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Do sonho ao pesadelo: Depressão Pós Parto
Nove meses se passaram e agora a expectativa do nascimento, de como será o dia a dia com o bebê. A criança nasce com saúde, todos da família estão entusiasmados. Mas algo estranho aconteceu, uma melancolia com sensação de medos e inseguranças inexplicáveis e a tão sonhada chegada do filho não é composta só de alegria. O que será que eu tenho?
Este texto irá esclarecer para as futuras mamães e papais alguns sintomas característicos da Depressão Pós Parto, assim como dar sugestões de comportamentos e mudanças ambientais que podem evitar o seu desenvolvimento, bem como a mudança desse quadro.
Recentemente tive minha primeira filha, Alice (hoje com 7 meses). E esses meses estão sendo de muitas aprendizagens e desafios, mas acima de tudo de muita satisfação, alegria e amor. Houve inseguranças? Sim, houve. Mas nada de forma anormal. Não tive grandes dificuldades de adaptação, uma vez que, desde a concepção até hoje, venho fazendo planejamentos, tais como: organização financeira, conclusão de alguns projetos individuais como a pós-graduação, plano de saúde, reforma do quarto do bebê com antecedência, pré exames ginecológicos, dentre outros. Dessa forma, as inseguranças, medos e dificuldades puderam ser superadas.
No entanto, de acordo com pesquisas cerca de 10% a 15% das mulheres grávidas desenvolvem Depressão Pós Parto (Klaus et al., 2000). E alerto: isso não é frescura! Nas primeiras três semanas considera-se normal a Melancolia pós-parto, um estado de tristeza, alterações de humor e no apetite, inseguranças passageiras que ocorrem logo após o nascimento do bebê. Ocorrendo principalmente por mudanças hormonais, quando há a transição dos períodos em que os hormônios da gestação desaparecem para iniciar a produção de leite. Mas para a maioria essa fase é passageira e não traz prejuízos ou transtornos significativos durante esse período.
Todavia, nem sempre essa fase é temporária e se os sintomas persistirem por mais de três semanas pode ser caracterizada como Depressão Pós Parto. É importante observar a intensidade dos sintomas de tristezas, choro fácil, irritação em excesso pelo choro do bebê, falta de vontade de se divertir, excessos ou falta de preocupações com a saúde e alimentação do bebê, não sentir vontade de se aproximar dele; É essencial procurar ajuda de um psicólogo e do ginecologista que a acompanha para fechar um diagnóstico e receber tratamento adequado.
A distinção mais evidente entre a tristeza pós parto e a Depressão Pós Parto é que na primeira as mulheres apresentam uma irritabilidade e mudança de humor desde o nascimento do bebê até as três primeiras semanas no máximo, desaparecendo a medida que as dificuldades são superadas e a produção hormonal começa a se regularizar. Já a Depressão Pós Parto, inicia-se algumas semanas após o nascimento do bebê e todas as reações de tristezas vão se tornando cada vez mais intensas, deixando a mulher incapacitada e com sérias dificuldades em realizar tarefas simples do dia a dia.
O desinteresse não é só nos cuidados com o bebê, mas com atividades que antes ela gostava de fazer como, por exemplo, assistir tv, passear no shopping, cuidar da aparência, alterações no apetite tanto para mais quanto para menos, desinteresse pelo marido, redução do desejo sexual , falta de energia o dia inteiro, dentre outros.
Durante toda a gestação o organismo da mulher recebe altas doses de hormônios, onde o estrógeno e a progesterona agem diretamente no sistema nervoso central. Algumas horas após o parto ocorre uma diminuição acelerada na produção deles, causando alterações metabólicas. Todavia a Depressão Pós Parto não está associada apenas a mecanismos biológicos a partir de alterações hormonais, mas sim a uma combinação de fatores biológicos obstétricos, sociais e psicológicos.
