56 cidades de SP cancelam Carnaval de 2022 por medo de contaminação em massa pela Covid-19
São Luiz do Paraitinga, cidade que realiza um tradicional Carnaval de rua, cancelou nesta terça-feira (23) a edição de 2022 da folia de rua. A lista de municípios que não terão a festa chega a 56 no interior paulista, litoral e Grande São Paulo.
A principal justificativa das prefeituras é o medo de que a aglomeração intensifique a contaminação da Covid-19 e, assim, gere uma nova onda da pandemia.
No estado de São Paulo, 73,5% da população está com o esquema primário da vacina contra Covid completo, e 83,8% está com ao menos uma dose do imunizante contra o coronavírus.
O Carnaval de rua de 2022 na capital paulista ainda depende das aprovações dos órgãos de Saúde que avaliam o cenário epidemiológico da pandemia da Covid-19. A prefeitura recebeu 867 inscrições de desfiles de blocos de rua –os cortejos serão entre os dias 19 de fevereiro e 6 de março.
Em nota, a Prefeitura de São Luiz do Paraitinga afirmou que o atual momento ainda necessita de atenção e responsabilidade, não sendo propício para um evento de tamanha magnitude.
"É com pesar que se tomou essa decisão, já que não ignoramos o quanto nosso povo se identifica com essa manifestação cultural e ainda o quanto ela representaria para a economia local", informa a nota. "O Poder Público não pode se furtar de exercer sua função de zelar pela saúde pública, que é o bem mais importante de todos."
Em Sorocaba, a prefeitura afirmou que deixará de investir recursos públicos no Carnaval de 2022, mas não proíbe parcerias entre blocos e a iniciativa privada. A gestão Rodrigo Manga (Republicanos) promete aplicar a verba da folia em saúde, educação e segurança.
Numa reunião conjunta em Guariba (a 339 km de São Paulo), 12 prefeituras decidiram não realizar o Carnaval do ano que vem, entre elas Jaboticabal, Taquaritinga e Monte Alto.
"Foi decidido por unanimidade que as cidades não realizarão o Carnaval em respeito às vítimas da Covid-19 e também o receio de uma nova onda do coronavírus", afirmou o prefeito de Guariba, Celso Romano (PSDB).
Em Franca, o prefeito Alexandre Ferreira (MDB) anunciou nesta segunda-feira (22) que não haverá eventos promovidos pela prefeitura no Carnaval do ano que vem.
Ele alegou que o trânsito de pessoas de outros municípios para a cidade é uma preocupação, mesmo com a maior parte da população já tendo recebido duas doses da vacina contra a Covid-19.
"Atravessamos a pior fase da pandemia neste ano. Todos nós sofremos muito, perdemos muitas pessoas. [...] Depois de tanto sofrimento, tanta angústia, dor e esforço, não podemos mais correr riscos", afirmou o prefeito.
CIDADES QUE CANCELARAM O CARNAVAL
Altinópolis
Barrinha
Borborema
Botucatu
Brodowski
Cabreúva
Caçapava
Caconde
Cajuru
Cássia dos Coqueiros
Cunha
Dobrada
Dumont
Franca
Guariba
Ibitinga
Itápolis
Itupeva
Jaboticabal
Jarinu
Jundiaí
Lins
Louveira
Mogi das Cruzes
Monte Alto
Monteiro Lobato
Natividade da Serra
Orlândia
Paraibuna
Pitangueiras
Pradópolis
Poá
Potirendaba
Roseira
Sales Oliveira
Salesópolis
Santa Cruz da Esperança
Santa Ernestina
Santa Isabel
Santa Rosa do Viterbo
Santo Antônio da Alegria
Santo Antônio do Pinhal
São Bento do Sapucaí
São Joaquim da Barra
São Luiz do Paraitinga
São Simão
Sarapuí
Sorocaba
Suzano
Taquaritinga
Taubaté
Ubatuba
Urupês
Valinhos
Várzea Paulista
Vinhedo
Na opinião do infectologista Evaldo Stanislau de Araújo, assistente-doutor da Divisão de Moléstias Infecciosas e Parasitárias do Hospital das Clínicas, professor universitário e consultor em saúde pública e privada, é preciso aprender com a pandemia. O Carnaval desempenhou um papel muito importante na amplificação e na velocidade com que a Covid-19 se instalou no Brasil.
"Nós demos margem para que o Carnaval servisse como um grande disseminador. O segundo aspecto de lições aprendidas é a Europa, com novo aumento de casos em países onde a vacinação é menor, inclusive com gravidade. Onde a vacinação está mais consolidada, há casos, mas sem aumento de mortalidade", explica Araújo.
"Eu ressaltaria que pouco mais da metade da população mundial está vacinada contra a Covid. Isso significa que há possibilidade real de que, neste momento, em algum lugar do mundo, uma nova variante esteja sendo gerada e possa ganhar o mundo. Todas essas já seriam razões para parar e refletir."
O especialista ainda aponta outro fator: a qualidade da resposta imunológica. O Brasil tem uma população recém-vacinada e muito exposta ao vírus por infecção natural.
"Desta forma, a nossa memória imunológica na quantidade de imunidade que a gente tem é relativamente alta neste momento. Se a gente for olhar daqui a poucos meses, no Carnaval, pode ser que não tenhamos uma memória imunológica tão robusta", ressalta o especialista.
"Se por acaso cometermos algum deslize na nossa política vacinal, isso cobrará um preço, porque, com a circulação de brasileiros para fora do país e de estrangeiros no Brasil durante as festas de fim de ano e Carnaval, poderemos ter a introdução de variantes e um espalhamento de vírus", diz Araújo.
"Temos que ser bem claros. Não há máscara e nem distanciamento, e nós temos um ambiente bem propício para a disseminação do vírus. Por todas essas razões, o Carnaval 2022 é um equívoco. Se todas essas razões não bastassem, temos outra moral e ética, que é a lembrança de mais de 600 mil brasileiros que morreram de Covid-19", completa.
Para Renato Grinbaum, consultor da SBI (Sociedade Brasileira de Infectologia), a decisão é difícil e não é uma questão de sim ou não. "Se continuarmos do jeito que estamos hoje, pode manter, mas as pessoas precisam usar máscaras. Aliás, o Carnaval é uma ótima oportunidade para usar máscara. O país tem que voltar a funcionar. A pandemia não acabou, mas o Brasil precisa passar pelo risco", afirma.