Como a charge acima demonstra, o conceito do que seria depressão, é por muitas vezes empregado de forma equivocada para remeter a situações de tristeza, a um objeto perdido, a decepções passadas, a um relacionamento que terminou ou até mesmo a um luto devido o falecimento de alguém próximo.
Frases como:não sei o que fazer e nem o que pensar, está tudo errado, estou sem ânimo para nada, não tenho motivação para trabalhar ou estudar, minhas relações pessoais estão péssimas. Você algum dia da sua vida pode ter emitido frases semelhantes a estas ou ouvido todas elas juntas. Costumamos confundir a tristeza, que é conjunto de comportamentos, que emitimos diante de contingências ambientais desfavoráveis, porém de curta duração com a depressão um quadro que incapacita uma pessoa de agir como um ser atuante no contexto em vive. Mas quando realmente uma pessoa estaria apresentando um quadro caracterizado como depressão?
Segundo o CID-10(Classificação Internacional de Doenças) Nos episódios típicos de cada um dos três graus de depressão: leve, moderado ou grave, o paciente apresenta um rebaixamento do humor, redução da energia e diminuição da atividade. Existe alteração da capacidade de experimentar o prazer, perda de interesse, diminuição da capacidade de concentração, associadas em geral à fadiga, mesmo após um esforço mínimo. Observam-se em geral problemas do sono e diminuição do apetite. Existe quase sempre uma diminuição da auto-estima e da autoconfiança e frequentemente ideias de culpabilidade e ou de indignidade, mesmo nas formas leves. O humor depressivo varia pouco de dia para dia ou segundo as circunstâncias e pode se acompanhar de sintomas ditos “somáticos”, por exemplo, perda de interesse ou prazer, despertar matinal precoce, várias horas antes da hora habitual de despertar, agravamento matinal da depressão, lentidão psicomotora importante, agitação, perda de apetite, perda de peso e perda da libido. O número e a gravidade dos sintomas permitem determinar três graus de um episódio depressivo: leve, moderado e grave.
Estes três graus são determinantes para direcionar o tratamento, não implica dizer que todas as pessoas com depressão, apresentarão todas estas características citadas. Diversas pesquisas apontam para uma variedade de fatores, como o neurológico, onde a ação desregulada de neurotransmissores como a noradrenalina e a serotonina, responsáveis pelo humor, exercem grande influência no paciente. Já outros estudos apontam que o fator genético é um ponto extremamente relevante nesses casos, bem como as contingências ambientais as quais este individuo foi exposto ao longo de sua vida.
Quanto às contingências ambientais podemos tomar como exemplo a seguinte situação: uma pessoa que quando criança sofreu bullying na escola por seus colegas de turma sendo constantemente ridicularizada por estar acima do peso , além de ser pressionada pela família a emagrecer a custa de humilhações como: “você não tem vergonha de estar tão gordo (a), baleia, bolota”. Em ambas as situações este sujeito não conseguia expressar-se de forma assertiva, preferia omitir suas reais opiniões a respeito de tantas críticas . Entretanto com o passar do tempo esta criança a custa de muito esforço e pressão de sua família perdeu peso, algum tempo depois constituição uma família e se estabeleceu em um emprego, aparentemente a criança tornou-se um adulto ativo. Contudo a inércia diante de situações aversivas continuou, esta pessoa não tinha uma voz ativa em sua família, sempre concordava com a opinião dos outros, mesmo discordando do que havia sido dito. Esse sujeito estabeleceu um padrão comportamental de apatia diante dos problemas o fazendo acreditar que não era uma pessoa com capacidade de agir e modificar as contingências ambientais nas quais estava inserido.
Quando não superamos e ao invés disso generalizamos frustrações ou desesperança de que tudo está errado para todas as situações da nossa vida, somos pegos por uma teia de consequências aversivas e não vislumbramos uma solução para sair desta teia. Pois bem, meu caro leitor, quando algumas situações são prejudiciais e nos incapacitam de executar as nossas tarefas diárias, aí sim devemos nos preocupar. E como sair de uma situação como esta?
Aconselho que se você ou alguém que lhe é próximo encontra-se em situação semelhante, procure profissionais especializados que o orientará como proceder diante desta condição. Reconhecer que seu comportamento tem sido apresentado de forma prejudicial é o primeiro passo para uma melhora. E para que o tratamento seja eficaz precisamos ter cuidado com algumas posturas que costumamos apresentar diante de situações nas quais nos sentimos incapazes de resolver.
O sujeito pode viver esperando que os outros solucionem os seus problemas tornando-se inábil para lidar com situações aversivas, pois não desenvolveu repertório comportamental para estas e aquele que acredita estar salvando a vida do outro, fazendo tudo por ele, sinto informar, meu caro leitor, mas você está agindo como um reforço para que esta pessoa não desenvolva habilidades sociais, vivendo como parasita dos outros, dependente de seu auxilio, privando esta pessoa da possibilidade de resolver seus problemas sozinha. Ajudar não significa fazer tudo pelo outro e sim auxiliá-lo a criar condições de desenvolver habilidades que lhe permitirá ser independente.No caso de uma pessoa que está passando por um quadro depressivo, ser o responsável por mudar as circunstâncias que o tornaram inerte é o fator primordial para sua melhora.
Ser o responsável por suas escolhas, pois não é com um passe de mágica que se resolve os problemas, é através de tempo e esforço. O auxilio para criar condições para que isto se concretize é necessário. Contudo, a sua postura de enfrentamento diante da situação problema é o que é necessário para sua melhora.
Seja você aquele que é responsável pela mágica, esse texto não contempla a infinidade de discussões a respeito do tema, foi apenas uma breve reflexão, com um caráter informativo. Agradeço a leitura e espero vê-los em outras oportunidades. De cabeça erguida e postura ereta como nosso amigo da charge nos ensinou.
Por: Cinthia Rafaelle Ferreira Lima
Psicóloga Clínica Comportamental
CRP15/3287.
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Seus responsáveis são os psicólogos comportamentais Cinthia Ferreira CRP 15/3287, Jacinto Neto CRP 15/3274, Jackelline Lima CRP 15/3275 e Renata Lopes CRP 15/3296, graduados em Psicologia pela Universidade Federal de Alagoas e pós graduação em Análise do Comportamento.
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