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Brincadeira de criança: como é bom! Mas, por que é bom?
Parafraseando a música do grupo de pagode Molejo, “brincadeira de criança, como é bom... guardo ainda na lembrança...”, peço a você, leitor, que volte um pouco no tempo e lembre-se das brincadeiras as quais você participou na sua infância: esconde-esconde, pega-pega, pular corda, jogar bola, bolinha de gude, pião, casinha e etc. Agora analise um pouco as brincadeiras das crianças atualmente, tais como: o celular e seus joguinhos, a internet e o YouTube, videogame, tablete e etc. Agora compare ambos, peço que você pense um pouco sobre qual a importância que tais brincadeiras tiveram para o desenvolvimento de repertórios comportamentais e outras habilidades na sua vida e como elas seriam importantes para o desenvolvimento das crianças hoje. Convido-os então a este breve passeio pelo fantástico mundo das brincadeiras. E, para isto, peço que pensem um pouco e definam sozinhos/as o que seria o “brincar”.
Geralmente quando surge a temática, algumas definições vagas ou imprecisas são colocadas: “é uma atividade que proporciona momentos de felicidade a criança”, “é divertido”, “é uma atividade lúdica” e etc. Entretanto, se pensarmos assim, a brincadeira seria algo muito restrito.
Para a Análise do Comportamento, o brincar é entendido como um comportamento que é aprendido e selecionado pelas consequências que produz, ou seja, já que inicialmente a criança não tem um conhecimento prévio sobre uma brincadeira nova, ela vai aprendendo então no seu transcorrer, tais como: quais serão as regras, qual a sequência da brincadeira ela deverá seguir, dentre outras situações, por exemplo, brincar de pega-pega no parque permitiria uma brincadeira com mais possibilidades de desenvolver habilidades do que em um quintal pequeno de uma casa, pois ao brincar as crianças estão expostas a um ambiente favorável ao desenvolvimento de inúmeros repertórios.
A brincadeira em si trabalha diversas habilidades em uma criança, tais como a imitação e seguir instruções. Por exemplo, quando brincamos pela primeira vez de pular corda, devemos imitar os movimentos do outro e seguir instruções. Quando a criança aprende a imitar, as possibilidades que ela tem de desenvolver outras habilidades se ampliam, sem mencionar o valor que este processo representa para a iniciativa de comunicação de uma criança, pois é quando ela percebe a si e ao outro enquanto, segue aquele modelo.
Quando a criança segue instruções, está se preparando para seguir regras, aprendendo a se adequar as regras que são estabelecidas socialmente e que estão presentes nos mais diversos contextos, desde o escolar ao do mercado de trabalho, as quais variam de acordo com a comunidade na qual este sujeito está inserido.
Em outro exemplo, durante a brincadeira de pega varetas, a criança estará desenvolvendo a coordenação motora fina e a atenção concentrada, tudo ao mesmo tempo. O que a ajudaria a se adequar a tarefas complexas e rotineiras úteis em sua vida, no sentido de que ela conseguirá manter-se focada ao redigir um texto na escola ao mesmo tempo em que esta não teria dificuldade em fazê-lo a mão, pois sua habilidade motora foi trabalhada e refinada na repetição de muitas brincadeiras que lhe exigisse trabalhar sua coordenação motora fina. Ou seja, em uma mesma brincadeira a criança está aprendendo e desenvolvendo repertórios. Levando em consideração que estas habilidades estão sendo desenvolvidas enquanto a criança realiza uma atividade prazerosa e reforçadora, entendemos que a probabilidade do mesmo comportamento se repetir no futuro é altíssima.
Pensando desta forma podemos entender que o brincar é algo que além de prazeroso também desenvolve diversos repertórios de forma natural na criança, e o tipo da brincadeira pode influenciar diretamente no desenvolvimento de tais habilidades. Uma criança que brinca com outras crianças tem a possibilidade de ampliar seu repertório social enriquecendo o mesmo nesta troca durante a brincadeira, conhece o significado de seguir instruções e regras, além de desenvolver aspectos cognitivos como atenção e memória, dependendo da brincadeira.
Este breve texto foi para que você que é pai ou mãe valorize os momentos de brincadeira, não limitem os seus filhos a atividades restritas. Tire eles um pouco da frente da TV, do computador ou do tablet, possibilitando a eles um ambiente enriquecido, não se acomodem porque a criança está em silêncio ou não faz bagunça, enquanto está engajada nestas atividade que as limitam. Lembrem que quando vocês eram crianças, até mesmo uma folha de papel se tornava um jato supersônico, um tecido velho se tornava um belo vestido para a sua boneca, ou seja, a sua imaginação e criatividade foram estimuladas durante a brincadeira, o que lhes proporcionou serem adultos criativos, com um tempo de resposta adequado para agir em situações problemáticas.
Encerro por aqui para que em breve possamos nos encontrar novamente no Além da Caixa e discutirmos temáticas diversas. Mais uma vez, afirmando e concordando com o “Molejão” pois: brincadeira de criança, como é bom, como é bom.
Cinthia Rafaelle Ferreira Lima
CRP15/3287
Referências
Gil, M. S. C. A., & De Rose, J. C. C (2003). Regras e contingências sociais na brincadeira de crianças. In M. Z. S.Brandão, F. C. S. Conte, F. S. Brandão & Y. K. Ingberman (Eds.), Comportamento e cognição (Vol. 11, p. 383-389). Santo André, SP: ESETes.
ROBLES, Heloisa Stoppa Menezes; GIL, Maria Stella Coutinho de Alcântara. O controle instrucional na brincadeira entre crianças com diferentes repertórios. Psicol. Reflex. Crit., PortoAlegre , v. 19, n. 2, p. 197-205, 2006 . Available from <http://www.scielo.br/scielo.php >.access on 22 Oct. 2016
Além da Caixa
O Além da Caixa é um espaço para a discussão dos mais diversificados temas sob a ótica da psicologia do comportamento. De maneira direta e com uma linguagem clara falaremos ao público em geral, mas sem destoar dos princípios da Psicologia Científica.
Seus responsáveis são os psicólogos comportamentais Cinthia Ferreira CRP 15/3287, Jacinto Neto CRP 15/3274, Jackelline Lima CRP 15/3275 e Renata Lopes CRP 15/3296, graduados em Psicologia pela Universidade Federal de Alagoas e pós graduação em Análise do Comportamento.
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