38 jovens de Alagoas são encontrados em condições subumanas no Rio
Trinta e oito garotos de 13 a 21 anos foram trazidos do interior de Alagoas e da periferia de Maceió há 50 dias, acreditando na falsa promessa de que participariam de testes para jogar futebol no Vasco e no Fluminense.
Após uma denúncia anônima, a Secretaria estadual de Direitos Humanos descobriu que os meninos eram submetidos a condições indignas numa casa alugada em Guapimirim, na Baixada Fluminense, violando diversos artigos do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Sem autorização formal dos pais para estarem no Rio, dividiam um único banheiro e eram os responsáveis por limpar a casa e lavar as roupas. O Ministério Público ajuizou uma ação civil pública, e o grupo volta esta semana para Alagoas. Na bagagem, os sonhos destruídos.
"O Alan mexeu com o meu sonho e o dos moleques. Não estou nem dormindo direito", contou um dos meninos.
O responsável por trazê-los é o candidato a deputado estadual em Alagoas Alan Nunes Silva (PRTB), que deixou o Rio há duas semanas, após depor no MP, e se diz diretor do projeto Gool de Placa, que traria garotos carentes do Nordeste para testes no Rio. Cada menino pagou R$ 550 ao acusado para custos da viagem de ônibus para o Rio.
O Vasco e o Fluminense negam conhecer Alan, que também prometeu a oito meninos um contrato com um time na Bélgica. A suposta viagem seria em novembro. Ao ser ouvido no MP, no entanto, Alan não soube dizer o nome do time ou de um eventual contato no país europeu. Tampouco sabia que a moeda belga é o euro ou que uma das línguas faladas é o francês. Alan dizia aos garotos que não sabia especificar o time porque seria “um nome complicado”.
"Enviei cópias da ação para o MP Federal e o MP do Trabalho, para que analisem se ocorreu tráfico de pessoas e trabalho infantil, respectivamente. Como há viagem marcada para a Bélgica se eles sequer têm passaporte?", explicou a promotora Soraia Salles, responsável pela ação.
Trabalho diário
Não há TV no local, e todos dormem em colchonetes finos. Os adolescentes ficam sob responsabilidade de Giédria Ferreira, de 36 anos, funcionária de Alan há dois meses, e Edilene Rocha, de 32, mãe de um dos meninos. São os garotos que fazem a arrumação e a limpeza, seguindo uma escala diária de trabalho. Caso não aceitem, são ameaçados com a perspectiva de retornar para Alagoas.
"Coloco disciplina. Eles têm medo. Exijo respeito. Sou muito carinhosa, mas existe a hora da disciplina. Os pais sabiam que eles viriam ajudar a gente nas tarefas. Ninguém pode dizer “meu pai não sabia disso”, disse Giédria.
A Secretaria de Direitos Humanos discordou:
"Os garotos estão fora da escola, sem acomodações dignas. É a exploração da vulnerabilidade", lamentou Monalyza Alves, da Casa de Direitos, órgão da secretaria.
Menino tratado como ídolo em Alagoas
Um dos jovens enganados por Alan com a promessa de ir jogar na Bélgica já era tratado como ídolo em sua cidade, no interior de Alagoas. Animado, o menino deu entrevistas ao vivo para a rádio da cidade, de menos de 30 mil habitantes.
"Todos na minha cidade estão muito felizes com essa novidade. Antes de viajar para a Bélgica, quero ir lá visitar todos. Acho que vou ser recebido com festa", contou o menino.
O MP identificou pelo menos três violações ao Estatuto da Criança e do Adolescente. Primeiro, a falta de acesso a educação, já que apenas cinco garotos estão matriculados na rede pública. Segundo, o precário acesso a saúde, pois os meninos relataram dificuldade de atendimento médico quando um deles passou mal. Finalmente, a falta de convivência familiar: eles estão há quase dois meses longe de casa.
Ainda não está claro qual seria o benefício de Alan ao enganar os garotos. Ele os selecionou em eventos pelo interior. A viagem de ônibus para o Rio seria custeada em parte pela contribuição dos pais, que concordaram com a viagem dos meninos. Quase todas as famílias já foram contatadas pelo MP e confirmaram, mas não foi apresentada nenhuma procuração que autorizasse Alan a estar com os garotos. Do total, 30 têm menos de 18 anos. Três dos maiores de idade retornaram para o Nordeste há duas semanas, com Alan.
