'Minha mãe não morreu de Covid-19, mas por causa dele', lamenta filha

Por Revista Crescer 17/04/2020 20h08 - Atualizado em 17/04/2020 23h11
Por Revista Crescer 17/04/2020 20h08 Atualizado em 17/04/2020 23h11
'Minha mãe não morreu de Covid-19, mas por causa dele', lamenta filha
Foto: Arquivo Pessoal
"Minha mãe não morreu de coronavírus, mas por causa dele". A frase é da advogada gaúcha Cristiani de Melo Senna, 40 anos, de Pelotas, no Rio Grande do Sul. A aposentada Maria Cecília tinha 71 anos e, segundo a filha, faleceu por conta de uma pneumonia dupla com derrame pleural no último sábado (11). "Ela tinha reumatismo, estava com a saúde debilitada, mas quase não conseguia se consultar nos últimos dias por causa dessa situação do coronavírus. Quando o quadro se agravou, na quinta-feira (9) pela manhã, a levei até o hospital da Unimed. Ela fez tomografia e os pulmões estavam horríveis. Ela precisava de uma UTI urgente. Lá mesmo, ela fez o exame para Covid, mas como não tinha o resultado ainda, recusaram-se a interná-la", lembra.

Cristiani conta que a mãe foi transferida para a Porto Alegre no dia seguinte. "Somente na sexta-feira (10) à noite, ela foi para uma UTI. No entanto, no sábado (11), quando foram entubá-la, ela teve uma parada cardiorrespiratória e acabou não resistindo", lamenta. A paciente foi sepultada no domingo (12) com o caixão lacrado. Na segunda-feira (13), a filha recebeu o resultado do teste informando que Maria Cecília não tinha Covid-19. "Ela não tinha sintomas, não teve febre ou dor de garganta e não saía de casa. Ela precisava de uma UTI desde o momento em que chegamos no atendimento e isso foi negado para ela. Eles condenaram minha mãe. Ela deveria ter sido atendida de imediato na nossa cidade. As pessoas estão morrendo por falta de atendimento, por negligência, pela falta do resultado do teste. Não recebê-la diante do não resultado abreviou a vida dela", lamenta.

"Eu saí da minha casa, fui para outra cidade onde não conhecia ninguém. Tive que ficar em um hotel e ela morreu porque demorou para receber atendimento. Por que a cidade dela se recusou a atendê-la? Ela morreu esperando o resultado de um exame? Temos leitos e hospitais aqui, por que não receberam minha mãe?", questiona Cristiani.

SUSPEITA E ISOLAMENTO

Cristiani relara ainda que ela e a mãe foram "tratadas como contaminadas" desde quando buscaram atendimento. "Colocaram minhas coisas num saco, uma médica colocou o dedo na minha cara, fazendo eu ter uma crise de pânico, impedindo que eu saísse de dentro de um quarto de isolamento, pois colocaria em risco a vida de outras pessoas. Eu só precisava buscar algumas roupas pra minha mãe. Ninguém queira passar pelo que passei", diz.