Especialistas dizem que Brasil vive apagão de dados sobre a Covid-19
Ao admitir que o Brasil não sabe quando ocorrerá o pico da Covid-19, o ministro da Saúde, Nelson Teich, afirmou em uma reunião com senadores por videoconferência que a nação está “navegando às cegas”. Para pesquisadores que têm somado esforços para identificar a dimensão da pandemia no país, não há, apesar da franqueza de Teich, esforços para mudar esse cenário.
Na avaliação de diferentes organizações que têm compilado estatísticas públicas sobre a Covid-19 no Brasil, existe um “apagão” de dados. A situação dificulta a travessia pela crise e a projeção de cenários, em especial quando se discute o afrouxar o isolamento social.
O aspecto mais problemático está na base de notificações do Ministério da Saúde, cujo acesso está restrito a secretarias municipais e estaduais de Saúde e à Fiocruz. Há informações de diferentes categorias que poderiam ajudar a ciência brasileira a fortalecer políticas públicas contra a disseminação do novo coronavírus.
— O voo às cegas se deve à própria atitude do ministério de fechar essas bases. É uma decisão que, para mim, parece estritamente política. Por que não liberar os dados para todos? — avalia Renato Coutinho, professor de Matemática Aplicada da Universidade Federal do ABC e integrante do Observatório Covid-19 BR.
Embora os dados públicos estejam sujeitos à Lei de Acesso à Informação, o prazo de 20 dias é completamente incompatível com o objetivo de acompanhar a evolução da pandemia, pontua Coutinho.
Piora na nova gestão
Desde a posse de Teich, o Ministério da Saúde deixou de divulgar as cidades em situação de emergência. Além disso, as tradicionais coletivas de imprensa diárias com a atualização dos números de casos e óbitos no país se tornaram ocasiões pontuais. Procurada pelo GLOBO, a pasta não se manifestou.
Outra dificuldade encontrada por pesquisadores é a falta de uniformidade nos dados a nível nacional. Por vezes, informações disponibilizadas por determinado estado não são divulgadas por outros, o que dificulta um parâmetro da verdadeira situação do país no combate à pandemia.
Fernanda Campagnucci, diretora-executiva da Open Knowledge Brasil, ONG que tem feito análises semanais do nível de transparência dos portais dos 26 estados brasileiros e do Distrito Federal, além da União, avalia que o governo federal deveria servir de exemplo para os estados.
— A sensação depois de um mês de monitoramento é que tínhamos uma situação de absoluta escuridão, apagão mesmo. O que chama atenção é o papel do governo federal, que deveria ser liderança no processo de transparência. Embora tenha evoluído desde o início da crise, o painel de dados na internet traz uma informação muito pouco útil por ser agregada e difícil de mergulhar em detalhes — avalia Campagnucci: — O mínimo que o governo federal deveria fazer é abrir a base de dados completas, omitindo dados pessoais, e colocar à disposição do público.
Nos estados, embora o quadro tenha melhorado nas últimas semanas na avaliação da ONG, o cenário ainda está longe do ideal para uma crise como esta.
Segundo a organização, apenas 32% dos estados brasileiros disponibilizam os chamados microdados, ou seja, o detalhamento de todos os registros de casos.
— Esses dados são importantes, além de para a própria população, para os gestores públicos formularem políticas contra a pandemia, para os jornalistas e as organizações da sociedade civil, que podem ajudar a melhorar a qualidade e a consistência dos dados e confrontá-los com a realidade. O gestor do estado e do país não está em todos os lugares ao mesmo tempo. Ele precisa de muitos olhos para melhorar a qualidade da informação — avalia a diretora-executiva da ONG.
Campagnucci diz que, de posse das informações pesquisadores podem melhorar as projeções da doença.
— Quem é mais vulnerável? Quais são os sintomas? Tudo isso é dado para pesquisas que precisam ser feitas para ontem. Há também os desenvolvedores de software, que conseguem ajudar a fazer essas projeções e em tecnologias para ajudar a população a lidar com isso e monitorar o contágio.
Para Ana Freitas Ribeiro, epidemiologista do Instituto de Infectologia Emílio Ribas, em São Paulo, o manejo de dados é fundamental para trazer a real dimensão do desafio da Covid-19. Como alguns óbitos suspeitos ocorrem antes da realização de exames, essas informações permitem estimar o quadro da doença:
— Se não tiver coletado amostras, não é possível confirmar o diagnóstico. É importante trabalhar em conjunto com as universidades para juntar com esses profissionais que têm essa expertise que nós não temos.
