Rússia abre investigação de assassinato após explosão matar filha de ‘guru de Putin’

Por Redação com O Globo 21/08/2022 12h12
Por Redação com O Globo 21/08/2022 12h12
Rússia abre investigação de assassinato após explosão matar filha de ‘guru de Putin’
Investigadores trabalham no local da explosão de um carro dirigido por Daria Dugina, filha do 'guro de Putin', nos subúrbios de Moscou - Foto: Investigative Committee of Russia / AFP

As autoridades russas abriram uma investigação de assassinato depois de confirmarem a morte de Daria Dugina, filha do controverso pensador russo Alexander Dugin, descrito no Ocidente como um dos “principais mentores ideológicos” do presidente Vladimir Putin. Segundo o Comitê de Investigação da Rússia, um dispositivo explosivo foi colocado embaixo do carro do lado do motorista e o ataque foi considerado “um crime premeditado”.

Dugina, de 30 anos, dirigia um Toyota Land Cruiser que explodiu no distrito de Odintsovo, uma área nobre dos subúrbios de Moscou, por volta das 21h45 (horário local) de sábado. Segundo testemunhas, a explosão atingiu o veículo no meio da estrada, espalhando destroços por toda parte. O carro então colidiu com uma cerca, totalmente envolvido pelas chamas, de acordo com fotos e vídeos do local.

Imagens e vídeos que circulam nas redes sociais mostraram um homem que parecia ser Alexander Dugin andando de um lado para o outro no local do crime, levando as mãos à cabeça, enquanto os bombeiros corriam para apagar as chamas. Essas imagens não puderam ser verificadas imediatamente pela imprensa internacional.

“A identidade do falecido foi estabelecida: é a jornalista e cientista política Daria Dugina”, informou em nota o Comitê de Investigação da Rússia, órgão similar à Polícia Federal no país.

Não houve reivindicação imediata de responsabilidade pelo incidente. A mídia russa disse que parentes próximos de Dugin acreditam que ele, e não sua filha, era o alvo. Um oficial ucraniano negou o envolvimento de seu país. Comentaristas e políticos pró-Kremlin, porém, rapidamente culparam a Ucrânia e exigiram vingança, injetando novas incertezas em uma guerra que já dura quase seis meses.

ver com a explosão de ontem [sábado] — disse Mykhailo Podolyak, assessor do presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, em comentários televisionados na manhã deste domingo. — Não somos um Estado criminoso como a Federação Russa, muito menos terrorista.

A porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da Rússia, Maria Zakharova, não chegou a acusar a Ucrânia, mas escreveu no Telegram que se o país foi de fato responsável, “então precisamos falar sobre uma política de terrorismo de Estado sendo realizada pelo regime de Kiev”. “Estamos aguardando os resultados da investigação”, disse Zakharova.

Já Denis Pushilin, o líder da autoproclamada República Popular de Donetsk, governada por separatistas pró-Rússia no Leste da Ucrânia, acusou “terroristas do regime ucraniano” de tentarem “liquidar Alexander Dugin”, mas matarem sua filha.

Daria Dugina era comentarista política e filha de Dugin — um controverso filósofo ultranacionalista de 60 anos conhecido por suas visões antiocidentais e “neoeurasianas” e que prega a unificação das terras onde se fala russo. Nos últimos meses, a CBS o apelidou de “o teórico de extrema direita por trás do plano de Putin” , enquanto o Washington Post o chamou de “escritor místico de extrema direita que ajudou a moldar a visão de Putin sobre a Rússia”.

Nos últimos anos, a Ucrânia proibiu vários de seus livros, entre eles "Ucrânia— minha guerra. Diário geopolítico", e "A revanche eurasiática da Rússia". Os Estados Unidos, por sua vez, impuseram sanções contra Dugin por apoiar militantes no Leste da Ucrânia. Já Dugina foi sancionada pelo governo britânico, que a citou como uma “contribuinte frequente e importante de desinformação em relação à Ucrânia e à invasão russa da Ucrânia em várias plataformas online”.

Zakhar Prilepin, um popular escritor conservador russo, disse em um post em seu canal no Telegram que Dugin e sua filha estavam em um festival no sábado, mas saíram em carros diferentes. O evento, chamado Tradições, reuniu figuras nacionalistas russas proeminentes. Dugin deu uma palestra sobre o “dualismo metafísico do pensamento histórico”, de acordo com o site do festival.