Por que o rendimento da poupança caiu?
Nos últimos meses observamos altas constantes da taxa Selic. No entanto, o rendimento da poupança ao invés de subir junto com a Selic, caiu. O que justifica isso?
Essa é uma dúvida bastante pertinente que muitas pessoas possuem, afinal, o que justificaria a queda no rendimento da poupança se a taxa Selic vem sofrendo constantes altas durante o último ano?
A resposta para essas questões está na maneira como a rentabilidade da poupança é calculada. Até porque, existem duas regras para ela.
O que é a poupança?
Antes de falar sobre o rendimento da poupança, vamos entender primeiramente o que é a poupança. Em regra, a poupança é uma conta bancária com algumas funções limitadas.
Nesse caso há um limite de transações, e em troca o titular da conta recebe uma determinada rentabilidade por manter o seu dinheiro aplicado lá. Uma das peculiaridades da caderneta de poupança é que não há cobrança de taxa de mensalidade.
Além disso, outra característica dela é a liquidez imediata, uma vez que o titular pode sacar o dinheiro na hora que quiser sem pagar absolutamente nada por isso.
Vale destacar que a caderneta de poupança não possui incidência de Imposto de Renda, ou seja, ela é isenta da cobrança de imposto, e também conta com a proteção do Fundo Garantidor de Crédito (FGC).
Esse fundo garante a restituição de até R$ 250 mil por CPF ou CNPJ, por conjunto de depósitos e investimentos em cada instituição, limitado ao teto de R$ 1 milhão a cada 4 anos. Isso quer dizer que se a instituição financeira falir, o titular é ressarcido.
Quando alguém decide manter o dinheiro aplicado em uma caderneta de poupança, há a rentabilidade sobre esse capital chamada de Juros da Poupança. E esse juros caiu quando comparado a taxa Selic nos últimos meses. O principal motivo para isso é por conta da regra que a poupança segue para remunerar os seus investidores.
Como é calculado o rendimento da poupança?
O rendimento da poupança costuma ser composto por dois indicadores: a Taxa Referencial de Juros (TR) e a Taxa Selic. Sendo assim, quando a taxa Selic for igual ou inferior a 8,5% ao ano, o rendimento da poupança será de 70% do valor da Selic e mais TR.
Já quando a taxa Selic for superior a 8,5% ao ano, o rendimento da poupança será de 0,5% ao mês e mais TR. Sendo assim, quando a taxa Selic começa a subir demais o valor da poupança não acompanha o seu rendimento.
Ou seja, quando a taxa Selic supera os 8,5% ao ano, o valor da poupança se mantém fixo nos 0,5% ao mês e mais TR. Como há algum tempo a TR está zerada, a rentabilidade da poupança será de 0,5% ao mês até que a Selic baixe.
Portanto, se a taxa Selic atingir um patamar de 15% ao ano, a rentabilidade da poupança será muito aquém de outros investimentos que são amparados na Selic ou no CDI que costuma ser muito próximo à Selic.
Exemplo de rendimento da poupança
Para facilitar o entendimento, vamos considerar o exemplo de uma aplicação na poupança no valor de R$ 10 mil em dois momentos da economia. O primeiro com a Selic a 8% ao ano e o segundo com a Selic a 12% ao ano.
No primeiro exemplo, o rendimento da poupança seguirá a regra nova, ou seja, será de 70% o valor da taxa Selic. Para efeito didático, vamos considerar que nas duas situações a TR esteja zerada. Sendo assim, no primeiro caso o rendimento da poupança será:
Rendimento da poupança = taxa Selic * 70%
Rendimento da poupança = 8% * 70% = 5,6%
Considerando a rentabilidade da poupança de 5,6% ao ano, teremos a seguinte rentabilidade do dinheiro aplicado:
Rendimento da poupança = R$ 10 mil * 5,6% = R$ 560,00 ao ano
Como a poupança não possui incidência de imposto e renda, a sua rentabilidade será de R$ 560 nesse exemplo. Agora vamos considerar a segunda situação.
No segundo caso, a taxa Selic subiu para 12% ao ano, e a poupança voltou a ter o seu rendimento pela regra antiga, ou seja, 0,5% ao mês. Esse valor elevado ao ano dará uma rentabilidade de 6,17%. Nesse caso o rendimento será:
Rendimento da poupança = R$ 10 mil * 6,17% = R$ 617,00 ao ano
Note que apesar da Selic ter subido 50% neste exemplo, o rendimento da poupança não acompanhou o mesmo ritmo pelo motivo da sua rentabilidade ter mudado de regra. Portanto, é possível dizer que a rentabilidade da poupança caiu.
Vale a pena investir na poupança?
Diante do exemplo exposto é possível notar que a poupança não é um rendimento indicado em épocas nas quais a taxa Selic está elevada, pois a sua rentabilidade deixa de acompanhar a Selic após um determinado ponto.
Portanto, o ideal para quem possui um perfil mais conservador, é procurar investir em títulos que tenham a sua rentabilidade amparada na Selic ou em algum outro indicador que costuma ser muito próximo dela, como o CDI.
Até porque, essa é uma maneira da rentabilidade do seu investimento não ficar defasada e acabar perdendo para a própria inflação da economia. Nesse caso, investimentos no Tesouro Selic, CDB, LCI e LCA acabam sendo opções mais atraentes.
Já quando a Taxa Selic está abaixo de 8,5% ao ano, é preciso fazer um comparativo mais aprofundado, pois considerando que o CDB e o Tesouro Selic possuem a incidência do Imposto de Renda, dependendo do prazo de resgate a poupança pode ser uma opção interessante.
Conclusão
Conclui-se com esse artigo que a rentabilidade da poupança é calculada de duas maneiras diferentes dependendo do patamar em que a taxa Selic se encontra.
Sendo assim, quando ela for superior a 8,5% ao ano, a poupança deixará de ser indexada à taxa Selic e passará a ter a sua rentabilidade em 0,5% ao mês e mais TR. Já quando a taxa Selic for igual ou inferior a 8,5% ao ano, a poupança passará a ter sua rentabilidade de 70% do valor da Selic e mais TR.
Portanto, é possível afirmar que quando a taxa Selic ultrapassou os 8,5% ao ano, o rendimento da poupança caiu quando comparado a outros investimentos de renda fixa como o CDB, Tesouro Selic, LCI, LCA e Debêntures, tornando-se assim, ainda menos atraente.