“Sou o primeiro da família a ter nível superior”. A frase é do ex-aluno da Ufal, Emerson de Menezes, que menciona essa conquista relembrando tudo que passou para conseguir o diploma no curso de Ciências Contábeis. A oportunidade chegou até ele graças a um projeto ousado, que dividiu opiniões, mas que prova, a cada dia, a decisão acertada que foi: a interiorização da Universidade Federal de Alagoas (Ufal). Há cinco anos, Santana do Ipanema recebia uma unidade de ensino superior de qualidade, gratuita e com opções de dois bacharelados – Ciências Econômicas e Ciências Contábeis.

A primeira turma está se formando. Emerson é um dos estudantes egressos dela. Um jovem cheio de sonhos, que saiu da sala de aula, mas permanece na Ufal. Agora, como servidor técnico-administrativo aprovado em concurso público. E os estímulos proporcionados pela graduação só despertaram novas metas. “Ciências Contábeis era algo em especial: a oportunidade de mudar, de crescer. Definitivamente foi a melhor oportunidade que já tive. Esses anos na Ufal puderam me proporcionar uma evolução muito grande. Formei um laço forte com a instituição. Meu objetivo agora é ser aprovado em mestrado de Contabilidade e ser professor na própria Ufal, na qual, desde o início da implantação em Santana estive como discente, agora como técnico, e, futuramente como professor”, concluiu Emerson.

A unidade de Santana do Ipanema faz parte do Campus Sertão, que tem como sede a cidade de Delmiro Gouvêia. A região foi beneficiada com dois cursos de graduação com 365 estudantes matriculados, oriundos de várias localidades de Alagoas e de estados vizinhos como Pernambuco, Sergipe, Bahia, além de outros mais distantes, mas que atraem universitários pelo nível de excelência e gratuidade dos cursos. Uma peculiaridade destacada é a procura de pessoas que já trabalham na área de economia e contabilidade, mas abandonaram os estudos no ensino médio, por necessidade de independência financeira ou falta de opção em regiões próximas.

Esse perfil é comum na turma de José Augusto de Oliveira, que aos 40 anos ainda busca qualificação para somar à experiência profissional e almejar passos maiores. “Como dizia meu pai: ‘O luxo é por conta de vocês, comida não faltará’. Todos entramos no mercado de trabalho cedo, garantindo assim nossa subsistência. E com dificuldade conciliamos estudos e trabalho. O desafio é constante. Confesso que ainda não me adaptei a rotinas corridas, exigências, tempo... Porém, o sonho não pode acabar. Uma Ufal cada vez melhor é o que merecemos!”, conta o aluno que também quer ser professor.

Para dar suporte administrativo à unidade, estão lotados na cidade 11 servidores técnicos. Já o corpo docente, ainda não completo, é formado por 20 professores mestres e especialistas, mas que, aos poucos, estão conseguindo afastamento para buscar melhor qualificação. Atualmente, quatro professores estão em processo de doutoramento.

Qualidade com muito esforço

Sem prédio próprio, por enquanto, a comunidade acadêmica da Ufal em Santana do Ipanema enfrenta algumas limitações que esbarram no fator estrutura. Mas a primeira avaliação dos dois bacharelados da Unidade foi motivo de muita comemoração e incentivo para continuar o trabalho realizado na instituição. A nota 4, do máximo de 5, veio confirmar o esforço gerado entre os professores, técnicos e estudantes que acreditam no potencial da Unidade no Sertão.

“Mesmo em condições de estrutura em formação, Santana deu uma resposta muito positiva na avaliação dos cursos. Isso é resultado de um grupo de profissionais qualificados, competentes e engajados no projeto. Profissionais que, entendendo as especificidades da região e algumas fragilidades infraestruturais, têm abraçado o projeto e levado ao sucesso. Ao mesmo tempo, a gestão tem contribuído fortemente para a consolidação acadêmica da Unidade”, destacou o reitor da Ufal, Eurico Lôbo.

Estudantes e professores participam ativamente das atividades acadêmicas, oportunizando melhores dinâmicas de ensino e pesquisa. O coordenador da Unidade, José Francisco de Amorim, ressalta o engajamento da comunidade no que se refere a estudos ligados à região. Já são cinco projetos aprovados no Programa de Ações Interdisciplinares (Painter), um projeto com bolsa BDAI (Programa de Bolsas de Desenvolvimento Acadêmico e Institucional), além da criação do primeiro grupo de pesquisa da Ufal em Santana do Ipanema, que estuda métodos quantitativos aplicados à Economia e Gestão.

O professor Francisco explica ainda que a ideia é dar passos firmes na caminhada para a consolidação da Ufal em Santana. A pretensão é criar um mestrado na área de Gestão, fazer um estudo detalhado nos Projetos Pedagógicos dos cursos para encaminhar as demandas e, num futuro próximo, trazer novos que atendam às necessidades da região, levando em consideração oportunidades de emprego e crescimento profissional. Nada disso é fácil. Todo início tem obstáculos, mas, os objetivos já estão traçados. “Esse pioneirismo é uma conquista muito grande para nós, porque daqui a 10, 20 anos, os que chegarem vão ver que as pessoas lá do início ‘ralaram’ muito por isso aqui. Deixaremos um legado, estamos fazendo história”, disse.

Prédio próprio nos alicerces

Depois de cinco anos funcionando em local provisório, alugado e disperso, a gestão da Ufal trouxe a boa notícia da construção de uma sede própria, com dois prédios e uma área agradável para receber a comunidade acadêmica. Num dos prédios vai funcionar a parte administrativa, salas dos professores e da pós-graduação. No outro, as salas de aula serão construídas junto com a biblioteca, os Centros Acadêmicos, a Empresa Júnior e o auditório.

O processo de licitação foi concluído e a obra já está em andamento, na fase de fundação. A meta é entregar a nova Unidade de Santana do Ipanema em dezembro de 2016. “Mesmo com uma conjuntura nacional difícil nós estamos trabalhando para que a obra ganhe celeridade para atender aos objetivos da comunidade de Santana do Ipanema. É necessário pensar nessa Unidade como uma alternativa de levar para o Sertão uma formação, ampliando o processo de inclusão dos jovens”, comentou o reitor Eurico Lôbo.

Até a conclusão da obra, o esforço de todos é por uma Universidade bem estruturada e consolidada, capaz de gerar melhores perspectivas para a região. Esse é o pensamento compartilhado pelo servidor Bennet Souza, que desde 2013 acompanha as dificuldades de cada dia e as conquistas alcançadas. “Acredito que essa situação de adversidade uniu os técnicos de forma significativa. Sempre procuramos nos ajudar, independente de setor. Apesar das dificuldades que enfrentamos, é nítido o potencial que tem esta Unidade e, também, tenho certeza que ainda irá proporcionar grandes alegrias no futuro”, avaliou.