Procuradoria vai à Justiça se Bolsonaro parar demarcações
O MPF (Ministério Público Federal) vai ajuizar ações contra o eventual governo de Jair Bolsonaro (PSL) caso ele cumpra as ameaças de interromper demarcações de terras indígenas.
Coordenador da 6ª Câmara Temática de Coordenação e Revisão do órgão, responsável por assuntos ligados às populações indígenas e às comunidades tradicionais, o subprocurador-geral da República Antonio Carlos Alpino Bigonha diz se tratar de uma imposição constitucional, à qual qualquer mandatário tem de se curvar.
"Como candidato, essa afirmação é muito bombástica, mas, como presidente da República, ela é um impossível jurídico", declarou. "Quando o poder público não cumpre o papel dele [de demarcar], cabe ao MPF provocar a Justiça para obrigar a fazê-lo, cumprir o dever de constitucionalidade."
Bolsonaro tem dito que não pretende delimitar terras para índios se for eleito. Em eventos públicos, defendeu a exploração econômica dessas áreas pelas próprias comunidades ou, se não for o caso, até por terceiros, interessados em suas riquezas. Propôs também que essas porções do território nacional possam ser vendidas.
Ao Jornal Nacional, o presidenciável disse na última quinta (18) que a Amazônia tem problemas e citou as "enormes reservas indígenas".
Para o subprocurador, as falas revelam "desconhecimento da matéria". "Recebo com uma certa tranquilidade democrática algumas frases de efeito que são ditas na campanha. Agora, depois que o candidato é eleito e toma posse no Planalto para o exercício da Presidência, ele tem de jurar a Constituição. Então, há um limite dessa narrativa, um limite constitucional."
A Constituição de 1988 reconhece aos índios direitos sobre as terras que tradicionalmente ocupam, "competindo à União demarcá-las, proteger e fazer respeitar todos os seus bens".
Segundo a lei, a propriedade das áreas é da União, mas as tribos têm a posse permanente, "cabendo-lhes o usufruto exclusivo das riquezas do solo, dos rios e dos lagos nelas existentes".
As terras são inalienáveis -ou seja, não podem ser vendidas, como já propôs Bolsonaro- e os direitos sobre elas são imprescritíveis.
Regras semelhantes se aplicam às comunidades tradicionais, como as de quilombolas e ribeirinhos. A Constituição atribui ao MPF a tarefa de defender judicialmente os direitos e interesses das populações indígenas.
Bigonha explica que, diante da morosidade do poder público e de outros entraves, o órgão tem movido ações perante a Justiça Federal para, por exemplo, obrigar a Funai (Fundação Nacional do Índio) a fazer os estudos antropológicos necessários às demarcações e concluir os processos, sendo bem sucedido em vários casos.
O subprocurador afirma o direito dos índios ao usufruto das terras é originário, ou seja, precede a própria Constituição, e pétreo. Sendo assim, sustenta, não pode ser alterado nem por proposta de emenda à Constituição (PEC) no Congresso.
A forma de fazê-lo seria por uma nova Assembleia Nacional Constituinte, o que exigiria um novo pacto da sociedade brasileira.
Ele observa que, desde 1988, a despeito da coloração ideológica dos presidentes da República, sempre houve resistência dos governos para tocar as demarcações. Na maioria dos casos, exige-se o deslocamento de pessoas que ocupam as áreas destinadas à demarcação, o que fomenta conflitos.
"É uma questão fundiária grave no Brasil. Então, não causa surpresa que uma pessoa venha dizer, é quase um senso comum no Brasil, que tem terra demais para pouco índio. É uma mentalidade atrasada, que permeia todos os estratos da sociedade. Nosso papel tem sido sempre o de desfazer esses preconceitos e reafirmar esse direito que está na Constituição", comenta.
MEIO AMBIENTE
Bigonha também critica a proposta do candidato de extinguir o Ministério do Meio Ambiente, fundindo-o com o Ministério da Agricultura. Para ele, ela reflete uma mentalidade atrasada, dos anos de 1970, quando o desenvolvimento era indiferente à preservação.
"A gente está no século 21. O nosso paradigma de ocupação da terra e de exploração da natureza é a menor interferência com a maior eficiência: derrubar pouca árvore, mover poucas pessoas, prejudicar um pequeno contingente humano para produzir um grande resultado", afirma.
Para ele, os programas das pastas do Meio Ambiente e da Agricultura são incompatíveis. "O Ministério da Agricultura, o objetivo dele é derrubar mais árvore e plantar a maior extensão possível. O Ministério do Meio Ambiente é o paradigma contrário. Pelo menos hoje."
O subprocurador afirma que é complicado dizer como um eventual futuro presidente deverá organizar seu governo, mas que ele terá a obrigação de tutelar o meio ambiente e o índio mesmo que passem a ser assunto do Ministério da Fazenda.
O MPF tem sinalizado que será um foco de resistência a algumas pautas de Bolsonaro. A subprocuradora-geral da República Luiza Cristina Fonseca Frischeisen, coordenadora da 2ª Câmara Temática, responsável por questões criminais, disse na semana passada que o órgão se opõe à proposta do candidato de livrar de investigação policiais que, em situações de conflito, se envolvam em mortes.
As câmaras do MPF são órgãos setoriais que coordenam e revisam as atividades dos procuradores que integram a instituição. Elas são organizadas por temas.
Coordenador da 6ª Câmara Temática de Coordenação e Revisão do órgão, responsável por assuntos ligados às populações indígenas e às comunidades tradicionais, o subprocurador-geral da República Antonio Carlos Alpino Bigonha diz se tratar de uma imposição constitucional, à qual qualquer mandatário tem de se curvar.