O retorno dos demais será pago pela Prefeitura de Guapimirim e pelo governo do estado, que são réus na ação ajuizada pelo MP. A casa em que os garotos estão é vigiada por um carro da PM. Psicólogos e assistentes sociais da Prefeitura de Guapimirim e do estado têm conversado com o grupo. Alguns choram todos os dias. Na casa, eles dizem que a proprietária impede o uso do campo de futebol, para que o gramado não seja gasto. A única bola foi embora com Alan.
Procurado, Alan não respondeu aos recados. Ao MP, ele não mostrou nenhum documento que provasse ter contatos no Rio para os supostos testes.
"O Alan mexeu com o meu sonho e o dos moleques. Não estou nem dormindo direito", contou um dos meninos.
O responsável por trazê-los é o candidato a deputado estadual em Alagoas Alan Nunes Silva (PRTB), que deixou o Rio há duas semanas, após depor no MP, e se diz diretor do projeto Gool de Placa, que traria garotos carentes do Nordeste para testes no Rio. Cada menino pagou R$ 550 ao acusado para custos da viagem de ônibus para o Rio.
O Vasco e o Fluminense negam conhecer Alan, que também prometeu a oito meninos um contrato com um time na Bélgica. A suposta viagem seria em novembro. Ao ser ouvido no MP, no entanto, Alan não soube dizer o nome do time ou de um eventual contato no país europeu. Tampouco sabia que a moeda belga é o euro ou que uma das línguas faladas é o francês. Alan dizia aos garotos que não sabia especificar o time porque seria “um nome complicado”.
"Enviei cópias da ação para o MP Federal e o MP do Trabalho, para que analisem se ocorreu tráfico de pessoas e trabalho infantil, respectivamente. Como há viagem marcada para a Bélgica se eles sequer têm passaporte?", explicou a promotora Soraia Salles, responsável pela ação.
Trabalho diário
Não há TV no local, e todos dormem em colchonetes finos. Os adolescentes ficam sob responsabilidade de Giédria Ferreira, de 36 anos, funcionária de Alan há dois meses, e Edilene Rocha, de 32, mãe de um dos meninos. São os garotos que fazem a arrumação e a limpeza, seguindo uma escala diária de trabalho. Caso não aceitem, são ameaçados com a perspectiva de retornar para Alagoas.
"Coloco disciplina. Eles têm medo. Exijo respeito. Sou muito carinhosa, mas existe a hora da disciplina. Os pais sabiam que eles viriam ajudar a gente nas tarefas. Ninguém pode dizer “meu pai não sabia disso”, disse Giédria.
A Secretaria de Direitos Humanos discordou:
"Os garotos estão fora da escola, sem acomodações dignas. É a exploração da vulnerabilidade", lamentou Monalyza Alves, da Casa de Direitos, órgão da secretaria.
Menino tratado como ídolo em Alagoas
Um dos jovens enganados por Alan com a promessa de ir jogar na Bélgica já era tratado como ídolo em sua cidade, no interior de Alagoas. Animado, o menino deu entrevistas ao vivo para a rádio da cidade, de menos de 30 mil habitantes.
"Todos na minha cidade estão muito felizes com essa novidade. Antes de viajar para a Bélgica, quero ir lá visitar todos. Acho que vou ser recebido com festa", contou o menino.
O MP identificou pelo menos três violações ao Estatuto da Criança e do Adolescente. Primeiro, a falta de acesso a educação, já que apenas cinco garotos estão matriculados na rede pública. Segundo, o precário acesso a saúde, pois os meninos relataram dificuldade de atendimento médico quando um deles passou mal. Finalmente, a falta de convivência familiar: eles estão há quase dois meses longe de casa.
Ainda não está claro qual seria o benefício de Alan ao enganar os garotos. Ele os selecionou em eventos pelo interior. A viagem de ônibus para o Rio seria custeada em parte pela contribuição dos pais, que concordaram com a viagem dos meninos. Quase todas as famílias já foram contatadas pelo MP e confirmaram, mas não foi apresentada nenhuma procuração que autorizasse Alan a estar com os garotos. Do total, 30 têm menos de 18 anos. Três dos maiores de idade retornaram para o Nordeste há duas semanas, com Alan.
O retorno dos demais será pago pela Prefeitura de Guapimirim e pelo governo do estado, que são réus na ação ajuizada pelo MP. A casa em que os garotos estão é vigiada por um carro da PM. Psicólogos e assistentes sociais da Prefeitura de Guapimirim e do estado têm conversado com o grupo. Alguns choram todos os dias. Na casa, eles dizem que a proprietária impede o uso do campo de futebol, para que o gramado não seja gasto. A única bola foi embora com Alan.
Procurado, Alan não respondeu aos recados. Ao MP, ele não mostrou nenhum documento que provasse ter contatos no Rio para os supostos testes.
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