Representantes de religiões se unem contra intolerância na Bahia
O direito de crer e se manifestar religiosamente sem ser agredido, morto ou discriminado é humano. Em garantia disso, nasceu, há 12 anos, a Caminhada dos Ojás. O ato, organizado por adeptos do Candomblé, consiste em amarrar lenços brancos em árvores da cidade como forma de despertar as pessoas quanto à necessidade do respeito, além do repúdio aos atos de violência religiosa.
Vestindo branco, pais, mães e filhos de santo, simpatizantes do Candomblé, além de representantes de outras religiões, se reuniram, na noite dessa sexta-feira (16), no terreiro do Gantois, no bairro da Federação, para clamar por paz, tolerância e garantia da liberdade religiosa.
De lá, após ato ecumênico - com tradições da religião de matriz africana -, seguiram em caminhada até o Pelourinho, passando pelo Dique do Tororó, Campo Grande e Corredor da Vitória. Juntos, amarraram os lenços brancos às árvores que encontraram no caminho. A previsão é que a caminhada se encerre só de madrugada.
O lenço preso nos troncos, em referência à paz, é simbólico, porque o Iroko [árvore] representa um orixá, ou seja, uma representação sagrada, como explica o coordenador geral do Coletivo de Entidades Negras (Cen), Marcos Rezende.
Entre 2013 e 2018, a Bahia registrou 135 ocorrências de intolerância religiosa. Conforme dados da Secretaria Estadual de Promoção da Igualdade Racial (Sepromi), houve um aumento de 450% nos casos de violência relacionada à religião. Em 2018, nos oito primeiros meses, foram 29 ocorrências no estado. O número já superou os 21 registros de 2017 e já se aproxima dos 32 casos de 2016.
A resistência de Moa
Ogã, o mestre de capoeira Romualdo Rosário da Costa, 64 anos, o Moa do Katendê - morto durante discussão política em 8 de outubro, no primeiro turno das eleições -, foi o homenageado da alvorada, porque, segundo o povo de santo, "foi a primeira vítima de uma série de atos violentos" que mira outros negros do Candomblé.
"Escolhemos Moa por tudo. Pela história, a resistência que simbolizou até o dia de sua morte que, sim, foi um ato de intolerância. Política e racial. Nossa ideia é que amanhã, quando as pessoas se depararem com os lenços nas árvores da cidade, percebam que nós, apesar de negros, também somos parte de tudo. Estamos aqui e continuaremos a resistir", destacou Marcos.
Viúva de Katendê, a aposentada Eliene Reis, 64, também é parte do povo de santo. Embora não seja "feita", teve o marido como referência dentro da religião pelos mais de 20 anos em que foram casados. Pela primeira vez na Alvorada dos Ojás, Eliane comentou que o marido morreu como um símbolo de intolerância mas, também, de resistência.
"Eu vim, porque me identifico totalmente com a religião. O Candomblé fez parte das nossas vidas desde sempre. É complicado não relacionar a morte dele, que era uma pessoa tão tranquila, com a intolerância. Porque foi isso. Falta de respeito com o outro, falta de amor", disse Eliene.
Ao lado da mãe, a fisioterapeuta Jasse Mahi, 28 anos, filha mais nova do capoeirista, disse que a alvorada representa a força.
"Nós podemos vencer e, para isso, vamos lutar. Assim como o meu pai, que lutou e era muito forte. Nosso ato é uma maneira de levar nossa cultura, para que as pessoas conheçam e respeitam nossa história", acrescentou Jasse.
Tolerância
Também vestindo branco, o padre Lázaro Muniz, parecia à vontade em meio aos espíritas, pais, filhos e mães de santo. Pároco da Catedral e Igreja do Rosário dos Pretos, no Pelourinho, o religioso afirmou que a cerimônia é uma "luta de todos".
"A cerimônia, em si, é do Candomblé. Mas estamos aqui para defender o fim de toda e qualquer intolerância religiosa. Nós [da Igreja Católica] já sofremos [intolerância] e fizemos outros sofrerem, porque é algo histórico. É uma luta de hoje para o futuro".
Simpatizante do Candomblé, como se identifica, o autônomo Fábio Dias garante que nunca sofreu violência por participar de atos da religião. Mas lembra, no entanto, que, em meio a familiares, sempre de "forma velada", já precisou lidar com "brincadeiras" preconceituosas quanto à escolha.
"O preconceito vem de muitas gerações. Muitas vezes, começa de uma brincadeira que se perpetua e vira um episódio de violência. Há todo um discurso retórico nesse sentido", afirmou ele, que comemorou a homenagem a Moa do Katendê, com quem trabalhou durante alguns anos.
