Referendo na Catalunha marcado pela violência; 761 feridos

Por Redação com Jornal de Notícias 01/10/2017 17h05 - Atualizado em 01/10/2017 20h08
Por Redação com Jornal de Notícias 01/10/2017 17h05 Atualizado em 01/10/2017 20h08
Referendo na Catalunha marcado pela violência; 761 feridos
O departamento de saúde do governo catalão anunciou que 761 pessoas foram atendidas, este domingo, nos hospitais e centros de saúde, "na sequência das cargas policiais", para impedir o referendo pela independência na região.

Num balanço anterior, o Departament de Salut (equivalente regional do ministério da Saúde) fala em 465 feridos "relacionados com as cargas dos corpos policiais durante a jornada do referendo".

Um dos casos mais graves é o de uma pessoa ferida num olho por um projétil de borracha (em forma de bola), que foi operada no hospital de Sant Pau.

A meio da tarde os Serviços de Saúde da Catalunha informaram que o número de pessoas feridas nos distúrbios ascendia a 91 pessoas, um número muito inferior ao que o governo regional catalão estava a divulgar nessa altura: 337.

Um porta-voz dos Serviços de Saúde catalães confirmou que tinham dado entrada nos hospitais e centros de saúde 337 pessoas, mas que muitas delas tinham sido atendidas por se terem sentido mal ou por problemas ligeiros [tonturas, ataques de ansiedade, indisposições]. "Entre estes [337] contam-se 90 feridos e um ferido grave, num olho", indicou a mesma fonte.

A Justiça espanhola considerou ilegal o referendo pela independência convocado para hoje pelo governo regional catalão e deu ordem para que a polícia regional fechasse os locais de votação.

Face à inação da polícia regional em alguns locais, foram chamadas a Guardia Civil e a Polícia Nacional espanhola. Foram estes corpos de polícia de âmbito nacional que então protagonizaram os maiores momentos de tensão para tentar impedir o referendo.

Há imagens comoventes a circular nas redes sociais de agentes da polícia catalã em lágrimas por nada poderem fazer para proteger as pessoas das cargas policiais.

A Guardia Civil e a Polícia Nacional espanhola realizaram cargas policiais e entraram à força em várias assembleias de voto que tinham sido ocupadas por pais, alunos e residentes, numa tentativa de garantir que os locais permaneceriam abertos.

Foram retiradas pessoas que ocupavam locais de votação, entre os quais o pavilhão desportivo da escola em Girona, onde deveria votar o líder da Generalitat, Carles Puigdemont. O presidente catalão acabaria por votar noutro local.

Além destas situações, houve ainda confrontos noutros locais, nomeadamente na sala de exposições de Sant Carles de la Ràpita (Terragona) e na Escola Rius i Taule (Barcelona), segundo relatos de repórteres das agências noticiosas internacionais. Em Lleida, um homem com cerca de 70 anos sofreu um enfarte quando a polícia se preparava para entrar na assembleia de voto.

O Sistema de Emergências Médicas (SEM) do governo catalão tinha dado conta de 38 feridos, na sequência da ação da Polícia Nacional e da Guardia Civil para impedir o referendo, a maioria por tonturas, ansiedade ou contusões. No entanto, em conferência de imprensa, o porta-voz da Generalitat, Jordi Turull, falou em 337 feridos na sequência das ações policiais.

"A atuação da Polícia e da Guardia Civil não obedece aos critérios de proporcionalidade, responde apenas ao: Vamos a eles!", disse. "Responsabilizamos o presidente do Governo, Mariano Rajoy, e o ministro do Interior [Administração Interna], Juan Ignacio Zoido, pelo que está a acontecer na Catalunha", salientou.

Por sua vez, os Serviços de Saúde da Catalunha informaram que o número de pessoas feridas nos distúrbios relacionados com o referendo ascende, neste momento, a 91 pessoas, menos de um terço dos 337 mencionados anteriormente pelo governo regional.

11 polícias feridos

Pelo menos 11 agentes das forças policiais foram feridos em operações para impedir a votação. "De momento, no total, nove agentes da polícia e dois da Guardia Civil foram feridos ao executarem ordens", escreveu o Ministério no Twitter, precisando que os agentes foram atingidos com pedras.

Governo catalão assegurou referendo "com garantias"

O porta-voz da presidência e do Governo da Catalunha, Jordi Turull, apelou ao voto no referendo e à "defesa de forma cívica e pacífica do direito fundamental ao voto", garantindo que 73% das mesas eleitorais (4561 mesas) estão a funcionar. Turull sublinhou que, apesar dos incidentes, "vale sempre a pena defender a democracia" e rejeitou "render-se face à violência do Estado".

Turull assegurou ainda que o referendo se realizará "com garantias", podendo os eleitores votar em qualquer local habilitado, mesmo sem envelopes e com boletins impressos em casa.

A votação vai permitir que 5,3 milhões de catalães votem em qualquer colégio eleitoral, facilitando a votação àqueles cujos locais de voto tenham sido encerrados, por ordem do Tribunal Superior de Justiça da Catalunha.

O Tribunal Constitucional espanhol suspendeu, no início de setembro, como medida cautelar, todas as leis regionais aprovadas pelo parlamento e pelo Governo da Catalunha que davam cobertura legal ao referendo de autodeterminação convocado para este domingo.

Procuradoria espanhola vai agir contra os Mossos d'Esquadra

A Procuradoria-Geral de Espanha vai agir contra os Mossos d'Esquadra por entender que a polícia regional da Catalunha agiu como uma "polícia política", por não ter acatado a ordem de fechar várias assembleias de voto no referendo catalão.

Fontes da Procuradoria-Geral do Estado espanhol citadas pelo jornal "El País" manifestaram o seu "mal-estar" quanto à atuação dos agentes da polícia autonómica por "terem atraiçoado a confiança que os juízes e os procuradores depositaram neles até ao último momento".

Entretanto, as cinco organizações sindicais representativas do Corpo Nacional de Polícia de Espanha anunciaram, em comunicado conjunto, que vão agir legalmente contra os Mossos d'Esquadra pela forma como a polícia regional catalã atuou no referendo da Catalunha.

"Não só se esquivaram a cumprir o que foi ordenado pelo Tribunal Superior de Justiça da Catalunha, como agiram com uma ligeireza vergonhosa, se não mesmo com obstrucionismo, inclusivamente manipulando dados sobre os centros de votação", asseguram as associações numa nota à imprensa.

Generalitat vai apresentar queixa contra Governo espanhol na UE

O conselheiro do governo catalão para os Assuntos Exteriores anunciou que vai apresentar uma queixa contra o executivo espanhol na União Europeia, por violação dos direitos humanos. Em conferência de imprensa, Raul Romeva afirmou que a Generalitat vai invocar o artigo n.º 7 do Tratado da União Europeia (UE), que permite ao Conselho da Europa tomar medidas contra um Estado-membro se for declarada uma "violação grave" do artigo 2.º do mesmo diploma.

Segundo o Tratado, a UE "funda-se nos valores do respeito pela dignidade humana, da liberdade, da democracia, da igualdade, do Estado de direito e do respeito pelos direitos do Homem, incluindo os direitos das pessoas pertencentes a minorias", com valores comuns aos Estados-membros, numa sociedade caracterizada pelo pluralismo, a não discriminação, a tolerância, a justiça, a solidariedade e a igualdade entre homens e mulheres".

Rajoy nega existência de referendo

O presidente do Governo espanhol, Mariano Rajoy, declarou que "não houve um referendo de autodeterminação" na Catalunha e que a "grande maioria" dos catalães recusou "participar no guião dos separatistas".