Além dos fatores já citados até o momento também podemos destacar como variáveis que contribuem para o desenvolvimento do quadro: gravidez não programada, baixa condição financeira do casal, falta de apoio do pai do bebê, ausência de planejamento, ganho excessivo de peso e mudanças físicas, falta de habilidades para lidar com a criança etc. Histórico de episódios de depressão em outros momentos da vida também pode aumentar a probabilidade do desenvolvimento de depressão pós parto.
Diante disso, seguem a baixo algumas orientações que podem contribuir para um acompanhamento saudável de uma gestação:
Orientação às mulheres:
· Aproveite cada momento da sua gestação, a cada semana uma nova descoberta.
· Evite preocupações em excesso com a futura chegada do bebê. Para isso tente se organizar aos poucos com as compras do enxoval, procure fazer desse momento algo prazeroso;
· Quando o bebê nascer será um momento de adaptação. Portanto não se desespere em fazer tudo deforma perfeita. Lembre-se a experiência vem com a prática;
· Aceite ajuda de outras pessoas mais experientes. Mas não deixe de tentar fazer também.
· Tire um tempo pra você, seja pra cuidar da aparência ou fazer um passeio.
Orientação aos homens:
· Participe das descobertas ao longo da gestação (acompanhar e participar das consultas com o obstetra, para ouvir o coração do bebê, sentir ele mexer...);
· Após o nascimento colabore com algumas tarefas como trocar a fralda, colocar o bebê pra arrotar e pra dormir. Além de ser gratificante irá ajudar as mamães a não se sobrecarregarem. Por outro lado não assuma todas as responsabilidades, ela não pode pensar que é incapaz;
· Não olhe para ela só como mãe do seu bebê, mas sim como uma mulher. Faça elogios, potencialize as qualidades que ela tem. O pós parto é um momento em que a mulher fica muito sensível, em alguns casos, com a autoestima baixa por ainda estar acima do peso;
· Se houver o diagnostico de Depressão Pós Parto, leve-a a profissionais especializados e certifique-se que ela está tomando os remédios na hora certa.
· Demonstre compreensão, mas não a trate como uma incapaz;
O tratamento pode ser medicamentoso e psicoterapeutico. A psicoterapia irá ajudar a mulher a lidar melhor com o problema e a descobrir os seus potenciais que deverão ser reforçados.
Calma, mamãe, um acompanhamento profissional especializado ajudará na superação do quadro. Não se culpe, pois o fato de não sentir satisfação e tanta alegria com seu bebê nesse momento crítico não definirá o tipo de mãe que você será. Passado esse momento de tantas tristezas você vai poder desfrutar de todo o amor que uma relação saudável entre mãe e filho podem proporcionar.
Referências:
Depressão Pós Parto. Entrevista com o Dr. Frederico Navas Demétrio (médico psiquiatra). Disponível em: http://drauziovarella.com.br/ Acesso em: 10 de Julho de 2015.
DIAS, Débora. Depressão: algumas considerações sobre o diagnóstico. Disponível em: http://comportese.com/ Acesso em: 10 de julho de 2015.
Klaus, M. H., Kennel, J. H., & Klaus, P. (2000). Vínculo: construindo as bases para um apego seguro e para a independência. Porto Alegre: Artes Médicas.
Jackelline dos Santos Lima
Psicóloga Clínica Comportamental
CRP: 15/3275
Além da Caixa
O Além da Caixa é um espaço para a discussão dos mais diversificados temas sob a ótica da psicologia do comportamento. De maneira direta e com uma linguagem clara falaremos ao público em geral, mas sem destoar dos princípios da Psicologia Científica.
Seus responsáveis são os psicólogos comportamentais Cinthia Ferreira CRP 15/3287, Jacinto Neto CRP 15/3274, Jackelline Lima CRP 15/3275 e Renata Lopes CRP 15/3296, graduados em Psicologia pela Universidade Federal de Alagoas e pós graduação em Análise do Comportamento.
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