O que deveria ser a realização de um sonho da casa própria para parte dos moradores da cidade de Santana do Ipanema, no Sertão de Alagoas, se transformou em um pesadelo para a população da comunidade Alto da Goiabeira, na mesma cidade.

Desde o início das obras do novo conjunto habitacional, que busca atender 250 famílias atingidas pelas enchentes do Riacho Camoxinga e do Rio Ipanema, ocorridas em 2020, diversos transtornos estruturais foram registrados na região, causando danos materiais e psicológicos para a população local. A população também afirma que a obra causou danos ambientais na região.

Dentre os grandes prejudicados está a assistente social Cristóvia Viera Vasconcelos, que teve a casa e o terreno praticamente todos destruídos e aterrados. Apesar dos danos materiais, a gota d’água para ela foi a perda de um animal de estimação, um boi, devido a uma vala irregular aberta pela construtora do residencial, sem a devida fiscalização.

A construção do residencial iniciou em julho de 2022, com investimento de R$ 20 milhões, através de emendas parlamentares. Apesar do grande investimento, os moradores da região afirmam que não houve sequer construção de muro de arrimo, para garantir a segurança da obra e evitar danos nas casas já existentes no local.

Em entrevista ao Portal Já É Notícia, Cristóvia Viera narrou toda situação sofrida. “Essa construção gerou muitos danos. Foi muro que caiu, porque eles não fizeram muro de contenção. Então o muro da nossa chácara ficou como muro de arrimo da obra pública, como ele não foi feito para esse tipo de coisa, a terra derrubou o muro da chácara diversas vezes. A gente tem um espaço recreativo para aluguel, que é meu sustento, e hoje ele está inutilizado, devido a essa construção”, contou a assistente social.

Cristóvia Viera explicou que a obra do conjunto habitacional elevou o nível do solo da região, deixando a casa dela praticamente soterrada. “Como não tem nenhuma proteção, a terra da obra deles desceu. Além disso, por causa da terra os postes de alta tensão já caíram duas vezes dentro de nossa casa. Nas duas vezes quase mata meu marido, que estava dentro de casa e a fiação dos postes caiu sobre a casa e também ficamos quatro dias sem energia elétrica”.

“A casa está rachada, o forro da casa caiu no chão. Por conta das máquinas pesadas o forro não suportou. Mas o pior foi no início do mês, quando um animal de estimação nosso, foi criado desde pequeno, há 17 anos. Criado e tratado como um filho nosso, morreu ao cair na vala aberta por eles, para escoação de água”, lamentou Cristóvia.

“Com a água da vala e a água da chuva, foi aberta uma cratera dentro da chácara. A terra ficou solta, meu boi pisou numa pedra e desceu embolando na cratera. A gente chamou o Corpo de Bombeiros, vários amigos ficaram até uma da manhã tentando resgata-lo, mas não conseguimos. Após a gente pedir a empresa, responsável pela construção, eles mandaram uma máquina, para abrir um tipo de estrada, para chegar mais próximo dele e retirar ele do local”, continuou.

Cristóvia diz que ainda chamou veterinário e o boi passou quatro dias de sofrimento, não conseguiu se recuperar e acabou morrendo. “É uma situação muito triste para a gente. Foram quatro dias com ele gemendo de dor. Nós estamos de coração partido. Era um animal criado com muito amor e carinho”.

Ela ainda citou os danos ambientais, pois a água suja, com restos de cimento, estaria indo direto para a barragem da chácara dela. Água que servia para consumo residencial e dos animais da chácara.

A assistente social ressaltou que, antes de realizar denúncias nas redes sociais e veículos de comunicação, tentou diálogo com a construtora responsável pelo do conjunto habitacional, mas nenhuma tentativa de diálogo foi atendida e nem os transtornos causados pela obra foram interrompidos.

“A gente tem um laudo técnico de engenheiro. São 10 meses que isso vem acontecendo, mas a gente não queria expor isso para a sociedade. Queríamos resolver através dos meios legais, no diálogo, no acordo. Mas em nenhum momento foi solucionado. Então a gente acionou a justiça. Depois do fato ocorrido com nosso boi, orientados por nossos advogados, fizemos um Boletim de Ocorrência, para evitar outros danos maiores e que outros animais sejam machucados. Além disso, a gente estava com medo da obra continuar e nossa casa cair. Felizmente, na última semana, saiu uma liminar judicial, determinando que a obra deveria ser paralisada ou suspensa”, continuou.

Outros moradores da região foram prejudicados pela obra, inclusive para com o local de locomoção. “Eles (a construtora) fecharam a estrada, que é pública, e os vizinhos e trabalhadores que precisam passar, entram no nosso terreno ou fazem a volta para transitar pela rodovia”, completou, ressaltando não querer briga e nem confusão com os órgãos públicos e com a Prefeitura, está tentando apenas que o problema no local seja solucionado e os danos reparados.

Vale lembrar que no início deste ano a prefeita de Santana do Ipanema, Christiane Bulhões, juntamente com vereadores da cidade, e o secretário de infraestrutura da cidade realizaram uma vistoria nas obras do Conjunto habitacional e, aparentemente, não notaram a série de falhas nas obras e os danos causados para a comunidade local.

Após as denúncias, o Portal Já É Notícia buscou a assessoria de comunicação da Prefeitura de Santana do Ipanema, para pedir um posicionamento sobre a situação, mas as ligações da redação não foram atendidas.

Assista o desabafo da assistente social Cristóvia Vieira sobre a perda do animal:

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