Em seus 136 de emancipação política, a serem completados neste sábado, dia 3, a cidade ribeirinha de Piranhas, no Sertão alagoano, vive dias de festa e também de incertezas por parte da população. Isso porque, a construção de uma praça no Centro Histórico tem provocado certa indignação pelos mistérios envoltos na iniciativa da Prefeitura local.

A construção da Praça do Giradouro teve início no dia três de abril, com a demolição completa da estrutura antiga, onde havia uma quadra esportiva há cerca de 35 anos. A iniciativa pegou a população de surpresa, pois o projeto não foi levado ao conhecimento geral de forma oficial.

A reforma envolve o investimento de pouco mais de R$ 1 milhão com recursos próprios do município e tem previsão de ser concluída até 10 de dezembro deste ano.

O ponto principal da preocupação da comunidade local é que a futura praça ficará localizada no Centro Histórico da "Lapinha do Sertão", como a cidade é carinhosamente chamada. Porém, o andamento das obras mostra que o local terá ares de modernidade contrastando com todo o seu entorno.

"Não sabíamos de nada até a demolição da quadra esportiva começar. Todos ficamos assustados. Em nenhum momento, a Prefeitura avisou e pouco tem se falado oficialmente a respeito. Parece que 25 mil pessoas simplesmente não existem", argumenta um morador da cidade, que optou por não ter seu nome divulgado pela reportagem.

A cada dia, a obra avança e com ela a incerteza de como ficará o local. "Aqui em todo o entorno ficam casarios históricos do Centro, tombados. E isso tem que ser sempre lembrado e respeitado por todos, a começar pela Prefeitura ", frisou o morador.

Piranhas é tombada, desde 2004, pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), o que tornou a cidade a única do Nordeste à época a receber o selo de destaque. Por conta da iniciativa, todo o patrimônio municipal com pouco mais de mil unidades deve ser preservado.

Por causa da preservação do belo conjunto de casarios coloniais, localizado entre morros e baixadas, Piranhas serviu e serve, por exemplo, de locação para diversos filmes e novelas de destaque na Rede Globo. O fato do município ser ribeirinho do Rio São Francisco também faz dele um dos destinos turísticos mais procurados em Alagoas, mesmo distante do litoral.

"O patrimônio de Piranhas não pode ser destruído dessa forma. A nossa memória afetiva e histórica não pode ser demolida da noite para o dia. Esse projeto vai respeitar a arquitetura colonial da cidade? Ninguém sabe", afirmou um comerciante que também optou por não ter o nome divulgado.

O vereador Renatinho Rodrigues lembra que sequer o Conselho Municipal de Turismo (Contur) foi consultado sobre a construção da praça. "Mesmo sem também conhecer o projeto, a praça vai tirar a originalidade do Centro Histórico. Não houve sensibilidade, transparência com a população a respeito. Também não houve consulta prévia junto à população ou audiência pública para apresentação do projeto de construção da Praça do Giradouro " frisa.

No site da Prefeitura de Piranhas não tem nenhuma informação a respeito da obra.

CONVÊNIO - Em abril de 2022 foi assinado um convênio entre Governo do Estado e o Município para a reforma e restauração de patrimônios culturais do município, como o Museu do Sertão Marília Rodrigues, o Museu da Vila de Entremontes e a construção de pórtico no Distrito Piau, possibilitando a manutenção da integridade estrutural dos equipamentos culturais, como também agregando valores estéticos ao projeto urbanístico local.

O convênio firmado totalizou um valor de R$ 1.450.114,32, sendo R$ 1.400.000 provenientes do Tesouro Estadual e R$ 50.114,32 repassados pela prefeitura municipal.