"Como candidato, essa afirmação é muito bombástica, mas, como presidente da República, ela é um impossível jurídico", declarou. "Quando o poder público não cumpre o papel dele [de demarcar], cabe ao MPF provocar a Justiça para obrigar a fazê-lo, cumprir o dever de constitucionalidade."
Bolsonaro tem dito que não pretende delimitar terras para índios se for eleito. Em eventos públicos, defendeu a exploração econômica dessas áreas pelas próprias comunidades ou, se não for o caso, até por terceiros, interessados em suas riquezas. Propôs também que essas porções do território nacional possam ser vendidas.
Ao Jornal Nacional, o presidenciável disse na última quinta (18) que a Amazônia tem problemas e citou as "enormes reservas indígenas".
Para o subprocurador, as falas revelam "desconhecimento da matéria". "Recebo com uma certa tranquilidade democrática algumas frases de efeito que são ditas na campanha. Agora, depois que o candidato é eleito e toma posse no Planalto para o exercício da Presidência, ele tem de jurar a Constituição. Então, há um limite dessa narrativa, um limite constitucional."
A Constituição de 1988 reconhece aos índios direitos sobre as terras que tradicionalmente ocupam, "competindo à União demarcá-las, proteger e fazer respeitar todos os seus bens".
Segundo a lei, a propriedade das áreas é da União, mas as tribos têm a posse permanente, "cabendo-lhes o usufruto exclusivo das riquezas do solo, dos rios e dos lagos nelas existentes".
As terras são inalienáveis -ou seja, não podem ser vendidas, como já propôs Bolsonaro- e os direitos sobre elas são imprescritíveis.
Regras semelhantes se aplicam às comunidades tradicionais, como as de quilombolas e ribeirinhos. A Constituição atribui ao MPF a tarefa de defender judicialmente os direitos e interesses das populações indígenas.
Bigonha explica que, diante da morosidade do poder público e de outros entraves, o órgão tem movido ações perante a Justiça Federal para, por exemplo, obrigar a Funai (Fundação Nacional do Índio) a fazer os estudos antropológicos necessários às demarcações e concluir os processos, sendo bem sucedido em vários casos.
O subprocurador afirma o direito dos índios ao usufruto das terras é originário, ou seja, precede a própria Constituição, e pétreo. Sendo assim, sustenta, não pode ser alterado nem por proposta de emenda à Constituição (PEC) no Congresso.
A forma de fazê-lo seria por uma nova Assembleia Nacional Constituinte, o que exigiria um novo pacto da sociedade brasileira.
Ele observa que, desde 1988, a despeito da coloração ideológica dos presidentes da República, sempre houve resistência dos governos para tocar as demarcações. Na maioria dos casos, exige-se o deslocamento de pessoas que ocupam as áreas destinadas à demarcação, o que fomenta conflitos.
"É uma questão fundiária grave no Brasil. Então, não causa surpresa que uma pessoa venha dizer, é quase um senso comum no Brasil, que tem terra demais para pouco índio. É uma mentalidade atrasada, que permeia todos os estratos da sociedade. Nosso papel tem sido sempre o de desfazer esses preconceitos e reafirmar esse direito que está na Constituição", comenta.
MEIO AMBIENTE
Bigonha também critica a proposta do candidato de extinguir o Ministério do Meio Ambiente, fundindo-o com o Ministério da Agricultura. Para ele, ela reflete uma mentalidade atrasada, dos anos de 1970, quando o desenvolvimento era indiferente à preservação.
"A gente está no século 21. O nosso paradigma de ocupação da terra e de exploração da natureza é a menor interferência com a maior eficiência: derrubar pouca árvore, mover poucas pessoas, prejudicar um pequeno contingente humano para produzir um grande resultado", afirma.
Para ele, os programas das pastas do Meio Ambiente e da Agricultura são incompatíveis. "O Ministério da Agricultura, o objetivo dele é derrubar mais árvore e plantar a maior extensão possível. O Ministério do Meio Ambiente é o paradigma contrário. Pelo menos hoje."
O subprocurador afirma que é complicado dizer como um eventual futuro presidente deverá organizar seu governo, mas que ele terá a obrigação de tutelar o meio ambiente e o índio mesmo que passem a ser assunto do Ministério da Fazenda.
O MPF tem sinalizado que será um foco de resistência a algumas pautas de Bolsonaro. A subprocuradora-geral da República Luiza Cristina Fonseca Frischeisen, coordenadora da 2ª Câmara Temática, responsável por questões criminais, disse na semana passada que o órgão se opõe à proposta do candidato de livrar de investigação policiais que, em situações de conflito, se envolvam em mortes.
As câmaras do MPF são órgãos setoriais que coordenam e revisam as atividades dos procuradores que integram a instituição. Elas são organizadas por temas.
Últimas Notícias
Brasil / Mundo
Bolsonaro à CNN: 'Não vou sair do meu país, porque não fiz nada de errado'
Política em Pauta
Defensoria Pública de Alagoas convoca moradores afetados pela Braskem para reunião para garantir reparação integral pelos danos
Cidades
VÍDEO: Ao menos um ônibus fica em chamas no pátio de secretaria em Coité do Nóia
Cidades
Cadáver de homem de 57 anos é retirado de área de difícil acesso em Maceió
Política em Pauta
Deputada Cibele Moura propõe criação do programa Castra Alagoas
Vídeos mais vistos
TV JÁ É
Festa termina com jovem morta e dois feridos no Agreste alagoano
Geral
Morte em churrascaria de Arapiraca
TV JÁ É
Homem que conduzia motocicleta pela contramão morre ao ter veículo atingido por carro, em Arapiraca
TV JÁ É
Inauguração Jomart Atacarejo
TV JÁ É