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Depressão Pós-Parto ou Crime Premeditado? A verdade que precisa ser dita sobre o caso Ana Beatriz

Por Julyana Torres 17/04/2025 09h09 - Atualizado em 17/04/2025 12h12
Por Julyana Torres 17/04/2025 09h09 Atualizado em 17/04/2025 12h12
Depressão Pós-Parto ou Crime Premeditado? A verdade que precisa ser dita sobre o caso Ana Beatriz
Depressão Pós-Parto ou Crime Premeditado? A verdade que precisa ser dita - Foto: Julyana Torres

O Brasil foi abalado pela morte brutal da bebê Ana Beatriz, de apenas 15 dias, em Novo Lino (AL). O que mais choca, além da crueldade do ato, é a sucessão de mentiras contadas pela mãe da criança, Eduarda Silva de Oliveira, de 22 anos. Ela chegou a registrar um boletim de ocorrência alegando um sequestro, e só depois, pressionada, acabou revelando diferentes versões, até que a polícia encontrou o corpo da bebê dentro de um pote de sabão em pó.


Muito se falou sobre a possibilidade de depressão pós-parto. Mas sejamos diretas: Mulheres em sofrimento mental geralmente pedem socorro, ainda que silenciosamente. Elas choram, demonstram angústia, mostram confusão. Não manipulam versões, não criam álibis, não enterram um corpo e seguem a vida normalmente por dias.

Não se pode usar a depressão como escudo para justificar um crime cruel

A depressão pós-parto é uma realidade dura para milhares de mães. Ela precisa ser falada, tratada e acolhida. Mas também precisa ser respeitada. Colocar esse transtorno como justificativa para um crime que, até aqui, apresenta sinais claros de frieza e tentativa de ocultação de cadáver é um desrespeito com todas as mulheres que realmente enfrentam esse sofrimento e não machucam seus filhos.

O que é, de fato, a depressão pós-parto?

A depressão pós-parto é um transtorno mental que pode afetar a mulher nas primeiras semanas ou meses após o nascimento do bebê. É marcada por tristeza profunda, crises de choro, exaustão extrema, culpa, medo de não ser uma boa mãe e, em casos mais graves, ideias suicidas ou de abandono. Mas é importante dizer: esses pensamentos geralmente vêm acompanhados de sofrimento real e, muitas vezes, da busca por ajuda, mesmo que tímida.


Mulheres com depressão pós-parto costumam se isolar, mas não armam histórias. Elas podem, sim, sentir dificuldade de se conectar com o bebê, mas raramente têm atitudes violentas, e quando têm, costumam demonstrar desespero logo após o ato. O silêncio, a tentativa de encobrir o ocorrido e a criação de versões contraditórias, como no caso de Novo Lino, não são comportamentos típicos de quem está em um surto depressivo.

O perigo de usar a depressão como desculpa

É preciso ter responsabilidade ao falar de transtornos mentais. Quando se tenta usar a depressão como uma espécie de escudo para justificar atos cruéis e premeditados, o resultado é duplamente cruel: não só se agride a memória de uma vítima indefesa, como se deslegitima o sofrimento de milhares de mães que realmente enfrentam essa dor calada, pedindo socorro enquanto cuidam, amam e protegem seus filhos.


Pelo direito de falar sobre saúde mental com seriedade e pelo direito à justiça


Que a pequena Ana Beatriz não seja apenas mais um número. Que sua história sirva de alerta para que possamos tratar os crimes com seriedade e a saúde mental com a sensibilidade e a verdade que ela merece. Falar de depressão pós-parto é urgente, mas nunca como desculpa para barbaridades. Porque quando há crime, o que se espera é justiça. E quando há dor, o que se precisa é acolhimento. Que seja investigado com muita sensibilidade e que a justiça seja feita da forma correta. .

Entre fraldas e vozes

Sou Julyana Marques Torres, formada em Direito, com especialidade em Direito publico. Conselheira Tutelar, fundadora de projetos sociais, mãe da Marina e do Miguel.
Já cursei Psicologia, empreendi, dei palestras e passei por muitas fases.

Hoje, entre fraldas e vozes, tenho encontrado meu propósito: acolher, escutar, orientar.

Quero compartilhar vivências com mães e mulheres reais. Reflexões sobre maternidade, fé, rotina e saúde mental. Orientações com base em Direito, Psicologia e minha vivência no Conselho Tutelar. Apoio com empatia, sem julgamentos.
Entre fraldas e vozes, você não está sozinha.

@entrefraldasevozes

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