Vídeo gravado no Ifal Maceió mostra professor convocando estudantes para manifestação

Por Redação com Gazetaweb.com 31/05/2019 13h01 - Atualizado em 31/05/2019 17h05
Por Redação com Gazetaweb.com 31/05/2019 13h01 Atualizado em 31/05/2019 17h05
Vídeo gravado no Ifal Maceió mostra professor convocando estudantes para manifestação
Caso aconteceu no Campus Maceió do Ifal - Foto: Divulgação
Um vídeo gravado no Instituto Federal de Alagoas (Ifal) - Campus Maceió - tem gerado polêmica nas redes sociais. Divulgadas por um usuário identificado como 'Professor Maurício', que nas últimas eleições concorreu ao cargo de deputado estadual pelo PSL de Minas Gerais, as imagens mostram um educador alagoano convocando alunos para as manifestações contra os cortes na educação.

"Uma instituição de capilaridade no nosso Estado irá fechar. Vocês não terão para onde ir, não verão futuro. Encham-se da ira revolucionária que cada estudante tem em si. Assumam o papel da história que cabe a cada um de vocês. Meninas, assumam o papel de luta. Meninos, assumam o papel revolucionário", diz o professor Wanderlan Porto.

Ele relata ainda as dificuldades enfrentadas na entidade. "Isso aqui está fechando as portas. Já não há mais material de limpeza suficiente para limpar nossos banheiros. As bolsas de pesquisa da Caps acabam agora em setembro. E vocês, vão fazer o quê? A Reforma da Previdência tirará de vocês a possibilidade de repousar e quem sabe viver", aponta.

Nas imagens, gravadas no Campus Maceió do Ifal, o professor lembra ter estudado em uma escola técnica. "Se não lutarmos, teremos um passado para lembrar, mas não um futuro para nos orgulhar. Sou cria de uma escola técnica, meus pais são cria de uma escola técnica, e tenho enorme orgulho de estar aqui, mas tenho mais orgulho ainda de ir para as ruas e ver nos olhos de cada um dos meus alunos a honra de defender a educação pública".

A Gazetaweb entrou em contato com o Instituto Federal de Alagoas para um posicionamento sobre o caso. Em nota, a instituição esclareceu apenas a situação de contingenciamento no orçamento 2019. Confira o texto na íntegra:

"Nota de esclarecimento: contingenciamento no Ifal

O Instituto Federal de Alagoas (Ifal), diante das informações que estão sendo divulgadas nas redes sociais sobre o contingenciamento no orçamento de 2019, e que a instituição só funcionaria até setembro, esclarece que:

1 - a Pró-reitoria de Administração (Proad), com o suporte da Comissão de Gestão do Orçamento do Fórum de Dirigentes de Administração e Planejamento (Fordap), já está finalizando os ajustes orçamentários com a equipe de gestão de cada Campus, considerando o Decreto nº 9.741/2019, publicado no DOU de 29/03/2019, que trata da programação orçamentária e determinou o contingenciamento;

2 - a Portaria nº. 1235/GR, de 30 de abril de 2019, com base nos princípios da economicidade e da sustentabilidade, determinou que as Unidades do Ifal adotassem medidas de contenção de gastos, autorizando apenas a realização de despesas estritamente necessárias ao funcionamento e a manutenção das atividades acadêmicas; suspendessem, a partir de 02/05, todos os eventos integradores, que envolvam a participação de estudantes e servidores de diversos Campi do Ifal, exceto: solenidades de formatura e/ou certificação, trabalhos/atividades já aprovados, e/ou eventos específicos do Campus; restringissem as despesas com visitas técnicas com necessidade de pernoite e a participação de servidores e alunos em eventos, como capacitações e congressos, exceto aquelas já empenhadas; adotassem medidas de economia de água, energia elétrica, combustível e telefonia;

3 - a equipe de gestão da Reitoria está em constante estudo para garantir a manutenção dos serviços do Ifal em 2019, e emitirá novas orientações ao término desses estudos realizados pela Proad;

4 - a gestão do Ifal ratifica seu compromisso com a educação pública, gratuita e de qualidade, bem como não medirá esforços para garantir as atividades de ensino, pesquisa, extensão e inovação nas suas Unidades no Estado de Alagoas."


Sinteal

Diante da repercussão do caso, o Sindicato dos Trabalhadores da Educação de Alagoas (Sinteal) também se manifestou. Em nota, a entidade declarou apoio a Wanderlan Porto.

"O Sindicato dos Trabalhadores da Educação de Alagoas (Sinteal) vem a público manifestar solidariedade ao professor Wanderlan Porto, do Instituto Federal de Educação, Campus/Maceió. Em meio a todos os absurdos que a educação pública e os profissionais de todo o país estão sendo obrigados a enfrentar, é inevitável que se faça luta em defesa do direito constitucional que a população tem, que é a educação e a livre expressão.

Após proferir um discurso totalmente legítimo contra os cortes orçamentários impostos pelo Governo Federal à educação, que foi transmitido ao vivo pelas mídias sociais, Wanderlan se tornou alvo daqueles que não conseguem conviver com a democracia e a liberdade de expressão. Como se ameaças e agressões pela internet não fossem suficientes, o atual ministro da educação Abraham Weintraub, declarou por meio de sua página em uma mídia social que pretende abrir processo disciplinar com o objetivo de exonerar o educador.

Um discurso proferido em uma assembleia de trabalhadoras/es e estudantes que organizava uma manifestação pacífica e só oferece ameaça a quem tem medo de uma sociedade desenvolvida e com acesso à educação, essa é a razão para o ministro da educação voltar os olhares para Alagoas, e decidir punir o professor.

Em defesa do estado democrático de direito, não admitiremos qualquer tipo de censura, principalmente a quem defende legitimamente o direito à educação pública e à melhoria das condições de vida da classe trabalhadora.

Toda e qualquer tentativa de silenciar a voz de cidadãos e cidadãs brasileiras se configura como autoritarismo e repressão, e isso não será tolerado.

Nossa resposta sempre foi e será nas ruas, com multidões uníssonas ecoando ainda mais forte o discurso que o ministro tenta abafar.

Defender a educação não é crime!"

Nota do MEC

"O MEC informa que vem recebendo denúncias via redes sociais sobre alunos e professores que estariam sendo coagidos a participarem de atos e manifestações de rua. Além disso, a Ouvidoria do MEC já contabilizou 41 reclamações por meio do sistema e-Ouv, registradas desde quarta-feira, 29/05.

A Pasta informa que irá analisar os casos e encaminhar aos órgãos competentes para investigação."

Vídeo mostra professor convocando estudantes para manifestações:
Imagens foram gravadas dentro das dependências no Ifal Maceió