Uma das mais longas e polêmicas disputas de afiliação da televisão brasileira chegou ao fim no último sábado, 27, quando a TV Globo encerrou oficialmente a transmissão pela TV Gazeta de Alagoas, justamente no dia em que a emissora alagoana completava 50 anos de existência.

Desde então, a TV Asa Branca, de Pernambuco, assumiu a retransmissão da programação da Globo no estado, em um movimento que gerou forte repercussão política, jurídica e popular.

O fim da afiliação ocorre após anos de embates judiciais. O Supremo Tribunal Federal (STF) derrubou a decisão que obrigava a Globo a manter o contrato com a TV Gazeta, pertencente à Organização Arnon de Mello (OAM), controlada pelo ex-presidente Fernando Collor, condenado por corrupção. A Globo alegou que manter o vínculo seria uma “ameaça à autonomia” e que Collor, mesmo afastado formalmente, continuaria atuando nos bastidores da emissora.

A TV Gazeta chegou a informar ao STF que Collor deixaria o comando societário da emissora para tentar preservar a afiliação, mas a Globo classificou a medida como uma “manobra para inglês ver”. Com isso, o ministro Luís Roberto Barroso liberou o caminho para a substituição da TV Gazeta pela Asa Branca, que desde 2023 já se preparava para ocupar o espaço em Alagoas.

Apesar da mudança, o caso não está totalmente encerrado. Segundo informações de bastidores, TV Gazeta vai entrar com recurso no STF alegando que a decisão não pode ser apenas monocrática, e sim analisada pelo colegiado. Até que o julgamento definitivo ocorra, a emissora segue no ar apenas com sua grade local, exibindo telejornais e programas regionais, mas sem a programação da Globo.

O episódio teve impacto direto na população. Muitos telespectadores reclamaram nas redes sociais da ausência da novela e da dificuldade em captar o sinal da TV Asa Branca, disponível apenas em algumas cidades (Maceió, Arapiraca e Delmiro Gouveia) e no Globoplay. Por outro lado, a TV Gazeta segue com vantagem de alcance, já que mantém sinal aberto em todo o estado.

Neste momento, a programação da TV Gazeta ampliou os horários de programação, com telejornais locais como Bom Dia Alagoas e AL1, além de atrações esportivas.

Nos bastidores, a emissora alagoana busca negociar com outras redes nacionais para assegurar sua sobrevivência no mercado, enquanto a Asa Branca estrutura sua presença em Alagoas com a promessa de manter o padrão de qualidade da Globo.

Porém, muitos telespectadores reclamaram da dificuldade em acessar o canal 28, além da baixa qualidade da transmissão da Asa Branca, com imagem e som considerados ruins. “Não pegou a Globo aqui na minha cidade em Atalaia, mesmo sintonizando os canais”, disse um internauta. Outros afirmaram que a mudança “transformou Alagoas em quintal de Caruaru” e lamentaram que centenas de profissionais locais fiquem sem perspectiva de trabalho.

Usuários mais idosos se queixaram da ausência das novelas e de não conseguirem sintonizar o novo canal. “Meus pais não têm acesso ao 28.1, ficaram sem assistir à novela. É uma falta de respeito com o povo”, escreveu uma telespectadora. No mesmo tom, outra seguidora criticou: “Imagem e áudio ruins. É preciso melhorar muito para substituir a TV Gazeta”.

Enquanto isso, a própria TV Gazeta de Alagoas buscou acalmar seus seguidores, reforçando que os programas locais continuam. Em suas páginas oficiais, a emissora publicou: “Mesmo canal. Mesmo horário. Mesmo compromisso com Alagoas”. A reação foi de apoio, com internautas declarando fidelidade à TV Gazeta: “Melhor jornal de Alagoas, terá sempre minha audiência em qualquer canal de TV”, escreveu um seguidor.

A Globo afirma que a substituição faz parte de sua estratégia de manter uma rede sólida e juridicamente segura, garantindo que o público continue tendo acesso à programação nacional com padrão de qualidade. Enquanto isso, a TV Gazeta tenta se reerguer em meio a um dos capítulos mais turbulentos da história da comunicação em Alagoas.