Empresa nega que estudante tenha sido retirado de festa na USP

Por Redação com G1 São Paulo com Redação com G1 São Paulo 24/09/2014 01h01
Por Redação com G1 São Paulo com Redação com G1 São Paulo 24/09/2014 01h01
Empresa nega que estudante tenha sido retirado de festa na USP
Corpo coberto após ser retirado da raia olímpica da USP - Foto: Reprodução/TV Globo
Representantes da empresa responsável pela segurança da festa dos 111 anos do Grêmio Politécnico, realizada na madrugada de sábado (20), no Velódromo da USP, negaram que o estudante Victor Hugo Santos tenha sido retirado por vigias do evento. O jovem de 20 anos estava desaparecido desde o fim de semana e seu corpo foi encontrado nesta terça-feira (23), na raia olímpica da universidade. A polícia investiga se ele foi vítima de um crime ou se sofreu um acidente.

O comportamento dos seguranças do evento foi questionado pela família do estudante. Testemunhas relataram à polícia terem visto uma pessoa parecida com Santos sendo supostamente agredida por vigias.

A C.O.S. Group alega que afirmações como essas não têm fundamento. "Não houve nenhum incidente, nenhuma ocorrência referente à briga que fosse preciso colocar alguém para fora", disse Tony Feitosa, diretor de operações da empresa. "Isso é boato. Não chegou ao meu conhecimento. O que houve bastante foram seguranças ajudando pessoas a ir até a enfermaria. Pessoas que já não estavam bem e tinham ingerido um pouco de álcool." Feitosa, porém, diz que não sabe precisar quantos foram acompanhados.

O advogado da empresa, Arthur Marinho, também rechaçou a hipótese de que o menino teria sido agredido por seguranças e retirado de evento. Ele acredita que tal ação teria sido registrada pelos presentes em câmeras de aparelhos telefônicos, caso tivesse ocorrido.

"Eu imagino que em um evento para 5 mil pessoas, todos ali tenham celulares. Acho muito pouco provável que se houvesse algum tipo de agressão a esse jovem ninguém sacasse o seu celular e começasse a filmar, como aconteceu semana passada com o camelô”, comparou.

O diretor operacional da empresa também afirmou que é procedimento padrão conversar com todos os seguranças para colher relatos de eventuais problemas. Os 140 homens que trabalharam na festa só atuaram na parte interna do velódromo, e relataram apenas o uso frequente de maconha, única droga que conseguiram identificar pelo cheiro.

Segundo o Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), uma lista com todos os seguranças que atuaram no evento já foi pedida à empresa. Todos deverão ser ouvidos.
 
O estudante Victor Hugo Santos com camiseta que 
ele usava no dia da festa (Foto: Arquivo Pessoal) 

A diretora do DHPP, Elisabeth Sato, questiona o argumento utilizado pelos representantes da C.O.S Group.

"Na minha visão como policial, afirmar categoricamente que não houve nenhuma intercorrência durante uma festa que durou tantas horas, com mais de 5 mil pessoas, é inviável", afirma.

Segundo ela, a versão do grupo é contraditória com a apresentada pela empresa responsável para fazer o atendimento ambulatorial do evento.

"Temos informações passadas pela empresa contratada para prestar primeiros-socorros que eles tiveram muitos atendimentos de embriaguez e, inclusive, agressão mútua. Isso já cai por terra (a alegação da empresa de segurança)".
 
Irregularidades

De acordo com a Polícia Federal, a C.O.S. Group não tem autorização para atuar como segurança de eventos. Segundo Feitosa, três empresas compõe o grupo, e a GE Segurança, responsável pelo serviço, é regularizada. "A COS é um grupo de empresas. A responsável pela segurança é a GE Segurança, que está regularizada, com alvará e tudo que a Polícia Federal exige."

O diretor operacional também confirmou que a C.O.S. foi autuada em 2012 por exercer função de segurança em um evento em que deveria apenas fazer o serviço de vigilância. Segundo o diretor de operação, a empresa atua há 13 anos no mercado e atende a USP há seis.

Corpo com marcas

Elisabete Sato afirmou nesta terça que o corpo do estudante não aparenta "visivelmente" nenhuma lesão a não ser "um pequeno hematoma no lábio e um edema no olho direito".

Os machucados podem ser indício de que Victor Hugo sofreu uma queda, por exemplo, ou então que foi agredido. A família do estudante já fez questionamentos públicos sobre o comportamento dos seguranças após testemunhas relatarem à polícia terem visto uma pessoa parecida com Victor Hugo Santos sendo supostamente agredida por seguranças.

Peritos ouvidos pela reportagem e que preferiram não se identificar disseram que o corpo em uma primeira análise não apresentava sinais de afogamento. A necropsia deverá ajudar a polícia a determinar se a morte foi acidental ou se foi um crime. Será investigado, por exemplo, se o rapaz usou drogas e se ingeriu bebida alcóolica. O pai do estudante disse à polícia que ficou sabendo por amigos que o filho estava com drogas no dia da festa, mas não sabe se as usou.

Victor Hugo, de 20 anos, cursava design gráfico no Senac e havia ido ao evento acompanhado de amigos. Segundo o estudante Artur Sarmento, os shows já tinham acabado quando o jovem desapareceu. "A gente estava saindo da festa. Ele falou: ‘Eu vou buscar uma cerveja’. E nisso a gente se desencontrou”, disse. O jovem se separou dos amigos por volta das 4h30.

O corpo foi retirado na manhã desta terça após pessoas que praticavam atividade física na região avisarem funcionários sobre o corpo. Os bombeiros foram chamados.

Segundo José Carlos Simon Farah, diretor-técnico do Cepeusp e professor de remo, não há possibilidade de que o corpo tenha caído em um córrego perto da USP e tenha sido levado pela correnteza até a raia olímpica. Ele afirma que a única maneira de chegar à raia seria pular o portão de acesso, que estaria fechado durante a festa. Alunos, porém, afirmaram que é possível entrar por um espaço em uma lateral do portão. 

 

LEGENDA: No ponto A, "Raia Olímpica", local onde foi achado o corpo do estudante. 
No ponto B, "Velódromo", onde ocorreu a festa. (Ilustração: Arte/G1)




Corpo do estudante Victor Hugo Santos achado na raia olímpica é levado para 
veículo do Instituto Médico Legal (IML) (Foto: Reprodução/TV Globo)




Escadaria próxima ao local onde corpo do estudante foi achado 
(Foto: Kleber Tomaz/G1)


Curta a página oficial do Já é Notícia no Facebook e acompanhe nossas notícias pelo Twitter.