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Meu precioso, por que é tão precioso?
O visual do personagem chama muito a atenção pois ele possui membros disformes, uma cabeça desproporcional, um corpo pequeno e frágil, olhos esbugalhados com uma expressão confusa e anda sempre com uma postura curvada lembrando mais um chipanzé. Quanto ao seu comportamento, é completamente difuso. Ele cria outra identidade – Gollum– ao longo do tempo que esteve atrelado ao anel precioso já citado anteriormente, e deste se mantém refém por mais de 500 anos, se colocando sempre na 1º pessoa do plural, o que pode ser verificado em falas como:“nós quer” ou“nós precisa”.
Esta outra identidade foi criada por ele como forma de proteger-se das adversidades que lhes eram impostas, tais como, viver isolado em uma caverna escura e úmida, tendo como única companhia o anel, pois o Gollum era mais forte, mais cruel e fazia de tudo para não perder o anel, enquanto que Smegeal, seu verdadeiro nome, mais gentil e frágil,manter-se-ia sob jugo de Gollum, sendo assim mais cômodo se eximir de qualquer responsabilidade caso fosse necessário tomar medidas extremas, como matar algum ser vivo para não perder o anel.
Através de um processo de fuga e esquiva, Smegeal criou o Gollum, fugindo da realidade assustadora de estar isolado vivendo em função de um anel, buscando então desesperadamente uma alternativa para dar sentido a sua devoção ao precioso, mantendo sempre todos distantes por temer perder o anel, chegando ao ponto de tirar a vida de quem se apresentasse como ameaça, sempre se esquivando da responsabilidade de ser um assassino, neste caso, como o próprio personagem coloca, que o “Smegeal não é assassino, quem é assassino é o Gollum”. Características estas que remetem ao Transtorno Dissociativo de Identidade, conhecido popularmente como “dupla personalidade”.
Segundo a CID-10 O Transtorno Dissociativo de Identidade reflete um fracasso em integrar vários aspectos da identidade, memória e consciência. Cada estado de personalidade pode ser vivenciado como se possuísse uma história pessoal distinta, auto-imagem e identidade próprias, inclusive um nome diferente. Em geral existe uma identidade primária, portadora do nome correto do indivíduo, a qual é passiva, dependente, culpada e depressiva.
As identidades alternativas com frequência têm nomes e características diferentes, que contrastam com a identidade primária (por ex., são hostis, controladoras e autodestrutivas). Identidades particulares podem emergir em circunstâncias específicas, diferindo em termos de idade e gênero declarados, vocabulário e conhecimentos ou afeto predominante. O tempo necessário para a mudança de uma para outra identidade é uma questão de segundos, mas, com menor frequência, pode ser gradual. O número de identidades relatadas varia de 2 a mais de 100. Metade dos casos relatados inclui indivíduos com 10 ou menos identidades.
Assim como o Sr Smeagel, por vezes nos colocamos em posição de fuga ou de esquiva de situações aversivas, por exemplo, às vezes não admitimos que cometemos um erro no trabalho ou em algo que fizemos, geralmente desviamos a responsabilidade para outro. Entretanto é importante encarar algumas situações que nos são desagradáveis de forma assertiva, para que possamos criar novas habilidades e ampliarmos nosso repertório comportamental. Mas, quais contingências de reforço que levariam alguém, neste caso o Sr Smegeal, a abandonar toda sua vida, para viver isolado em função de um anel?
Inicialmente devemos observar o quanto reforçador é possuir este anel. Listarei algumas características do mesmo:o anel possui um enorme poder e a influência do seu dono original (Sauron), segundo a estória,faz com que o portador do anel desperte sua parte sombria e egoísta, além de possuir outros poderes como o da invisibilidade. Esses poderes são extremamente reforçadores pensando no contexto da estória, onde possuir um anel mágico lhe traria inúmeras vantagens. O comportamento de usar o anel se tornaria mais frequente, e quanto mais ele usasse o anel, mais dependente do mesmo se tornaria. Dessa forma levando Smegal a isolar-se de tudo e de todos,tornando o anel o único propósito de sua existência, desejando nada além do seu “precioso”.
Bem, meu caro leitor, este é um breve texto sobre este personagem peculiar e cheio de nuances que oferece muito mais análises do que esta, contudo estas deixo para outra oportunidade ou para vocês as fazerem. Quem não conhece os livros ou os filmes e gosta de estórias com aventura, ficção, e cenários medievais, eu os recomendo. Encerro por agora agradecendo a leitura do “meu precioso” texto. Esperando por vocês em uma nova oportunidade.
Quer conhecer mais um pouco? veja o vídeo.
Por: Cinthia Rafaelle Ferreira Lima
Psicóloga clínica Comportamental.
CRP 15/3287
Além da Caixa
O Além da Caixa é um espaço para a discussão dos mais diversificados temas sob a ótica da psicologia do comportamento. De maneira direta e com uma linguagem clara falaremos ao público em geral, mas sem destoar dos princípios da Psicologia Científica.
Seus responsáveis são os psicólogos comportamentais Cinthia Ferreira CRP 15/3287, Jacinto Neto CRP 15/3274, Jackelline Lima CRP 15/3275 e Renata Lopes CRP 15/3296, graduados em Psicologia pela Universidade Federal de Alagoas e pós graduação em Análise do Comportamento.
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