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Espelho, espelho meu...

13/03/2014 22h10
13/03/2014 22h10
Espelho, espelho meu...

Uma frase clássica do livro Branca de neve e os sete anões. A madrasta malvada, obcecada por um ideal de beleza, espera ansiosamente a resposta de seu espelho mágico que ela - e somente ela - é a mais bela do reino. E quando fatidicamente o espelho revela que ela já não é a mais bela, e sim Branca de neve, a invejosa madrasta ordena que um caçador mate a formosa moça. Uma atitude um tanto quanto exagerada, não acham? O quão longe podemos ir para alcançar um ideal de beleza?
Meu caro leitor, alguma vez já pensou em mudar algo em você? Sua boca, orelhas, nariz, dentes, barriga, seios, pernas, cabelos, estatura, nádegas ? Pensou em ficar mais forte, emagrecer, engordar, fazer uma cirurgia plástica e outras coisas mais?
Bem, pelo menos uma vez na vida todos nós pensamos em ser um pouco diferentes fisicamente, pois não é sempre que estamos satisfeitos com nossa aparência.  Entretanto, se este pensamento de insatisfação se torna recorrente na vida de um indivíduo e o mesmo toma medidas inconsequentes para alcançar padrões de beleza inatingíveis, o sinal de alerta deverá ser acionado.
O que entendemos como beleza é algo que foi construído através de fatores biológicos, aprendizagens pessoais e de fatores culturais estabelecidos pela sociedade na qual o sujeito está inserido, que por vezes o faz sentir-se inadequado nesse meio social, colocando-o em uma corrida desenfreada para se igualar aos demais. Entende-se que o biótipo de uma pessoa não é igual ao de outra. As pessoas apresentam características físicas diferentes (estatura, composição corporal, tom de pele, cor dos olhos...) e para que haja mudanças que não são possíveis naturalmente, as pessoas submetem-se a procedimentos mais delicados como uma cirurgia.
Apresentar distorções relacionadas à avaliação do próprio corpo, criticando a sua aparência, comparando-se a padrões estéticos exagerados, acreditando que todos o veem distorcidamente também, criando situações de rejeição de sua autoimagem, perdendo habilidades para lidar com as pessoas socialmente, resultando em isolamento social, por acreditar que não se enquadra nas exigências de beleza dessa comunidade, são características de pessoas que apresentam Transtorno Dismórfico Corporal.
Os indivíduos com Transtorno Dismórfico Corporal enfrentam momentos aflitivos na sua rotina de vida, uma vez que, transformações corporais demandam tempo e dinheiro e podem comprometer a súde do sujeito que se submete a diversos procedimentos cirúrgicos ou estéticos para conseguir a imagem tão sonhada. O que é preocupante é quando mesmo obtendo as desejadas modificações corporais os mesmos não se percebem diferentes, querendo cada vez mais e mais mudanças.
Quando lemos essas informações fazemos analogias a casos como os de Elza Soares, Ângela Bismarch que fez mais 40 cirurgias plásticas, Michel Jackson que se submeteu a diversos procedimentos cirúrgicos para satisfazer a sua necessidade ideal de beleza. Estes são apenas alguns dos exemplos dos extremos que algumas pessoas atingem nessa busca pela beleza perfeita.
Essa imagem perfeita, muitas vezes, está ligada ao desejo de permanecer sempre jovem e belo/a. São episódios onde geralmente percebemos os excessos tais como: a aplicação da toxina botulínica (botox), o preenchimento facial, as próprias cirurgias plásticas para aumentar os seios, o glúteo, a panturrilha, “puxar e repuxar” de uma forma que o sujeito não aparenta estar mais jovem e sim com uma fisionomia nem um pouco natural. Todavia, todo esse processo e busca incansável por uma beleza ideal, é reforçado pela mídia e a indústria que lucram milhões e bilhões com esse mercado tão vantajoso.
Comerciais, filmes, astros musicais Pop, propagandas, instigam os indivíduos a desejarem aquele padrão de beleza ali exposto. Nos meios citados o corpo é exposto como objeto de desejo fazendo com que o consumidor associe a imagem de beleza ao produto comercializado.
Pensem na beleza comercializada através das modelos de passarela, ou os musculosos dos filmes de ação, os heróis e heroínas dos filmes, que esbanjam sensualidade como Brad Pitt e Angelina Jolie ao seu estilo “femme fatale”, as mulheres de corpos musculosos e preenchidos como “as paniquetes”. Estes são ideais almejados e devidamente incentivados, ou seja, são belezas comerciais que vendem os mais variados produtos e serviços, desde a maquiagem a cirurgia plástica.
Os tratamentos do transtorno são realizados de forma multidisciplinar: por: Psicólogos, nutricionistas, endocrinologistas e profissionais de Educação Física dentre outros especialistas. Quanto ao processo terapêutico, inicialmente realiza-se uma investigação através da história de vida do sujeito e qual a função do comportamento apresentado, quais são as contingências de reforço que mantém este comportamento, seja este reforço de satisfação pessoal, de se sentir pertencente aos padrões estéticos exigidos pela sociedade que faz parte, tentar satisfazer os desejos de outra pessoa em detrimento da sua. Enfim dependerá de como o repertório comportamental deste sujeito foi desenvolvido.
 Após estes dados coletados, o processo interventivo terá um direcionamento de acordo com as necessidades de cada indivíduo, seguido da prevenção de recaídas, e supervisões periódicas (bimestrais, depois semestrais enfim anuais, variando de sujeito para sujeito) até o encerramento do processo.
Para finalizar venho deixar claro que este texto tem um caráter informativo e que busca esclarecer dúvidas a respeito de comportamentos que trazem prejuízos ao sujeito em relação a alcançar padrões inatingíveis de beleza. Não discordo em momento algum dos benefícios do exercício físico, cirurgias plásticas, procedimentos estéticos e dietas balanceadas sendo bem orientadas pelos profissionais competentes, lembrando sempre, de procurar referências de procedimentos realizados anteriormente por estes profissionais. Apenas desejo que você olhe no “espelho, espelho seu” e saiba que é o mais belo/a pelo o que você é. Para que você não precise tomar nenhuma atitude extrema como a madrasta da branca de neve. Obrigada pela leitura e até nosso próximo belo encontro, aqui no Além da Caixa.
 
 

 
Cinthia Rafaelle Ferreira Lima.
CRP15/ 3287
Psicóloga Clínica Comportamental

Além da Caixa

O Além da Caixa é um espaço para a discussão dos mais diversificados temas sob a ótica da psicologia do comportamento. De maneira direta e com uma linguagem clara falaremos ao público em geral, mas sem destoar dos princípios da Psicologia Científica.
Seus responsáveis são os psicólogos comportamentais Cinthia Ferreira CRP 15/3287, Jacinto Neto CRP 15/3274, Jackelline Lima CRP 15/3275 e Renata Lopes CRP 15/3296, graduados em Psicologia pela Universidade Federal de Alagoas e pós graduação em Análise do Comportamento.
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