Ex-ASA vai da Série D à Série A em um ano e se espanta com ascensão

Por redação com GE 26/11/2021 20h08
Por redação com GE 26/11/2021 20h08
Ex-ASA vai da Série D à Série A em um ano e se espanta com ascensão
Aleff Manga - Foto: Rosiron Rodrigues / Goiás E.C.

Em setembro de 2020, Alef Manga disputava a Série D pelo Coruripe, de Alagoas, quando recebeu proposta do Volta Redonda. Para o jovem humilde de Santos, que ainda se questionava se era mesmo jogador profissional, a Série C já parecia um salto considerável na carreira, mas foi só o primeiro dos vários que o atacante deu desde então. Em pouco mais de um ano, na verdade, o "Furacão Manga" escalou toda a hierarquia do Campeonato Brasileiro e acaba de chegar ao cume: a Série A.

O acesso na Série B veio na última segunda-feira (22), com vitória do Goiás sobre o Guarani. Alef Manga, suspenso, não esteve em campo, mas foi protagonista na campanha esmeraldina inteira, sendo o artilheiro do time com 10 gols. Foi o desfecho perfeito de uma temporada de sonhos para o atacante, que também já havia sido o principal goleador do Carioca, pelo Voltaço, quando começou a despontar de fato.

- As coisas acontecem muito rápido na vida do atleta. Por exemplo, posso dizer que você dorme pobre e acorda rico. Até uns meses atrás, eu estava no Coruripe e agora estou no Goiás. Vou jogar uma Série A. A ficha ainda não caiu. Sou de Santos, desde pequeno sou santista, e imagina você jogar no Goiás e ir enfrentar o Santos na sua cidade, onde você nasceu, na Vila Belmiro? Não tem coisa melhor, assim como enfrentar adversários como Bruno Henrique, Arrascaeta, Marinho, esses nomes de peso.

Antes da glória, porém, Alef Manga vivenciou também o outro lado da moeda. No caso, a de aspirante a jogador. Ele não fez base em um clube com estrutura, não despontou em uma Copa São Paulo, tampouco fez carreira logo cedo no exterior. O reconhecimento só veio agora, aos 26 anos, depois de o atacante driblar vários percalços, dentre eles o mundo das drogas, no qual orgulha-se de não ter entrado.

- Comecei a jogar na várzea, pelo menos para ganhar a condução. O pessoal me dava dinheiro da condução e eu jogava por isso. E por necessidade em casa. Eu passei muita dificuldade. Já passei fome na vida. Foi doído para mim. Quando parei de jogar bola um tempo, entrei para outro caminho, que é o caminho errado das drogas. Graças a Deus, não cheguei a usar nada, mas as pessoas estavam fazendo minha cabeça.

Contente com o desempenho, Manga avalia que ainda pode levar esse furacão além, para Europa e até seleção brasileira. O atacante passou a limpo sua trajetória de vida, o que planeja para o futuro e também algumas polêmicas que viveu no Goiás, as quais considera apenas um mal-entendido.

- É o melhor ano da minha vida. Acho que não vou esquecer 2021 tão cedo. Muitas coisas aconteceram, desde o Carioca, no qual fui artilheiro, até a chegada ao Goiás. Me deram uma oportunidade e fui muito bem na Série B. Conseguimos o acesso e estou muito feliz.

Da Série D à Série A

- A ficha só vai cair quando for a estreia (na Série A). Jogar contra clubes como Corinthians, Palmeiras, São Paulo, Santos. Sempre tive esse sonho de poder jogar a Série A. Colocamos o Goiás na Série A e Deus me deu essa oportunidade. Eu estava no Coruripe jogando a Série D e, do nada, me mandaram um convite para jogar a Série C pelo Volta Redonda. Fui feliz para lá, fui bem no campeonato e depois tive a oportunidade de jogar o Carioca. Fui muito bem no começo desse ano. Sei o quanto trabalhei, o tanto que ralei. Sofri na vida para estar onde estou hoje. Só quero crescer cada vez mais. Sair do Goiás um dia como ídolo e vários jogadores que passaram aqui, como o Michael.

