa Nunes, um das mais reconhecidas artistas de cerâmica popular do Brasil e considerada Patrimônio VIlo de Alagoas, desde 2005. Nascida em 1949, no Muguém, Mestra Irineia começou a atividade com barro ao lado da mãe, aos 20 anos, quando fazia panela de barro. Posteriormente, passou a fazer partes de corpos humanos em barros, sob encomenda, para devotos que faziam promessas aos santos.
Agora sua arte é representada através de cabeças e figuras humanas, entre outras esculturas, que narram, através da forma moldada no barro, episódios, lutas e conquistas vividos pelos moradores do Muquém e do Quilombo de Palmares.
Sua escultura mais famosa é a que representa pessoas em cima de uma jaqueira. A jaqueira se tornou objeto de memória, pois remonta a uma enchente em que a comunidade foi afetada, durante a qual ela e suas três irmãs ficaram toda a noite em cima da árvore, esperando a água baixar.
Mestra Ireia Rosa Nunes