Segundo Fábio, é "virando o feitiço contra o feiticeiro" que o povo do Candomblé dribla as ações violentas das quais são vítimas. "É quando a gente se fortalece. Revertendo as ofensas, indo para a linha de frente, indo à luta".
Vestindo branco, pais, mães e filhos de santo, simpatizantes do Candomblé, além de representantes de outras religiões, se reuniram, na noite dessa sexta-feira (16), no terreiro do Gantois, no bairro da Federação, para clamar por paz, tolerância e garantia da liberdade religiosa.
De lá, após ato ecumênico - com tradições da religião de matriz africana -, seguiram em caminhada até o Pelourinho, passando pelo Dique do Tororó, Campo Grande e Corredor da Vitória. Juntos, amarraram os lenços brancos às árvores que encontraram no caminho. A previsão é que a caminhada se encerre só de madrugada.
O lenço preso nos troncos, em referência à paz, é simbólico, porque o Iroko [árvore] representa um orixá, ou seja, uma representação sagrada, como explica o coordenador geral do Coletivo de Entidades Negras (Cen), Marcos Rezende.
Entre 2013 e 2018, a Bahia registrou 135 ocorrências de intolerância religiosa. Conforme dados da Secretaria Estadual de Promoção da Igualdade Racial (Sepromi), houve um aumento de 450% nos casos de violência relacionada à religião. Em 2018, nos oito primeiros meses, foram 29 ocorrências no estado. O número já superou os 21 registros de 2017 e já se aproxima dos 32 casos de 2016.
A resistência de Moa
Ogã, o mestre de capoeira Romualdo Rosário da Costa, 64 anos, o Moa do Katendê - morto durante discussão política em 8 de outubro, no primeiro turno das eleições -, foi o homenageado da alvorada, porque, segundo o povo de santo, "foi a primeira vítima de uma série de atos violentos" que mira outros negros do Candomblé.
"Escolhemos Moa por tudo. Pela história, a resistência que simbolizou até o dia de sua morte que, sim, foi um ato de intolerância. Política e racial. Nossa ideia é que amanhã, quando as pessoas se depararem com os lenços nas árvores da cidade, percebam que nós, apesar de negros, também somos parte de tudo. Estamos aqui e continuaremos a resistir", destacou Marcos.
Viúva de Katendê, a aposentada Eliene Reis, 64, também é parte do povo de santo. Embora não seja "feita", teve o marido como referência dentro da religião pelos mais de 20 anos em que foram casados. Pela primeira vez na Alvorada dos Ojás, Eliane comentou que o marido morreu como um símbolo de intolerância mas, também, de resistência.
"Eu vim, porque me identifico totalmente com a religião. O Candomblé fez parte das nossas vidas desde sempre. É complicado não relacionar a morte dele, que era uma pessoa tão tranquila, com a intolerância. Porque foi isso. Falta de respeito com o outro, falta de amor", disse Eliene.
Ao lado da mãe, a fisioterapeuta Jasse Mahi, 28 anos, filha mais nova do capoeirista, disse que a alvorada representa a força.
"Nós podemos vencer e, para isso, vamos lutar. Assim como o meu pai, que lutou e era muito forte. Nosso ato é uma maneira de levar nossa cultura, para que as pessoas conheçam e respeitam nossa história", acrescentou Jasse.
Tolerância
Também vestindo branco, o padre Lázaro Muniz, parecia à vontade em meio aos espíritas, pais, filhos e mães de santo. Pároco da Catedral e Igreja do Rosário dos Pretos, no Pelourinho, o religioso afirmou que a cerimônia é uma "luta de todos".
"A cerimônia, em si, é do Candomblé. Mas estamos aqui para defender o fim de toda e qualquer intolerância religiosa. Nós [da Igreja Católica] já sofremos [intolerância] e fizemos outros sofrerem, porque é algo histórico. É uma luta de hoje para o futuro".
Simpatizante do Candomblé, como se identifica, o autônomo Fábio Dias garante que nunca sofreu violência por participar de atos da religião. Mas lembra, no entanto, que, em meio a familiares, sempre de "forma velada", já precisou lidar com "brincadeiras" preconceituosas quanto à escolha.
"O preconceito vem de muitas gerações. Muitas vezes, começa de uma brincadeira que se perpetua e vira um episódio de violência. Há todo um discurso retórico nesse sentido", afirmou ele, que comemorou a homenagem a Moa do Katendê, com quem trabalhou durante alguns anos.
Segundo Fábio, é "virando o feitiço contra o feiticeiro" que o povo do Candomblé dribla as ações violentas das quais são vítimas. "É quando a gente se fortalece. Revertendo as ofensas, indo para a linha de frente, indo à luta".
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