Desfalque no jogo do acesso


- Fiquei muito triste pelo fato de não poder jogar contra o Guarani, mas queria muito ir para essa viagem e fui. Pedi para a delegação, para o presidente para poder ir. Fiquei feliz de ficar lá na arquibancada torcendo pelos meus companheiros, claro, mas também triste porque queria estar em campo. Mas conseguimos um grande resultado em Campinas (SP). É muito ruim ficar só na arquibancada e não poder ajudar, mas eles deram conta do recado e viemos com o acesso.

Desconfiança na Série B


- Passou na minha cabeça, depois que saí do Volta Redonda como artilheiro, que eu teria que jogar 38 partidas. Acho que nunca joguei tanto na minha vida. Então, eu fiquei um pouco com medo, sim. Mas trabalhei bastante. Ajudei meus companheiros. Esse campeonato foi o mais importante da minha vida. O ano de 2021 vai ficar marcado para o resto da minha vida, que mudou muito rápido. Achei que não daria conta de jogar uma Série B, pois não tinha experiência alguma. Mas pude corresponder fazendo gols, assistências e dando alegria à torcida.

Polêmica na chegada ao Goiás


- Aquela entrevista que eu dei quando cheguei aqui, de ir para um clube grande, não é que eu falei que o Goiás é time pequeno. Pelo contrário. O Goiás é o maior do Centro-Oeste. Mas sabemos que vários jogadores que passaram aqui depois saíram e foram para a Europa. E todo jogador de futebol tem o desejo de jogar na Europa. Ou nos Estados Unidos, no México, em Dubai... O jogador tem esse sonho, eu tenho esse sonho. Até de chegar na seleção brasileira, por que não? Eu acredito no meu potencial. Acho que foi um mal-entendido, mas eu não falei por maldade. Fiquei muito feliz por tudo que fiz nesta Série B. Me apego muito a Deus e tenho esse sonho de, amanhã ou depois, poder ir para a Europa. De poder ajudar meus amigos e minha família, que precisam de mim. É o sonho de todo jogador sair de um clube grande como o Goiás e ir para a Europa, jogar uma Champions League. Eu tenho esse desejo e tenho potencial para chegar lá. O Goiás está me dando uma baita de uma oportunidade. Muitas pessoas não me conheciam. Hoje me conhecem como outra pessoa. Estou muito feliz e nunca vou esquecer o momento.

Comemorar gol sozinho


Sempre venho comemorando sozinho todos os gols que faço, desde a várzea. Lá eu também comemorava sozinho. Quando você faz um gol, você não sabe para onde vai. Não sabe com quem vai comemorar. Essa questão de comemorar sozinho sempre foi meu jeito. Não é porque não me dou bem com o grupo ou o pessoal não gosta de mim. Pelo contrário. As pessoas aqui me abraçam. Não só os jogadores, mas a comissão, os funcionários. Claro que tem a questão de puxar a orelha, mas eu tenho carinho por todos. As pessoas gostam de trabalhar comigo. Acho que foi o melhor elenco de Série B que o Goiás já montou e está aí o resultado. Conseguimos voltar o Goiás para a Série A. E nunca tive problema com nenhum jogador. Gostam de mim dentro e fora de campo. Sou uma pessoa brincalhona, então acho que também teve um mal-entendido aí.

Futuro: Goiás x Europa


- A minha tendência é permanecer no Goiás. Quero muito ficar aqui. O momento que estou vivendo na carreira é de continuar, de ficar aqui ano que vem e disputar o Goiano, a Série A. Se for da vontade de Deus, vou ficar e trabalhar. Deixo isso na mão dos meus empresários e da diretoria do Goiás. Se for da vontade de Deus para eu ir para a Europa agora, vou ter que ir. Se for para ir depois da Série A, aí é outra conversa. Mas meu foco é de permanecer aqui. Estou muito adaptado, as pessoas e as crianças gostam de mim. Meu foco é ficar no Goiás ano que vem.

Meme do "cheiroso"


- Aquele vídeo do rapaz falando que eu sou cheiroso me pegou de surpresa. Eu estava saindo para ir embora, eles cercaram o carro para tirar foto comigo. Sou um cara humilde e fui atender todo mundo. Ele simplesmente chegou por trás e me deu um beijo no pescoço falando que eu era cheiroso. Foi uma coisa engraçada, impressionante. Depois ele até me pediu desculpa, mas eu sei que foi na brincadeira. Os torcedores merecem, sei a felicidade que eles estavam depois daquele jogo.