Na avaliação de diferentes organizações que têm compilado estatísticas públicas sobre a Covid-19 no Brasil, existe um “apagão” de dados. A situação dificulta a travessia pela crise e a projeção de cenários, em especial quando se discute o afrouxar o isolamento social.
O aspecto mais problemático está na base de notificações do Ministério da Saúde, cujo acesso está restrito a secretarias municipais e estaduais de Saúde e à Fiocruz. Há informações de diferentes categorias que poderiam ajudar a ciência brasileira a fortalecer políticas públicas contra a disseminação do novo coronavírus.
— O voo às cegas se deve à própria atitude do ministério de fechar essas bases. É uma decisão que, para mim, parece estritamente política. Por que não liberar os dados para todos? — avalia Renato Coutinho, professor de Matemática Aplicada da Universidade Federal do ABC e integrante do Observatório Covid-19 BR.
Embora os dados públicos estejam sujeitos à Lei de Acesso à Informação, o prazo de 20 dias é completamente incompatível com o objetivo de acompanhar a evolução da pandemia, pontua Coutinho.
Piora na nova gestão
Desde a posse de Teich, o Ministério da Saúde deixou de divulgar as cidades em situação de emergência. Além disso, as tradicionais coletivas de imprensa diárias com a atualização dos números de casos e óbitos no país se tornaram ocasiões pontuais. Procurada pelo GLOBO, a pasta não se manifestou.
Outra dificuldade encontrada por pesquisadores é a falta de uniformidade nos dados a nível nacional. Por vezes, informações disponibilizadas por determinado estado não são divulgadas por outros, o que dificulta um parâmetro da verdadeira situação do país no combate à pandemia.
Fernanda Campagnucci, diretora-executiva da Open Knowledge Brasil, ONG que tem feito análises semanais do nível de transparência dos portais dos 26 estados brasileiros e do Distrito Federal, além da União, avalia que o governo federal deveria servir de exemplo para os estados.
— A sensação depois de um mês de monitoramento é que tínhamos uma situação de absoluta escuridão, apagão mesmo. O que chama atenção é o papel do governo federal, que deveria ser liderança no processo de transparência. Embora tenha evoluído desde o início da crise, o painel de dados na internet traz uma informação muito pouco útil por ser agregada e difícil de mergulhar em detalhes — avalia Campagnucci: — O mínimo que o governo federal deveria fazer é abrir a base de dados completas, omitindo dados pessoais, e colocar à disposição do público.
Nos estados, embora o quadro tenha melhorado nas últimas semanas na avaliação da ONG, o cenário ainda está longe do ideal para uma crise como esta.
Segundo a organização, apenas 32% dos estados brasileiros disponibilizam os chamados microdados, ou seja, o detalhamento de todos os registros de casos.
— Esses dados são importantes, além de para a própria população, para os gestores públicos formularem políticas contra a pandemia, para os jornalistas e as organizações da sociedade civil, que podem ajudar a melhorar a qualidade e a consistência dos dados e confrontá-los com a realidade. O gestor do estado e do país não está em todos os lugares ao mesmo tempo. Ele precisa de muitos olhos para melhorar a qualidade da informação — avalia a diretora-executiva da ONG.
Campagnucci diz que, de posse das informações pesquisadores podem melhorar as projeções da doença.
— Quem é mais vulnerável? Quais são os sintomas? Tudo isso é dado para pesquisas que precisam ser feitas para ontem. Há também os desenvolvedores de software, que conseguem ajudar a fazer essas projeções e em tecnologias para ajudar a população a lidar com isso e monitorar o contágio.
Para Ana Freitas Ribeiro, epidemiologista do Instituto de Infectologia Emílio Ribas, em São Paulo, o manejo de dados é fundamental para trazer a real dimensão do desafio da Covid-19. Como alguns óbitos suspeitos ocorrem antes da realização de exames, essas informações permitem estimar o quadro da doença:
— Se não tiver coletado amostras, não é possível confirmar o diagnóstico. É importante trabalhar em conjunto com as universidades para juntar com esses profissionais que têm essa expertise que nós não temos.
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